No cargo de secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura (Minc) desde o último mês de fevereiro, o diretor, roteirista e produtor baiano Pola Ribeiro pretende incentivar a criação de novos festivais de cinema no Brasil e facilitar o planejamento e organização daqueles que já estão consolidados no cenário nacional.
“O pensamento que nós temos hoje é que devemos aumentar muito o número de festivais e mostras no Brasil. Aumentar como um espaço de difusão, fazendo mostras de cinema brasileiro em pequenas cidades do Brasil, dialogando com o circuito alternativo”, explica o secretário, em conversa exclusiva com o Cine Festivais.
Outra ação importante que pode influenciar o circuito de festivais é a aprovação do Procultura, projeto de lei que substituirá a Lei Rouanet e que tem como um dos seus itens a expansão do período de aprovação dos festivais para captação de recursos, exigência antiga dos organizadores com vistas a um melhor planejamento. Isto, contudo, depende da aprovação do Procultura pelo Congresso Nacional, algo que ainda não tem data estimada.
Pola Ribeiro esteve em Minas Gerais para participar da 10ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. Na entrevista a seguir, o secretário do Audiovisual falou a respeito desses e de outros temas ligados ao seu cargo, como o atual estágio administrativo da Cinemateca Brasileira.
Cine Festivais: Qual é a importância do mercado de festivais brasileiros, que cresce a cada ano e serve como espaço para exibição dos filmes brasileiros?
Pola Ribeiro: Pela ausência de uma política que dialogue mais proximamente com esses festivais, muitos deles perderam a noção de quem são o grande locus da comunicação do cinema brasileiro. Ficam pensando muito em si próprio, como resolver os seus problemas…
O pensamento que nós temos hoje é que devemos aumentar muito o número de festivais e mostras no Brasil. Aumentar como um espaço de difusão, fazendo mostras de cinema brasileiro em pequenas cidades do Brasil, dialogando com o circuito alternativo.
É uma parceria que tem que incluir o projeto Mais Cinema, a Programadora Brasil e os Núcleos de Produção Digital. Queremos realizar esses microfestivais, que darão oportunidade para que cidades pequenas, que não têm cinemas, possam receber mostras de cinema com dez, 15 filmes brasileiros. O pacote seria organizado pelo governo federal e negociado dentro do sistema de cultura. Os festivais aconteceriam através de parcerias com estados e municípios.
Por outro lado, para o conjunto de festivais de maior porte, como é o caso deste aqui (CineOP), estamos buscando ferramentas para ‘bombar’ esse circuito cultural. Atualmente estão ocorrendo três festivais grandes ao mesmo tempo (CineOP, FAM e Cine Ceará), e isso não foi uma coisa combinada. Minha ideia é criar uma criar uma ferramenta de comunicação entre os festivais, para percebermos que seremos mais fortes se atuarmos em rede.
CF: Muitos organizadores de festivais pedem uma legislação específica para este tipo de evento e reclamam principalmente da necessidade de terem que, ano após ano, partirem do zero em busca de recursos. É possível que haja uma aprovação pelo menos bianual para que a captação e o planejamento sejam facilitados?
PR: Nossa ideia é que a aprovação seja até maior, que os festivais possam obter aprovação durante três anos pelo menos, para que consigam pensar na organização, e não tenham que se preocupar o ano inteiro com a captação de recursos. Isso trará uma maior garantia e solidez, garantindo que os festivais possam cumprir suas missões de forma mais adequada e competente.
Esse é um item que está no projeto do Procultura, que pretende substituir a Lei Rouanet, e ainda tem que ser aprovado no Congresso Nacional. No momento estamos fazendo a articulação parlamentar e procurando o melhor momento para que o Procultura entre na pauta de votação.
CF: Outra reivindicação dos festivais é que o público desses eventos seja contabilizado no número total de espectadores dos filmes. Qual é a sua posição sobre este tema?
PR: A gente reconhece esse problema e está conversando com a Ancine (Agência Nacional de Cinema) para obter uma solução. A Ancine sofre muito pressão do mercado, e não pode simplesmente dizer que um festival teve um público de 20 mil pessoas, por exemplo, baseada apenas em um documento da organização. A contabilidade não é simples, mas estamos buscando formas e métodos que possam atestar a realidade dos números.
Temos certeza que o crescimento do público brasileiro no mercado (comercial) será lento. O maior aumento será na difusão em escolas, universidades, cineclubes e festivais. É preciso que a sociedade tenha importância desse trabalho, pois assim os patrocinadores vão começar a apoiar mais, não apenas com dinheiro de incentivo, e sim com recursos próprios.
CF: Com relação à Cinemateca Brasileira, qual é o atual estágio do órgão depois de passar por uma crise administrativa?
PR: Houve um período difícil, mas os órgãos de fiscalização do governo já deram seus pareceres. A Cinemateca sabe dos problemas, vai continuar atuando, e tem um papel a cumprir, pois é um órgão de 50 anos que não pode ser sacrificado. Os problemas de gestão já foram resolvidos e o passivo da Cinemateca será tratado em uma negociação com a União.
Hoje está sendo constituída uma Organização Social que vai fazer a gestão da Cinemateca. Enquanto isso não ocorre, o órgão está sob direção de Olga Futemma, que é uma colaboradora de muitos anos da Cinemateca, que havia se aposentado, e a gente trouxe ela de volta para pegar esse momento delicado.
Eu diria que a crise passou. Agora há um processo de recuperação dos atrasos e dos problemas, e a Cinemateca vai ganhar um rumo mais seguro, porque é a joia da coroa, uma instituição importantíssima tanto para São Paulo quanto para o cinema brasileiro como um todo.
CF: Quais são os principais desafios futuros da sua gestão na Secretaria do Audiovisual?
PR: A área da cultura precisa melhorar na questão da comunicação, pois se comunica muito mal; na escala, pegando bons projetos e dando a eles a dimensão que o Brasil precisa; e na participação social, posi temos que ter a capacidade de escutar a sociedade.
Ainda mais em um momento como o atual, em que o povo está de saco cheio do processo eleitoral, é preciso que a política seja, além de representativa, participativa. As pessoas querem colaborar e criticar, e nós precisamos ouvir e compartilhar as responsabilidades.
Senti isso muito forte aqui em Ouro Preto, com as pessoas comprometidas na discussão sobre cinema na escola. Quando isso ocorre, não tem como dar errado. Talvez não dê em cinco ou dez anos, mas algum dia dará. O Brasil só dará certo se isso (cinema na escola) der certo. Então, vamos fazer com que isso ocorra.
*O repórter viajou a convite da 10ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto
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Foto acima: Biel Machado/Universo Produção