Realizado em 1931, o filme Limite, de Mário Peixoto (1908-1992), é considerado um dos mais importantes da história do cinema brasileiro. Alvo de diversos processos de restauração desde os anos 50, o trabalho ganhou recentemente uma versão digital realizada pela Cineteca de Bologna em parceria com a Cinemateca Brasileira e com a World Cinema Foundation, ONG fundada por Martin Scorsese. O resultado do restauro pôde ser conferido pelo público da 10ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto na noite desta sexta-feira (19).
A radicalidade do filme começa pela narrativa não linear, que utiliza flashbacks para contar como os seus três personagens principais chegaram ao pequeno barco à deriva em que estão instalados. Uma mulher abandona o marido alcoólatra; outra escapa da prisão e se sente infeliz quando consegue um trabalho; e um homem se decepciona ao se envolver com uma companheira casada e leprosa.
Os movimentos de câmera ousados, com destaque para o momento em que a câmera ‘alça voo’ à beira-mar, os enquadramentos precisos e belos, os diversos simbolismos que remetem à sensação de enclausuramento que é comum aos três personagens, tudo isso serve para confirmar a importância deste trabalho de Mário Peixoto, único filme que o cineasta realizou.
Outra obra restaurada exibida nesta sexta-feira foi Também Somos Irmãos, de 1949. Dirigido por José Carlos Burle, o trabalho foi um dos primeiros do ator Grande Otelo no cinema, e dialoga com a temática (“O Negro em Movimento”) deste ano da CineOP, ao tratar da questão do racismo na sociedade brasileira.
Na mostra contemporânea, a CineOP contou também com exibições dos médias-metragens O Diplomata, de Fábio Carvalho, Flávia Barbal e Isabel Lacerda, e Verão da Lata, de Tocha Alves e Haná Vaisman. Para fechar a noite, foi projetado o longa-metragem Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós.
*O repórter viajou a convite da 10ª CineOP
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