Principal festival com foco no cinema independente brasileiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes ocorreu em 2014 entre os dias 24 de janeiro e 1º de fevereiro. O Cine Festivais esteve presente no evento mineiro, que terá, entre os dias 24 e 30 de março, uma edição reduzida em São Paulo com a exibição de 14 longas e 25 curtas-metragens. Recomendamos a seguir cinco filmes que serão exibidos a partir desta segunda-feira (24) na tela do Cinesesc (Rua Augusta, 2075) – confira a programação completa aqui.
5 – Aquilo que Fazemos com as Nossas Desgraças, de Arthur Tuoto
Não há créditos nem ao começo nem ao final desse filme do paranaense Arthur Tuoto. Nenhuma imagem que aparece na tela foi captada por Tuoto, que utilizou material de diversas origens (celulares, filmes, programas de TV, câmeras de vigilância). Através da montagem, ele criou uma narrativa fragmentada que parte de uma fábula dos Monstros, descrevendo a condição humana a partir de uma percepção trágica e desoladora.
O modo de realização do filme levanta questões sobre o significado da autoria em uma época em que todos podem produzir imagens a qualquer momento. Nesse sentido, a obra de Tuoto se coloca contra a idealização do autor cinematográfico e traz elementos para uma discussão maior sobre este assunto.
Sessão na Mostra de Tiradentes em São Paulo:
– 28/3, sexta, às 17h
4 – E, de Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos
Eleito pelo júri da crítica o melhor curta-metragem da Mostra Foco em Tiradentes e selecionado para o festival É Tudo Verdade, esse documentário paulista faz uma abordagem curiosa sobre a mudança urbanística da cidade de São Paulo ao enfocar as construções de estacionamentos em locais que antes serviam para a circulação e encontro de pessoas, como uma sala de cinema. A especulação imobiliária, tão discutida no recente cinema pernambucano, é um dos alvos críticos do filme.
Sessão na Mostra de Tiradentes em São Paulo:
– 26/3, quarta, às 21h (sessão de curtas)
3 – Amor, Plástico e Barulho, de Renata Pinheiro
Há quem apontou uma influência do clássico A Malvada, de Joseph Mankiewicz, nessa história de duas cantoras de música brega que lutam para obter (ou para manter) o sucesso em uma indústria em que a efemeridade predomina.
A riqueza do longa-metragem de estreia de Renata Pinheiro, porém, está na imersão ao mesmo tempo acolhedora e crítica que ele realiza nesse universo, contando com atuações inspiradas de Nash Laila e, especialmente, Maeve Jinkings.
Sessão na Mostra de Tiradentes em São Paulo:
– 27/3, quinta, às 19h
2 – A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa
O filme de Uchoa foi o grande vencedor da Mostra de Tiradentes, sendo eleito o melhor filme da Mostra Aurora (seção competitiva para realizadores em início de carreira) pelos júris jovem e da crítica. A ficcionalização da vida de jovens da periferia da cidade mineira de Contagem, que foram filmados ao longo de cinco anos e participaram da feitura do roteiro, é extremamente instigante e original, resultando na construção de um discurso narrativo no qual a violência fica implícita no ambiente e nas ações dos personagens, ao contrário do que acontece em boa parte dos filmes brasileiros que falam sobre assuntos semelhantes.
Sessão na Mostra de Tiradentes em São Paulo:
– 24/3, segunda, às 20h30
1 – Branco Sai Preto Fica, de Adirley Queirós
Adirley Queirós venceu a Mostra de Tiradentes em 2012 com o seu primeiro longa-metragem, A Cidade é Uma Só?. Dois anos depois, o cineasta de Ceilândia (DF) voltou ao festival mineiro com Branco Sai Preto Fica, filme que traz características semelhantes ao anterior (hibridismo entre ficção e documentário, acerto de contas com o passado, discurso afirmativo de uma população e de uma localidade, reflexão sobre a exclusão social e política), mas que radicaliza – no bom sentido – esse discurso.
A obra, que recebeu menções honrosas dos júris jovem e da crítica em Tiradentes, parte de uma história real (a violência policial que vitimou dois participantes de um famoso baile black no DF dos anos 80) para propor um diálogo bem-sucedido com a ficção científica, tendo como pano de fundo a exclusão imposta aos pobres e aos negros nas redondezas da capital federal – algo que pode ser estendido para todo o país. É um filme forte, que provocou catarse coletiva no público de Tiradentes e merece um lugar de destaque na recente cinematografia brasileira.
Sessão na Mostra de Tiradentes em São Paulo:
– 30/3, domingo, às 19h