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Aferim!, de Radu Jude

26/10/15 às 18:07 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Aferim!, de Radu Jude

Irônico como seu título, expressão turca que significa “bravo!”, Aferim! é um filme histórico que, ao flertar com um humor ácido, revela-se uma interessante crítica social. Dirigida pelo romeno Radu Jude, vencedor do Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim, a coprodução romeno-búlgaro-tcheca remonta de forma criativa à primeira metade do século XIX na Valáquia, época em que a região da atual Romênia ainda era repleta de resquícios hierárquicos feudais, um contexto intensificador de preconceitos culturais existentes até hoje.

Ao estilo road movie à cavalo, o guarda Constandin (Teodor Corban), acompanhado de seu filho, percorre trajetos pouco habitados em busca do escravo Carfin (Toma Cuzin), foragido devido a um caso que teve com a esposa de Iordache (Alexandru Dabija), boiardo (alto título de nobreza) ao qual obedecem.

Como toda boa história do gênero, sua intensidade se dá muito mais através do caminho do que do objetivo final. Filmados sob uma bela estética monocromática, bastante contrastada e ruidosa, os planos longos e abertos exibem a paisagem desbravada pela dupla, algo adotado também durante muitos diálogos, fazendo com que o som se assemelhe à uma voz off devido à distância em que se encontra a câmera. Durante o percurso, se deparam com diversas figuras icônicas da sociedade da época, expondo, através de inusitadas conversas, os preconceitos existentes entre as diferentes classes.

Além de explorar tal “catalogação social”, Jude foca no principal aspecto capaz de invalidar esse tipo de padrão: a cômica falta de justificativas consistentes. Principalmente embasados na religião cristã, os argumentos passam a construir estereótipos irracionais, como na cena em que um padre desabafa enfurecido sobre qual seria o destino estabelecido por Deus a nacionalidades e raças inteiras, como os escravos, que seriam destinados a sofrer.

As opiniões se tornam ainda mais questionáveis através das diferenças de comportamento dos protagonistas no público e no privado. Com frequência, Constandin se serve naturalmente de uma máscara social a cada encontro, seja ela a do guarda autoritário ou do homem temente às autoridades religiosas, deixada de lado sempre que volta a estar somente na companhia do filho.

Após a captura de Carfin, as consequências da existência destas castas se torna gradualmente mais dramática e palpável, uma vez que a discreta amizade que cresce entre o guarda e o escravo se choca com a violência maquiavélica com que Iordache os recebe, mostrando-se a personificação de um machismo disforme e desenfreado.

Os questionamentos feitos pelos personagens durante o filme, acompanhados de seu inevitável comodismo, mostram o potencial que a discriminação tem, por mais absurda que seja, de perdurar durante os anos. Na Romênia atual, os ciganos da etnia Rom, escravos de outrora, representam 10% da população do país e são a maior minoria da Europa quando considerados em sua totalidade também em outros lugares. Apesar de sua relevância, seguem vítimas de forte preconceito em suas tentativas de inserção na sociedade, principalmente devido à cor da pele, mais escura que a dos romenos.

Essa situação, familiar em muitos outros países, inclusive no Brasil, faz de Aferim! um filme universal, mesmo tratando de algo aparentemente tão antigo e específico, o que possibilita que ganhe visibilidade mundial através da difusão de sua própria cultura de origem, até então pouco conhecida.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

Sessões de Aferim! na 39ª Mostra de São Paulo

Dia 27/10 – 21h20 – CINESALA

Dia 02/11 – 20:00 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA 1

Dia 04/11 – 21h45 – CINEARTE 1

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