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Ela Volta na Quinta, de André Novais Oliveira

23/09/14 às 18:28 Atualizado em 11/10/19 as 11:54
Ela Volta na Quinta, de André Novais Oliveira

Temas grandiosos e espetaculosos não têm vez no cinema de André Novais Oliveira. A ele interessa mais as amenidades, o registro em tom menor de situações tangíveis a qualquer ser humano: a obsessão pela ex-namorada, em Fantasmas; as dúvidas do início de um relacionamento, em Pouco Mais de Um Mês; e, mais recentemente, o desgaste de um casamento de mais de três décadas em Ela Volta na Quinta, primeiro longa-metragem do cineasta, que foi exibido pela primeira vez no Brasil na mostra competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Essa busca pelo naturalismo e pela intimidade levou o diretor a reunir a própria família no elenco desta nova empreitada: seu pai e sua mãe são os protagonistas, enquanto os dois irmãos (um deles o próprio André) e suas namoradas também fazem parte do elenco. Embora utilizando seus nomes reais, os atores seguem uma trama ficcional – há traços autobiográficos, mas eles não se impõem como uma questão no filme.

As fotos que aparecem na sequência inicial do longa-metragem trazem a nostalgia e o peso do passado para um momento em que o casamento entre Norberto e Zezé está prestes a chegar ao fim. Eles sabem disso, mas têm dificuldade de romper este laço tão forte. Assim, em vez de brigas ou discussões em altos brados, o que há são pequenos sinais, como os cobertores separados na cama de casal e a falta de diálogo entre eles percebida pelos filhos.

Assim como os pais, os filhos têm conflitos com as suas parceiras. André não chega a um consenso sobre uma desejada mudança de apartamento e Renato discute sobre a possibilidade de casar e ter filhos com a namorada. São conflitos que guiam a história e ao mesmo tempo negam a perspectiva de que tudo é bom nos tempos da juventude.

O filme faz uso de planos longos e fixos que ajudam na construção de um tempo narrativo particular. Um exemplo se dá na cena em que o casal mais velho dança ao som de Olha, de Roberto Carlos. No primeiro momento, a câmera bota os dois personagens afastados um do outro, com a TV situada no lado direito. Não à toa, são mostradas cenas do Canal Viva, que reprisa programas exibidos décadas atrás: é um indício de uma retomada esporádica de um passado nostálgico, que pode ser experimentado por ao menos alguns segundos. O presente, através da tecnologia (TV e notebook), é capaz de relembrar, mas nunca de recuperar aquilo que foi vivido.

Outra característica formal do cinema do diretor é a recusa do tradicional plano-contraplano e o uso do que está fora de campo na construção da narrativa, o que instiga o espectador a ter um papel mais ativo na construção dos significados da obra. Este recurso não tem a mesma força em todas as situações (a cena com o irmão é menos potente), mas é importante em cenas como a que a mãe, deitada na cama, lembra-se do seu pai para falar sobre como é importante as pessoas fazerem aquilo que gostam. Ali, sem aparecer em tela, André pode ser sentido como personagem e também como indivíduo que está realizando o que gosta (filmar) justamente naquele momento.

Assim como em Pouco Mais de Um Mês, a cama é vista como local de diálogo e resolução de conflitos entre casais. Em uma dessas situações, no escuro, Norberto e Zezé discutem sobre a necessidade de conserto de uma parede, mas o que fica implícito é o fim iminente daquela relação. Está ali o resumo do que é Ela Volta Na Quinta: um filme simples, mas sofisticado, que confirma a ascensão de um realizador notável.

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