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Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas

24/07/14 às 16:59 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas

O curador do Festival de Paulínia, Rubens Ewald Filho, já havia adiantado: “vocês nunca viram um filme como esse”. Realmente, um fator que salta aos olhos em Sinfonia da Necrópole, primeiro longa-metragem solo de Juliana Rojas, é a sua originalidade. Filmada majoritariamente dentro de um cemitério de São Paulo, a obra é uma comédia musical com toques de suspense e terror.

Deodato (Eduardo Gomes), o protagonista da trama, ganha uma chance como aprendiz de coveiro graças à indicação do tio, já experiente na função. Com dificuldades para se adaptar ao trabalho, ele só se motiva quando uma nova funcionária chega para cuidar do recadastramento de túmulos do cemitério. A função dela é fazer com que o local tenha espaço para abrigar os futuros mortos.

Já a partir do título é possível traçar um paralelo da necrópole (o cemitério) com a metrópole (no caso, a cidade de São Paulo). A reestruturação do local serve como metáfora para o que acontece em municípios com crescimento urbano desenfreado. A verticalização trazida pelos arranha-céus ganha correspondente nas modernas torres de caixões; os mortos mais pobres têm seus direitos infringidos, fato que poderia ser estendido para seus familiares; as mudanças ocorrem por ordens superiores arbitrárias; e assim por diante.

Esta questão social aparece nas entrelinhas, por exemplo, em planos que contrapõem os prédios e as lápides. Não há, nem de longe, uma crítica panfletária, que precise gritar para chamar atenção para si. Tudo se resolve no âmbito cinematográfico, até porque o filme é, em sua essência, uma deliciosa comédia que subverte a habitual imagem sombria dos cemitérios e faz o espectador rir com tiradas leves e certeiras (“Malditos góticos!” e “Isso não é da nossa ossada” são frases que representam bem o tipo de humor do filme).

A música, que já havia ganhado importância em outros filmes do coletivo Filmes do Caixote, surge agora como um guia da narrativa, em canções que, assim como todo o filme, geram um estranhamento inicial, mas depois se revelam envolventes. Entre as canções, criadas pela própria diretora e por Marco Dutra, se destacam o samba inicial, no qual o som das pás dos coveiros se junta à introdução da música, e aquela cantada no interior de um carro, em cena em que os pingos de chuva são sincronizados ao som de um piano.

A escolha por uma forma de atuação não naturalista ajuda a dar um tom leve à narrativa, acentuado por personagens excêntricos como o padre que gosta de comer hóstias não abençoadas e o senhor obcecado por garantir um lugar para si no cemitério.

Combinando originalidade, crítica e bom-humor, Sinfonia da Necrópole confirma Juliana Rojas e o coletivo Filmes do Caixote entre os nomes mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo. Resta-nos esperar (e nos surpreender) com o que virá pela frente no trabalho desses realizadores

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

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