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Histórias de Nossas Vidas, de Jim Chuchu

30/11/15 às 15:29 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Histórias de Nossas Vidas, de Jim Chuchu

Apesar de ainda ser um país com uma tímida indústria cinematográfica, o Quênia busca promover boas iniciativas no setor. Uma delas é o coletivo The Nest, no qual o diretor de Histórias de Nossas Vidas, Jim Chuchu, é cofundador e diretor criativo. Com base em Nairóbi, capital do país, exploram sua cidade e a identidade africana a partir dos efeitos da modernidade e através de diferentes mídias. Para esse projeto, entrevistaram mais de 250 jovens quenianos LGBT que pudessem dar depoimentos anônimos sobre suas experiências em uma sociedade extremamente homofóbica. As histórias geraram um livro e cinco roteiros ficcionais, filmados na forma de curtas-metragens para o filme.

Com uma estética monocromática e bem iluminada, os dramas em geral mostram a inocência dos jovens em relação à homossexualidade, uma curiosidade sobre o outro comparável a qualquer início de relacionamento. Nos dois primeiros, Ask Me Nicely e Run, essa inocência é rompida no momento em que se entregam de fato à nova experiência, sendo lembrados por todos os lados sobre a “imoralidade” de suas ações: na escola, na família e até nas amizades.

Outros curtas, como Stop Running Away e Duet, insistem menos na questão da discriminação e abordam ambientes tranquilos, nos quais a batalha é interna, em relação às suas identidades. Através de tentativas e possíveis erros, procuram formas de exteriorizar seus desejos e sentimentos da melhor forma. No caso de Duet, há ainda a superação das diferenças raciais, e nele a única cena de fato sensual do filme mostra a bela união entre um negro queniano e um branco britânico.

A última vinheta, Each Night I Dream, amarra os tópicos anteriores em uma história realista em seu contexto e, simultaneamente, mais fantasiosa que as outras em seu desenvolvimento. A partir de imagens de arquivo de um discurso no qual um político do país define o “gayzismo” como uma ameaça que deve ser punida, o casal de lésbicas que moram juntas imagina formas de evitar a prisão, em um poético devaneio antes de dormir. O oposto da inocência do amor se torna o medo, um sentimento claustrofóbico de não mais pertencer ao seu lar e não ter para onde fugir.

Em um desdobramento que infelizmente reiterou a gravidade da situação queniana, Histórias de Nossas Vidas foi banido do país e não pôde ser exibido no Quênia em ambiente público ou privado. O produtor executivo, George Gachara, foi preso por realizar o filme sem uma autorização oficial. Enquanto isso, em Berlim, o trabalho rendeu o Prêmio Especial do Júri do Teddy (troféu destinado a filmes com temáticas LGBT) e segue com exibições em diversos países, na esperança de que a dualidade entre inocência e punição permaneça somente no filme, e não mais na vida real.

Nota: 7,5/10 (Bom)

 

*Filme visto no 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade

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