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Cannes: glamour e cinema

17/05/14 às 17:42 Atualizado em 18/05/14 as 19:48
Cannes: glamour e cinema

Em todo mês de maio, a cidade de Cannes, no sul da França, marca presença perfumada no imaginário dos cinéfilos do mundo inteiro. Envolto no clima mediterrâneo e no charme que cerca a Croisette, famosa avenida local à beira da praia, o Festival de Cannes conquistou uma grife nada comum. Enquanto cenário luxuoso e requintado, é plataforma para que os talentos da sétima arte se envaideçam, desfilando seus melhores trajes, exibindo as parcerias de sucesso, respondendo de boca cheia às questões sobre sua obra ou autoproclamando seu cinema, que ali está sob os refletores do prestígio. Mas, ao longo dos anos, o evento também se tornou símbolo da alta cultura cinematográfica por atuar como reconhecedor de talentos transformadores, genialidades e obras experimentais.

>>> Relembre os filmes que estão na disputa pela Palma de Ouro em 2014

 

Brota o Red Carpet francês

Apesar de o primeiro Festival de Cannes datar de 20 de Setembro de 1946, a ideia de criá-lo já fervilhava há tempos. Louis Lumière, um dos pais do cinema, aceita presidir uma primeira edição prevista para 1939. O intuito de Jean Zay (Ministro da Instrução Pública e das Belas Artes, principal idealizador de Cannes) era, por meio de uma seleção independente, rivalizar com o Festival de Veneza, na época turvado pela influência do governo fascista italiano. Foi a eclosão da 2ª Guerra Mundial que impediu os planos, só retomados em 1946, quando o Festival estreou em um antigo cassino da cidade.

Os primeiros anos foram tomados por alterações estruturais, como a criação da Palma de Ouro (que contemplaria o Melhor Filme da competição), e crescimento institucional, apesar de crises financeiras – os festivais de 1948 e 1950, por exemplo, não aconteceram por falta de recursos. Porém, principalmente a partir da década de 60, as celebridades do mundo do cinema trariam fama e glamour ao festival. Foram várias as vezes em que o tapete vermelho de Cannes serviu à passagem de astros como os franceses Alain Delon e Brigitte Bardot e os americanos Cary Grant e Kirk Douglas.

Hoje, Cannes é considerado o melhor festival de cinema por boa parte dos cinéfilos e críticos. Conta com produção orçada em 20 milhões de euros, decorrentes de fundos públicos do Ministério da Cultura francês, da cidade de Cannes, de conselhos oficiais e de parcerias com instituições privadas. A direção do festival circula, há décadas, entre administradores de uma mesma equipe. Em janeiro, Gilles Jacob anunciou que o evento de 2014 será o seu último como presidente. Ele será sucedido por Pierre Lescure após ter ocupado o cargo durante 13 anos. Antes dele, Pierre Vlot cuidou de Cannes de 1985 a 1999. São rostos fortes na trajetória do festival até aqui.

 

Além dos trajes de gala; a preciosa reunião de estéticas

Outros festivais, mostras e premiações também souberam associar sua marca a gravatas e vestidos cerimoniosos ou à potência midiática da promoção de um evento do gênero. Mas o que fez Cannes ocupar lugar diferenciado na promoção da cultura cinematográfica foi o espaço dado a diversas estéticas, diversificando anualmente a composição de seu júri e premiando autores de diversas nacionalidades. Ainda assim, os Estados Unidos são o maior vencedor de Palmas de Ouro (12), seguido por Itália e França (5 cada). Contudo, à cinefilia, importa mais constatar que, em Cannes, reconhece-se o que passa longe de premiações como o Oscar: da descontiguidade de Apichatpong Weerasethakul (Tio Boonmee…) à câmera indiscreta de Azul é a Cor Mais Quente (de Abdellatif Kechiche), só para citar exemplos mais recentes.

A Câmera de Ouro (para o melhor primeiro filme), a Semana Internacional da Crítica e a Quinzena dos Realizadores são outras ações que dinamizam a cidade francesa no período do festival, compondo um modelo de exibição e premiação que inspirou mostras competitivas pelo mundo todo.

Lars fez graça com a polêmica que se envolveu em 2011

 

Vaias e polêmicas

Apesar de todas as honrarias e agrados, submeter a primeira exibição de seu filme ao crivo da plateia especializada de Cannes muitas vezes acaba mal. Tanto na abertura do festival quanto nas sessões de longas em competição, vaiar filmes que não agradaram já virou tradição. O dinamarquês Nicolas Winding Refn, por exemplo, ganhou o prêmio de Direção por Drive no Festival de Cannes de 2011, mas foi vaiado pelo público implacável dois anos mais tarde, quando apresentou Only God Forgives. Também mediando as especulações sobre quem ganhará a Palma de Ouro, vaias e aplausos funcionam como termômetros e muitas vezes subvertem as expectativas.

As coletivas com diretores e equipe também são pontos de agito. O mundo está vendo o filme pela primeira vez e dessa recepção inicial virão as primeiras perguntas da imprensa, despontarão as primeiras polêmicas e os discursos sobre o processo criativo e bastidores da gravação. Autores mais performáticos em entrevistas tendem a atrair os holofotes. Em 2011, na coletiva a respeito de Melancolia, o cineasta dinamarquês Lars Von Trier se complicou quando respondia sobre a influência germânica em sua vida. Ao dizer que “compreendia Hitler”, foi banido do festival daquele ano.

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