Costuma-se atribuir, equivocadamente, um caráter sempre negativo à palavra pretensão. Há inúmeros filmes pretensiosos que são obras-primas justamente por conseguirem lidar satisfatoriamente com os temas que desejam tratar. Definitivamente, esse não é o caso de Neblina, documentário exibido na competição do Festival de Paulínia que, dessa vez sim, tem como grande defeito a sua gigantesca pretensão.
A abertura se dá com um vídeo antigo falando sobre o mundo pós-nuclear com um tom irônico e pessimista. Demora um tempo para finalmente entendermos aquilo que estamos assistindo: trata-se de uma obra que parte da vila de Paranapiacaba – local que abrigou uma das mais antigas estações ferroviárias do Brasil e que hoje encontra-se em situação de abandono – e tenta formular uma tese filosófica e sociológica sobre os mais variados temas da sociedade atual.
O principal problema, entre os muitos que o filme possui, é a ausência quase completa de reflexão sobre o que está sendo dito. A insistente e monocórdica voz em off da diretora comenta quase todo o filme e serve apenas como meio para que um discurso pré-definido seja transmitido ao espectador. A impressão é de se estar assistindo a uma aula de história do ensino fundamental, daquelas em que o didatismo e a falta de convite ao pensamento crítico beiram o insuportável.
A pesquisa de imagens de arquivo sobre diferentes períodos da história mundial é louvável, mas não há uma efetiva montagem cinematográfica que possa trazer interesse àquilo que está sendo dito. As entrevistas com moradores de Paranapiacaba têm como mérito mostrar a consciência histórica dos habitantes sobre o local em que vivem, mas surgem deslocadas em meio a um filme que atira para todos os lados e não consegue acertar nenhum alvo.
Em um festival com importância no circuito brasileiro, a seleção de Neblina para a mostra competitiva surge como uma aberração. Parece clara a intenção do evento em dar visibilidade a um trabalho produzido no polo cinematográfico da cidade, mas seria mais honesto e condizente com a pretensão do festival exibir esse filme fora da competição.
Nota: 3,0/10 (Ruim)