Com 15 edições em Belo Horizonte, sua cidade original, e chegando à nona passagem por São Paulo, onde ocupa a tela do CineSesc até o dia 30 de setembro, o Festival Indie – Mostra de Cinema Mundial – possui um perfil já bem conhecido pelos cinéfilos.
“O papel do espectador no Indie é muito importante; nós exigimos muito dele. É necessário dar uma chance para um cinema nem um pouco convencional e nada comercial”, aponta Daniella Azzi, diretora do festival ao lado da irmã, Francesca, e de Eduardo Garretto Cerqueira.
Um exemplo deste tipo de cinema pode ser visto pelo viés das retrospectivas, que trazem títulos de autores quase sempre pouco vistos nos cinemas brasileiros, inclusive no circuito de festivais. Neste ano, a honraria foi destinada a dois nomes nascidos na ex-União Soviética: Kira Muratova e Sharunas Bartas.
Atualmente com 80 anos, Muratova anunciou o fim da carreira em 2012, depois de lançar o filme Eterno Retorno. Seu trabalho é muito reconhecido nos países eslavos, inclusive por cineastas consagrados como o russo Alexander Sokurov e o bielorusso Sergei Loznitsa, mas ainda é quase ignorado no Brasil.
De acordo com o programador e crítico de cinema Aaron Cutler, responsável pela curadoria da retrospectiva – que vai exibir nove longas e dois curtas-metragens da cineasta – apenas um trabalho de Muratova chegou a ser exibido publicamente em alguma tela tupiniquim: o filme Síndrome Astênica, que ganhou notoriedade graças ao Prêmio Especial do Júri que recebeu no Festival de Berlim de 1990.
Quase três décadas mais novo, Sharunas Bartas já teve alguns de seus trabalhos exibidos em festivais brasileiros como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nascido na Lituânia, que restabeleceu sua independência em 1990, ele começou a realizar longas-metragens justamente nos anos 90, período marcado pela transição pós-soviética.
“Ele faz um cinema com pouquíssimos diálogos, lento, pouco explicativo em termos narrativos”, diz Daniella Azzi.
O novo filme de Bartas, Paz Para Nós em Nossos Sonhos, que foi lançado na Quinzena dos Realizadores de Cannes neste ano, foi exibido na abertura do Indie em São Paulo. Além dele, estão na programação outros oito filmes do cineasta até o dia 30.
Diversidade e futuro
Já na Mostra Mundial, seção do festival que exibe filmes recentes, a diversidade predomina. Trabalhos de diretores renomados no circuito de festivais, como o americano Larry Clark (de Kids) e o romeno Corneliu Porumboiu (de A Leste de Bucareste), dividem a programação com diretores iniciantes em longas-metragens.
“O Indie não é um festival ‘cabeçudo’. Há um pouco de tudo na programação dentro de um grande conceito de cinema independente. Algumas coisas sempre entram, como os filmes indie americanos e os japoneses; outras são novidades a cada ano, como a inclusão de dois filmes da Letônia neste festival”, explica a diretora do evento.
Para acompanhar as exibições, o público paulistano terá que pagar pela primeira vez pelas entradas. A gratuidade observada nas últimas oito edições deu lugar à cobrança de R$ 12 pela inteira. A mudança, segundo a organização, é reflexo do impacto da crise econômica e foi determinada pelo Sesc em São Paulo, que é parceiro do Indie.
A queda de investimentos no setor cultural é um fator que coloca em xeque as futuras edições do festival. Graças ao adiamento de editais em Minas Gerais, apenas projetos que acontecem no final de 2016 e em 2017 devem ser beneficiados pelo novo chamamento estatal.
“Estamos estudando as possibilidades, mas no momento há uma incerteza grande. Não temos garantia de que vai haver o Indie 2016, ou de que o ingresso em Belo Horizonte não passe a ser cobrado. O que se viveu com as leis de incentivo se esgotou. O público tem todo o direito de reclamar, mas parece que esse é um caminho sem volta na questão do ingresso. Sempre adotamos a gratuidade para que as pessoas pudessem ver mais filmes, mas agora elas vão ter que escolher (os filmes que vão assistir)”, diz Daniella Azzi.
>>> Conheça a programação do Indie 2015
>>> Saiba mais sobre Kira Muratova nesta matéria do site Opera Mundi
Serviço
Festival Indie – Mostra de Cinema Mundial
Data: De 16 a 30 de setembro de 2015
Local: CineSesc (Rua Augusta, 2075 – Cerqueira César – São Paulo – SP)
Ingressos: R$ 12 (inteira), R$ 6 (meia) e R$ 3,50 (credencial plena Sesc)