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Queria quebrar essa imagem solene dos cemitérios, diz diretora de musical

25/07/14 às 12:27 Atualizado em 21/10/19 as 23:08
Queria quebrar essa imagem solene dos cemitérios, diz diretora de musical

A diretora Juliana Rojas provocou risadas involuntárias na plateia do Festival de Paulínia ao dizer que gostava de passear por cemitérios. A atração por esses locais “agradáveis” e “tranquilos” foi um dos motivos que a levou a fazer o filme Sinfonia da Necrópole, seu primeiro longa-metragem solo, que também foi selecionado para o Festival de Cinema de Gramado.

O mesmo estranhamento gerado pela afirmação da cineasta pode ser constatado, a princípio, com o modo que ela escolheu para contar essa história: em vez de focar no sobrenatural geralmente associado aos cemitérios, Juliana fez uma comédia musical com canções que guiam a narrativa.

“O cemitério tem essa coisa meio delicada por lidar com crenças e com o desconhecido. Eu queria quebrar essa imagem solene que vem à cabeça das pessoas quando pensam nesse local. Escolhi o musical para romper com isso. Achei que seria uma maneira mais lúdica de fazer o espectador aceitar que aquilo era uma ficção e entrar nessa história. O mesmo vale para o uso da comédia”, explica a diretora.

A julgar pela reação da plateia ao primeiro contato com o filme, é possível dizer que a intenção de Juliana foi alcançada. O filme provocou risadas no público de Paulínia e foi muito aplaudido ao final da exibição. O trabalho também foi bem recebido pela maior parte da crítica (leia texto sobre o filme).

Em entrevista ao Cine Festivais, Juliana falou sobre o seu processo de criação, comentou sobre os desdobramentos sociais trazidos pelo filme e listou as referências que a influenciaram no trabalho. Leia a seguir a entrevista completa.

 

Cine Festivais: Você disse durante a apresentação do filme que gosta de andar por cemitérios. O que lhe atrai nesses lugares?

Juliana Rojas: Eu gosto, em parte, por ser um local agradável e tranquilo, bom para passear e pensar. Mas também me interesso porque, se você prestar atenção, no cemitério você entende um pouco a história de cada cidade: descobre desde quando ela existe, enxerga as diferenças sociais por meio dos diferentes tipos de túmulos que há nos cemitérios, vê – por meio dos memoriais – se houve alguma guerra naquele local. Eu me interesso por isso.

Quando vou para outros países tento ver o que tem de diferente nos cemitérios, tenho uma atração pelo espaço. E por morar perto de um cemitério em São Paulo, você começa a ver o local com outros olhos, repara nas pessoas que trabalham lá, descobre que há toda uma organização de trabalho para aquele lugar funcionar. Por isso quis fazer uma história que se passasse lá.

 

CF: Como surgiu essa história e qual foi o processo de criação?

JR: Eu sabia dessa história da cidade natal da minha mãe, São Vicente de Minas, em que a população cresceu e não tinha mais espaço no cemitério para enterrar todo mundo. Isso virou um problema, tinha até uma pessoa com medo de morrer e não ter espaço para ser enterrada.

Dei uma pesquisada e descobri que que em todos os cemitérios ocorre em algum momento esse problema de falta de túmulo e há a necessidade de um processo de recadastramento para que aquilo que está abandonado seja remanejado e abra espaço para novos túmulos. Relacionei isso com esse processo de reurbanização que está acontecendo nas grandes cidades.

Por causa da necessidade de crescimento, esse processo afeta muitas vezes a história arquitetônica da cidade, derruba prédios, muda a cara do local e acaba prejudicando quem tem menos poder econômico. Aí achei que contando essa história o espectador faria essa ponte e teria essa reflexão sobre a cidade também

 

CF: É daí que vem o nome do filme?

JR: Também. Relacionar a necrópole (cemitério) com a cidade é importante para a compreensão do filme. Mas o título também é uma referência ao filme São Paulo: Sinfonia da Metrópole, importante documentário experimental dos anos 20, feito na época da modernização de São Paulo. Esse filme, por sua vez, é inspirado em um trabalho alemão chamado Berlim: Sinfonia de Uma Metrópole.

 

CF: A ideia de fazer um musical veio desde o começo do projeto?

JR: O cemitério tem essa coisa meio delicada por lidar com crenças e com o desconhecido. Eu queria quebrar essa imagem solene que vem à cabeça das pessoas quando pensam nesse local. Escolhi o musical para romper com isso. Achei que seria uma maneira mais lúdica de fazer o espectador aceitar que aquilo era uma ficção e entrar nessa história. O mesmo vale para o uso da comédia

 

CF: Tem algum tipo de musical que você mais goste ou que tenha inspirado esse filme?

JR: Eu gosto muito dos musicais do Fred Astaire e da Ginger Rogers dos anos 30 e 40. Tem também os musicais da Disney, animações que usam as canções para contar a história, o que eu acho muito legal, e também fazem uma mistura de gêneros como a comédia e o fantástico. Outras influências foram a maneira como as canções são utilizadas no teatro épico, principalmente do Brecht, e as canções do Kurt Weill.

 

CF: O filme Sinfonia da Necrópole já havia sido exibido como um média-metragem na TV Cultura. Como se deu esse processo de transformação para um longa-metragem?

JR: O filme foi pensado para ser um longa-metragem, só que foi viabilizado por um edital de telefilme. Então já filmei pensando em duas obras diferentes, uma para esse edital de média-metragem e outra como um longa-metragem. A versão da TV não tem todos os personagens nem todas as músicas, e possui uma linguagem mais própria para telefilme. Já o longa tem uma articulação e uma montagem que são próprias para o cinema.

 

CF: O que achou da reação da plateia do Festival de Paulínia ao filme?

JR: Essa foi a primeira vez que faço um filme que é mais próximo do registro da comédia, então estava ansiosa para saber como seria a reação, porque o humor é meio subjetivo. Fiquei feliz porque a plateia reagiu muito calorosamente ao filme. Também tinha receio sobre a aceitação do gênero musical, mas senti que as pessoas embarcaram no filme.

 

CF: Quais são os seus próximos projetos?

JR: Vou fazer um filme de terror em codireção com o Marco Dutra, que se chama As Boas Maneiras. Também tenho um projeto com a Avoa Filmes que é mais experimental e se chama Wild Track. Será um filme mais experimental, de dramaturgia colaborativa, que estamos tentando viabilizar.

 

Foto: Aline Arruda

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