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Armadilha, de Brillante Mendoza

22/10/15 às 09:00 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Armadilha, de Brillante Mendoza

Em novembro de 2013, uma área de baixa pressão atmosférica e maior temperatura começou a se formar no Pacífico sul, nas costas de uma área insular que hoje conhecemos como Micronésia. A perturbação gera ventos intensos e pode crescer exponencialmente, configurando os chamados “ciclones tropicais”. Foi o que aconteceu. O supertufão Hayan é o ciclone mais forte já registrado na história e destruiu a cidade de Tacloban, na ilha de Leyte, nas Filipinas. Armadilha, de Brillante Mendoza, aborda tais efeitos no que seria um cotidiano pós-apocalíptico, onde Bebeth, Larry e Erwin se cruzarão.

É comum filmes que retratam desastres naturais priorizarem o espetáculo (a iminência, o desespero, a hora “h”, a fuga). Já Armadilha, Menção Honrosa no Juri Ecumênico de Cannes, escolhe mostrar a rotina da cidade após a passagem do Hayan. O argumento quer construir a imagem da árdua tarefa de reconstrução em meio ao caos. Por si só, a opção rende reflexões frescas, revela dificuldades nem sempre imaginadas pelos que estão olhando de longe. Permite saber, por exemplo, que um espaço tomado por barracos, sem energia elétrica, induz ao uso de lâmpadas de querosene, o que aumenta a probabilidade de incêndios. Em países pobres, sobretudo, uma quantidade significativa de pessoas morre após o cataclismo – devido a condições desassistidas – e não durante ele. A câmera de Mendoza, interessada no drama humano, chegará perto de quem vive essas aflições.

A devastação do lugar onde você vive – do seu bairro, da sua rua e da sua moradia – somada à perda dos pertences, do dinheiro e do emprego representam baixas na dimensão material da vida. Parentes e amigos mortos em desastres, por sua vez, maculam a dimensão afetiva de quem sobreviveu. Por uma abordagem psicanalítica, é razoável supor que a derrocada desses dois planos atinge uma terceira dimensão ainda mais importante: a existencial. O que significa “perder tudo”? Nesse caso, “perder tudo” é perder-se, é ter subtrações suficientes para que sua própria identidade seja abalada.

O personagem que melhor representa essa acepção, segundo a qual a vida perde sentido, é Renato – brilhantemente interpretado por Lou Veloso. É difícil não encará-lo como ícone da inconformidade, uma reação recorrente a esse tipo de tragédia. Contudo, o erguer das queixas revoltosas – “Por que eu? Por que comigo? Por que conosco?” – não exagera o tom do melodrama. O olhar de Mendoza é panorâmico. Se Renato está se entregando, os outros protagonistas gozam de registro diferente. O núcleo formado por Bebeth (Nora Aunor, uma espécie de Fernanda Montenegro das Filipinas) e sua filha Angela (Shine Santos), em especial, se destaca por elas se manterem bem e ainda conseguirem ajudar os mais necessitados.

São partes de um mosaico de possibilidades no curso da vida após um acontecimento dessa magnitude. Armadilha, ao focar no tempo posterior, nas providências, traz à tona a força de uma situação paradoxal: o momento de maior fragilidade é justo aquele que exige mais determinação, resistência e solidariedade.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

>>> Acompanhe nossa cobertura para a 39ª Mostra de São Paulo

 

Sessões de Armadilha na 39ª Mostra de São Paulo

– Dia 23/10 – 14h – CINESALA

– Dia 25/10 – 14h – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA 1

– Dia 28/10 – 17h45 – RESERVA CULTURAL 2

– Dia 29/10 – 13h30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 3

– Dia 01/11 – 20h – CINEARTE 1

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