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Sete Visitas, de Douglas Duarte

16/04/15 às 03:35 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
Sete Visitas, de Douglas Duarte

A arte da entrevista é preciosa quando a busca por conhecimento, nas mais diversas áreas, envolve contato humano. Um bom perguntador vai longe, um bom conversador mais ainda. No meio jornalístico e no gênero documental, muitas vezes a entrevista vai além de uma ferramenta de apuração e também se torna a unidade formal básica escolhida para nos apresentar o mundo. É o carro-chefe de diversas revistas, domina o telejornalismo, os programas de rádio e tem destaque inegável no mundo digital.

Natural, portanto, que um documentarista queira investigar as arestas desse jogo de fazer perguntas e obter respostas. Mas, em Sete Visitas, o cineasta Douglas Duarte vai além ao deslocar o eixo do olhar e destacar de igual modo entrevistador e entrevistado. Silvana, uma mulher comum, com uma trajetória de vida aparentemente agitada, recebe entrevistadores em um estúdio. A primeira que vemos entrevistá-la é a escritora Ana Paula Maia. Na sequência, assistimos às entrevistas que Silvana concede ao documentarista Eduardo Coutinho, às terapeutas Mônica Oliveira e Letícia Tuí (ambas do Fogo Sagrado Alinhamento Energético), ao psiquiatra Moisés Groisman, ao juiz de direito Fábio Uchôa e à própria filha.

Rapidamente percebe-se que a grande provocação do documentário é atentar para as mediações inerentes a qualquer processo dialógico: a Silvana da 2ª entrevista já não é a mesma da 1ª conversa, e assim por diante. Essa constatação já é potente em si pois embaraça o estatuto de verdade, tão caro às obras de não-ficção. Sim, a lista heterogênea de entrevistadores já indicava diálogos potencialmente distintos, mas a diversidade das experiências não se explica apenas pelo explícito, pelo dito, mas também pela observação das posturas e recepções visualizadas nos dois polos da comunicação.

Está em cena uma dinâmica de duplos. Como o entrevistador forma sua visão sobre Silvana e vice-versa? Até que ponto há pré-julgamento, de ambos os lados, e o quanto isso influencia na disposição de ouvir o outro? Por que algumas entrevistas viram um diálogo, com Silvana curiosa sobre a vida do entrevistador, enquanto outras são unilaterais?

É nítido, por exemplo, que o psiquiatra Moisés Groissman a trata com a distância objetiva – e de um degrau superior – que um médico trata um paciente, diagnosticando. No encontro com as integrantes do Fogo Sagrado, Silvana sequer precisa falar, pois o alinhamento energético permitirá que ela seja lida e incorporada por uma das terapeutas. Diante da escritora Ana Paula Maia, que também é negra, Silvana revela o ponto de empatia: “Nossa, somos (fisicamente) parecidas!”. Como será a postura da protagonista diante do juiz Fábio Uchôa, que não considera haver racismo no Brasil?

O despertar de uma reflexão que leva em conta todas essas nuances é raro e ilumina a percepção de que somos todos atores e emitimos discursos contaminados, reativos a uma complexa série de fatores. Tal perspectiva aproxima Sete Visitas dos documentários que visam descortinar processos e metodologias, em pretensão auto-reflexiva. Douglas Duarte segue a trilha, buscando olhar para o homem num momento revelador: quando ele se comunica com o outro.

Nota: 8,5/10 (Ótimo)

 

Sessões do filme no 20º É Tudo Verdade:

– 16/4/2015 – 15h – Cine Livraria Cultura (São Paulo)

– 17/4/2015 – 21h – Cine Livraria Cultura (São Paulo)

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