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Pouco conhecida produção documental é destaque de mostra dos irmãos Dardenne

24/02/16 às 14:49
Pouco conhecida produção documental é destaque de mostra dos irmãos Dardenne

Duas vezes vencedores do Festival de Cannes (Rosetta, em 1999; e A Criança, em 2005), os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne são donos de uma filmografia particular que alia temáticas sociais a uma estética naturalista, quase sempre com ausência de trilha sonora e a câmera muito próxima dos atores.

Seus trabalhos de ficção (O Filho; O Garoto da Bicicleta; Dois Dias, Uma Noite) sempre têm um quê de documental, mas os filmes que os Dardenne realizaram como documentaristas nos anos 70 e 80, antes do reconhecimento internacional, são de rara circulação e inéditos no Brasil.

É esta lacuna que pretende preencher a mostra Cinema Humanista – Irmãos Dardenne, que acontece nos Centros Culturais Banco do Brasil de São Paulo e Rio de Janeiro até 7 de março, e que em Brasília termina no próximo dia 29.

As produções, realizadas entre 1979 e 1983, abordam temas como a vida de exilados (Lições de uma Universidade Voadora), lembranças de uma greve geral (Quando o Barco de Léon M. Desceu o Rio Meuse pela Primeira Vez) e um jornal clandestino escrito por trabalhadores (Para dar Fim à Guerra, os Muros Precisam Cair). Mas engana-se quem pensa que vai encontrar nestes trabalhos o estilo que eles consagrariam anos depois.

“Os documentários nem parecem filmes dos Dardenne, não têm nada da estética que depois foi desenvolvida por eles. Eles possuem planos super abertos, sempre localizando aqueles personagens no espaço e fazendo uma ponte com a história. Os filmes de ficção deles se distanciaram completamente disso. No Rosetta você quase nunca sabe onde a menina está, de tão perto que a câmera fica”, lembra a cineasta Caru Alves de Souza, que fez a curadoria da mostra.

Nesta transição entre os documentários e as ficções, o filme A Promessa, de 1996, é tido como o passo inicial na formação desse estilo tão próprio, mas antes disso os Dardenne fizeram duas investidas ficcionais menos conhecidas, em 1987 com Falsch (que está na programação da mostra) e em 1992 com Je Pense à Vous.

“São filmes que foram mal recebidos, acabaram indo direto para a TV. A partir daí os Dardenne começaram a refletir sobre o caminho que iriam seguir, resgataram a experiência que tiveram com os documentários, principalmente pelo viés temático, e começaram a formar essa estética que têm até hoje. A reflexão foi  sobre o modo de produção; eles entenderam que uma produção engessada, cara, pode engessar também a estética do filme”, explica Caru.

 

Estética e transformação

A mostra também abrange toda a produção mais conhecida dos Dardenne, que vai de A Promessa até Dois Dias, Uma Noite (2014). Um dos trabalhos que serão exibidos, O Filho (2002) foi o primeiro filme que a curadora da mostra viu dos cineastas belgas, e posteriormente a estética deles veio a influenciar o seu trabalho.

“Quando fiz De Menor (primeiro longa-metragem da diretora) tinha muita vontade de filmar a pele daqueles personagens. Outra coisa que gosto muito é a maneira como eles trabalham as elipses, particularmente em O Silêncio de Lorna. Mas o meu maior ponto de encontro com o cinema deles é em relação à temática. Foi o que primeiro me chamou atenção no cinema dos irmãos Dardenne, até porque naquela época eu estava na faculdade de História e fiquei impressionada com a maneira como eles lidavam com aqueles assuntos”, conta Caru.

Embora mantenham um estilo muito particular e reconhecível nos seus filmes, é possível enxergar algumas mudanças tanto estéticas quanto no tom da abordagem do cinema dos irmãos Dardenne ao longo dos últimos 20 anos.

“É possível ver uma transformação no distanciamento da câmera dos personagens, que vai ficando maior de Rosetta para os outros filmes. Muita gente tem dito que eles estão ficando mais otimistas. Acho que em O Garoto da Bicicleta isso existe mesmo, mas eu não vejo a mesma coisa no Dois Dias, Uma Noite, que para mim é um filme que aponta uma classe operaria muito mesquinha, preocupada consigo mesmo”, diz a curadora.

Além de filmes dirigidos pelos irmãos Dardenne, a mostra exibe trabalhos produzidos por eles. Entre os destaques estão Além das Montanhas, de Cristian Mungiu; Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard; e Diário de Uma Camareira, de Benoit Jacquot.

 

>>> Conheça a programação completa da mostra Cinema Humanista – Irmãos Dardenne

 

Serviço

Mostra Cinema Humanista – Irmãos Dardenne

Data: De 17 de fevereiro a 7 de março de 2016

Local: Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares de Azevedo, 112 – Centro – São Paulo – SP)

Ingressos: R$ 4 (inteira); R$ 2 (meia)

Telefone: (11) 3113-3651

Site: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/cinema-humanista-irmaos-dardenne-2/

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