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Curta-metragem oferece visão desglamorizada de Campos de Jordão

25/08/14 às 14:29 Atualizado em 20/11/19 as 15:20
Curta-metragem oferece visão desglamorizada de Campos de Jordão

Natural de Taubaté, o ator e diretor Renan Rovida foi algumas vezes a Campos do Jordão, cidade da mesma região do estado de São Paulo. Este conhecimento prévio ajudou na escolha da localidade como palco do filme Coice no Peito, que está na programação do 25º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

“Sempre tive para mim essa contradição que Campos do Jordão estabelece com a própria população”, contou Renan em entrevista ao Cine Festivais. “A escolha por filmar em preto e branco reflete um pouco a visão que os trabalhadores têm daquela cidade, que não oferece nada de cor para eles e oprime quem vive e trabalha ali, quem não é turista.”

O protagonista Dito, interpretado pelo próprio Renan, é um condutor de charrete que vive mais um dia de trabalho, que seria igual a tantos outros se não fosse por uma tragédia pessoal.

O filme, que foi financiado coletivamente, fez a sua estreia na Mostra de Tiradentes deste ano, na qual recebeu uma menção honrosa do júri oficial, e também foi premiado no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba com o troféu do público.

Além de ser exibido no Festival de Curtas de São Paulo, Coice no Peito irá fazer parte da programação do 16º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte e do 1º Festival Internacional de Cinema de Caracas (Venezuela), que acontecem em setembro.

Leia a seguir a entrevista que o Cine Festivais realizou com o diretor e ator Renan Rovida.

Cine Festivais: Como ocorreu a ideia para fazer Coice no Peito?

Renan Rovida: O filme é inspirado no conto Angústia, de Anton Tchekhov. Fui presenteado com esse texto por um amigo e tive a ideia de trazer essa história para o Brasil, com o intuito de discutir um pouco essa coisa do empreendedorismo.

Dito (o personagem principal) é um empreendedor individual, autônomo, e essa tragédia que acontece revela para ele mesmo que está sozinho, longe até mesmo das pessoas da classe dele, porque essa ideologia do empreendedorismo acaba te individualizando ao máximo. Foi a partir dessa ideia que o filme foi sendo criado.

CF: Por que você optou por filmar em preto e branco?

RR: Campos do Jordão é uma cidade muito colorida, com uma coloração quase artificial, e eu achava que devia adotar um ponto de vista próximo ao do Dito. A escolha por filmar em preto e branco reflete um pouco a visão que os trabalhadores têm daquela cidade, que não oferece nada de cor para eles e oprime quem vive e trabalha ali, quem não é turista.

Além disso, essa escolha traz uma contradição temporal, porque o preto e branco ainda está ligado em nosso imaginário a algo que é velho, e essa tensão entre o antigo e o novo acontece o tempo todo no filme.

A profissão de charreteiro, que é antiga, é realizada em uma cidade turística do século XXI na qual as pessoas vão ali para consumir. Ao mesmo tempo, o Dito explora esse lado exótico da profissão para ganhar dinheiro. Então eu acho que o preto e branco reforça essa tensão entre diferentes tempos.

CF: Os personagens que encontram o protagonista são representantes de diferentes classes sociais. Você pensou nisso para fazer o filme?

RR: Acho que esses personagens são quase que porta-vozes de uma ideologia, às vezes sem saber disso. O filme trata muito da questão de ouvir o outro, e o personagem do militar não ouve o Dito, apenas tem uma relação de consumo com a charrete.

Também aparecem um turista; trabalhadores fantasiados, que reproduzem essa relação criada pelo turismo e, consequentemente, a coisificação do Dito; e depois ele tem o único encontro com alguém de sua classe, no tempo que tem para fumar um cigarro, e mesmo assim ele não consegue falar tudo para o cara, porque, ao meu ver, ele não se identifica mais com a própria classe dele. Finalmente, o cavalo que estava trabalhando com ele é o único que consegue ouvi-lo. A natureza vem desnaturalizar algo que é esse individualismo causado pelo próprio sistema em que o Dito esta inserido.

CF: Qual é a importância de exibir o filme no Festival de Curtas de São Paulo?

RR: Sou do interior de São Paulo, de Taubaté, e parte dessa adaptação que eu fiz para Campos do Jordão ocorreu porque eu conhecia bem aquela região. Sempre tive para mim essa contradição que Campos do Jordão estabelece com a própria população.

Moro em São Paulo há dez anos e acho ótimo ter três exibições do filme aqui. Vamos divulgar ao máximo para que o maior número de pessoas possa ir às sessões.

CF: Você já possui um novo projeto de curta-metragem?

RR: Sim. Começamos o processo do filme com a escolha das atrizes, antes mesmo da escrita do roteiro, e fizemos um processo colaborativo em que elas traziam propostas e íamos escrevendo o filme. Será um filme sobre empreendedorismo feminino que esperamos poder filmar no ano que vem.

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