Raquel Hallak já tem uma experiência de quase duas décadas na organização de festivais de cinema. Diretora da Universo Produção, empresa que realiza a Mostra de Cinema de Tiradentes, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto e o CineBH, ela acompanhou de perto o crescimento do circuito dos festivais no Brasil.
Em conversa com o Cine Festivais durante a 9ª CineOP, Raquel relembrou como se deu o surgimento deste festival, comentou a evolução da área de preservação audiovisual no país e destacou o importante papel que o circuito de festivais exerce para o cinema brasileiro.
Leia a seguir os principais pontos da entrevista com a coordenadora geral da 9ª CineOP.
Cine Festivais: Como se deu o surgimento da CineOP?
Raquel Hallak: A CineOP surgiu de uma observação minha de uma dificuldade a partir de uma experiência com a Mostra de Tiradentes, também organizada pela Universo Produção. Quando prestávamos homenagens a cineastas, tínhamos uma dificuldade imensa para encontrar os seus filmes. Quando conseguíamos, eles raramente estavam guardados em cinematecas; muitos deles eram de propriedade dos produtores, e não dos diretores.
Era uma situação muito séria, porque eu acho que preservação não é uma coisa apenas para historiadores e pesquisadores. Ela é algo que deve ser pensada primeiramente pelos realizadores. Por isso criamos a CineOP em 2006, um evento dedicado ao Cinema Patrimônio em uma “cidade patrimônio”, que é Ouro Preto. Começamos esse processo buscando dar visibilidade para a preservação, que era considerada o “patinho feio” da cadeia produtiva do audiovisual.
CF: O que mudou ao longo destes nove anos de CineOP?
RH: A preservação no Brasil era muito ligada ao eixo Rio-São Paulo, basicamente entre a Cinemateca do MAM, na capital carioca, e a Cinemateca Brasileira, na capital paulista. A gente queria que isso tomasse uma proporção maior e proporcionasse um diálogo entre todos os acervos e arquivos do Brasil. Agora, nesta nona edição da CineOP, já percebemos um número muito maior de pessoas engajadas a realizar um plano nacional de preservação.
A CineOP funciona como um foro privilegiado para a realização desse debate. Recentemente incorporamos a temática Educação se juntou à Preservação e à História, pois é através dela que poderemos aumentar a difusão do cinema brasileiro. Conseguimos obter uma evolução conceitual e atraímos cada vez mais a participação de pessoas da área de preservação.
CF: Como você entrou na área de realização de festivais? Você era cinéfila?
RH: Não entrei nesta área como cinéfila. Sou formada em Comunicação Social e tinha o interesse de trabalhar na área de eventos culturais. Nós (da Universo Produção) escolhemos o cinema por ver nele a conjugação de todas as artes. A gente não tinha um grande conhecimento do circuito de festivais, e fizemos a Mostra de Tiradentes pensando em contemplar as áreas de formação, reflexão, exibição e difusão do cinema, que era algo inovador entre eventos deste tipo.
CF: Como produtora experiente nesta área, como você qualifica o atual estágio do circuito de festivais no Brasil?
RH: Acho que o circuito de festivais é uma alternativa principalmente para os filmes brasileiros, que não têm espaço de exibição no próprio país. Independentemente do perfil, os festivais são complementares; quanto mais, melhor. O reconhecimento desse mercado que os festivais compõem hoje é um fato irreversível. O que a gente está buscando é o fortalecimento disso, e é possível que tenhamos novidades ainda neste ano, já que o Ministério da Cultura está planejando o lançamento do Programa Nacional de Apoio aos Festivais (PRONAF), que vai dar suporte a esse tipo de evento.
* O repórter viajou a convite da 9ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto