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Retrospectiva de Jia Zhangke traz filmes que expõem contradições da China

04/08/14 às 13:56 Atualizado em 04/08/14 as 18:08
Retrospectiva de Jia Zhangke traz filmes que expõem contradições da China

A ideia de trazer para o Brasil uma retrospectiva completa com filmes do cineasta chinês Jia Zhangke começou a tomar forma quando a carioca Jo Serfaty assistiu a Em Busca da Vida, trabalho que rendeu a Jia o Leão de Ouro, prêmio máximo do Festival de Veneza, em 2006. “Era tudo muito novo para mim. Parecia que eu estava respirando a poeira daquela cidade em que se passa o filme. Ele retratava as mudanças da China de maneira ao mesmo tempo delicada e grandiosa”, relembrou Jo, em entrevista concedida ao Cine Festivais.

O arrebatamento inicial provocou uma vontade de conhecer melhor a obra daquele diretor. Anos depois, em parceria com Mariana Kaufman, sua sócia na Fagulha Filmes, ela organizou e fez a curadoria da mostra Jia Zhangke, a Cidade em Quadro, que ocorre no Rio de Janeiro (entre os dias 5 e 17, na Caixa Cultural) e São Paulo (entre os dias 12 e 24, no Caixa Belas Artes) em agosto de 2014. O evento vai exibir 18 filmes do diretor, entre curtas, médias e longas-metragens de ficção e documentais. Completa a programação um documentário sobre a volta de Jia Zhangke à sua cidade natal após a vitória no Festival de Veneza. Além dos filmes, haverá duas masterclasses – uma no Rio e outra em São Paulo – ministradas pelo próprio Jia (mais informações podem ser encontradas no site oficial do evento).

Mesmo não tendo participado da turma de 1989 da Academia de Cinema de Pequim, de onde surgiram os diretores da chamada sexta geração de cineastas chineses, Jia Zhangke é apontado constantemente como o principal expoente desse grupo. Uma possível razão para isso é o fato de os filmes dele representarem da melhor maneira as novas características do cinema chinês: enquanto os cineastas da quinta geração, como Zhang Yimou, costumavam contar histórias situadas no passado, com um tom épico, grandioso e alegórico, a sexta geração, à qual Jia é relacionado, tratou de fazer filmes urbanos, contemporâneos e realistas, sem recorrer a metáforas para passar a sua mensagem.

“Os filmes do Jia não têm grandes heróis. Eles partem de situações cotidianas e falam de pessoas comuns, de moradores que estão sofrendo as transformações da China, perdidos entre o novo e o velho, sem saber direito para onde vão. É um cinema mais político, que não cria histórias romantizadas e apresenta as contradições do país sempre com inteligência”, aponta Jo Serfaty.

Jia Zhangke é figura constante nos principais festivais de cinema do mundo. Ele participou da competição oficial do Festival de Veneza com Plataforma, O Mundo e Em Busca da Vida – este último foi eleito o melhor filme do evento em 2006. No Festival de Cannes ele concorreu à Palma de Ouro com Prazeres Desconhecidos, 24 City e Um Toque de Pecado – recebeu o prêmio de melhor roteiro pelo último trabalho.

O trabalho do chinês tem como característica uma forte relação com o registro documental, que se reflete em planos geralmente abertos que captam a passagem do tempo e as transformações constantes sofridas pela China. Seja em documentários ou em filmes de ficção, os impactos da adesão do país à economia de mercado e à lógica do capitalismo mais extremo entram em choque com as práticas de uma cultura milenar e de um ideal comunista paradoxal e corrompido.

A ligação evidente com a situação chinesa não impede que Jia trate de temas universais, como comprova o seu sucesso internacional. Para Jo Serfaty, os filmes do diretor permitem uma relação com o cenário atual das cidades brasileiras. “Em uma escala muito menor, essa busca por uma cidade nova, em constante destruição e construção, se assemelha àquilo que estamos vivendo em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, etc. Há uma urbanização que prioriza muito mais o espaço privado do que o espaço público e às vezes não pensa em facilitar o convívio entre pessoas da cidade”, opina a curadora.

Outro tipo de ligação brasileira com o trabalho de Jia Zhangke poderá ser vista em breve nas telas de cinema. Isso porque o diretor Walter Salles realizou um documentário ainda inédito sobre o cineasta chinês. O filme, que será exibido em outubro na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, fará parte da série Cineastes de notre temps, idealizada por André Labarthe, ex-diretor da revista Cahiers du Cinéma, em que cineastas renomados documentam o trabalho de outros colegas de profissão. O nome do documentário ainda será definido por Salles.

 

Serviço

Mostra Jia Zhangke, a Cidade em Quadro

Locais: Caixa Cultural Rio de Janeiro (Av. Almirante Barroso, 25 – Centro – Rio de Janeiro – RJ) e Caixa Belas Artes (Rua da Consolação, 2423 – Consolação – São Paulo – SP)

Datas: De 5 a 17 de agosto (Rio de Janeiro) e de 12 a 24 de agosto de 2014 (São Paulo)

Site: http://www.fagulhafilmes.com.br/mostrajia

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