“Eu sou um artista da encomenda. Quer me ver feliz? Me bota uma data para entregar”. Com essas palavras o cineasta Carlos Eduardo Magalhães descreve uma característica de seu modus operandi que guarda relação com o longo período em que trabalhou no mercado publicitário, mas que também está ligada à temática dos documentários com os quais tem se envolvido, enquadrados por ele dentro da ideia de “cinema de urgência”.
Carlos foi roteirista e produtor de 20 Centavos, trabalho que retratou as manifestações de junho de 2013; participou da produção de Escolas em Luta, sobre o movimento dos secundaristas no estado de São Paulo; e dirigiu Ara Pyau – A Primavera Guarani, lançado na 21ª Mostra de Tiradentes, que documenta a luta dos Guaranis na cidade de São Paulo no momento em que um decreto de demarcação de terras foi revogado pelo Governo Federal.
Naquela época o diretor já havia ido a várias outras aldeias indígenas pelo Brasil, inclusive como pesquisa para uma série televisiva, mas nunca tinha conhecido o povo indígena que vive dentro dos limites territoriais da cidade onde mora. Calhou que esse encontro se deu justamente nesse momento de acentuação da luta dos Guaranis, o que propiciou que o projeto de um documentário ganhasse corpo.
A abertura para o desenrolar dos fatos era um pressuposto, mas vinha acompanhado por um desejo de vitória. “Quando falei ‘tratem de ganhar essa luta’, o tekoha veio abaixo. Teve uma comoção, eles curtiram essa minha fala”, afirma o cineasta. “Não dá mais para se sujeitar à derrota, em todos os sentidos, inclusive em um filme”, ele argumenta.
No vídeo a seguir é possível assistir à entrevista que o Cine Festivais realizou com Carlos Eduardo Magalhães no dia seguinte à exibição de Ara Pyau – A Primavera Guarani na 21ª Mostra de Tiradentes. Aqui ele fala sobre o encontro com os Guarani e comenta as opções estéticas e éticas do documentário.