Inspirada pela série “materials”, realizada pelo blog do festival austríaco Viennale, #criações tem como objetivo recolher diretamente com cineastas quaisquer tipos de arquivos (livros, fotos, vídeos, clipes, citações, histórias, etc.) que influenciaram seus processos criativos e/ou que documentam a produção de seus filmes.
A segunda convidada da série é a cineasta Letícia Simões, de Casa, vencedor do Prêmio da Crítica no 8º Olhar de Cinema, em 2019, e atualmente disponível nas plataformas digitais Now, VivoPlay e OiPlay,
Abaixo, Letícia conta sobre os materiais enviados (um texto em que vislumbrava a sequência inicial do filme e uma canção que esteve por muito tempo presente, mas não entrou no corte final da obra).
Gostaria de enviar este material. Foi um exercício audiovisual proposto por uma das minhas professoras em Cuba. Ela nos pediu para imaginar como seria a primeira cena do nosso filme e escrevê-la. Eis o resultado.
“A imagem abre para a praia do Porto da Barra, num dia de sol forte, céu azulíssimo e água cristalina.
Ouvimos vozes de pessoas: é um dia de praia cheia. Há ruídos da cidade, gritos de pessoas que vendem queijo, camarão, bebidas. Canções.
Todavia, a câmera, que mirava a água, corta para dois corpos, deitados na areia. São duas mulheres e estão próximas. De costas. Parecem imunes ao caos. O movimento de recorte da câmera faz com que o barulho da praia cesse.
As ondas vão e vêm, tocando-os.
Agora, as vemos de costas, os cabelos negros e cheios, mirando a água.
A água continua a invadir o espaço das duas – agora, a água sobe até os joelhos. Elas não se importam.
A água do mar termina por tomá-las por inteiro e invadir o quadro. Seus cabelos, negros e cacheados, balançam junto às ondas do mar.
Escutamos apenas o barulho do vento e as ondas que arrebentam mas, agora, já muito longe.”
A imagem se tornou, efetivamente, um momento do encontro dos pés na água, que está no filme.
Também gostaria de revelar que, durante muito, mas muito tempo mesmo, a música final não era a de minha composição/voz, mas sim Jokerman, na versão de Caetano:
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