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Diretora iniciante recria experiência democrática em vilarejo argentino

01/11/16 às 18:15 Atualizado em 14/10/19 as 21:42
Diretora iniciante recria experiência democrática em vilarejo argentino

Embora tenha realizado alguns curtas-metragens que circularam regionalmente em Córdoba, cidade em que estudou cinema e televisão, a diretora argentina María Aparicio considera o longa-metragem As Ruas como o seu primeiro trabalho efetivamente pessoal.

Essa sua “estreia” foi recebida com entusiasmo no país natal, onde foi agraciada com o prêmio de Melhor Direção na competitiva latino-americana do Bafici, mais importante festival dedicado ao cinema independente na Argentina. O prêmio serviu como chamariz para a seleção realizada pela 40ª Mostra de São Paulo, na qual o trabalho teve a primeira exibição internacional.

Uma das mais jovens cineastas com filmes no evento paulistano, aos 24 anos, María começou um contato mais efetivo com o cinema na adolescência, quando frequentava um cineclube localizado a duas quadras de sua casa. Veio desses primeiros tempos a vontade de estudar a linguagem cinematográfica.

Para realizar o primeiro filme, ela se inspirou na história real de Puerto Pirámides, um vilarejo da região da Patagônia argentina em que, através de um projeto de pesquisa escolar, a população local pôde escolher, via voto direto, o nome das ruas da cidade.

A história foi recriada por María com um elenco de poucos atores e uma maioria de habitantes locais, o que trouxe um lado documental marcante para o trabalho.

O Cine Festivais conversou com María Aparicio durante a sua passagem para apresentar As Ruas na 40ª Mostra de São Paulo.

Leia a seguir os principais pontos da entrevista.

 

Cine Festivais: Que tipo de cinema mais te influencia desde a época da adolescência até hoje?

María Aparicio: Sempre vi filmes dos mais variados tipos. Tenho amigos cinéfilos em Córdoba que conhecem toda a história do cinema, mas não acho que eu seja assim, ainda tenho que assistir a muita coisa.

Um filme que foi muito importante quando pensávamos As Ruas foi o Luz Silenciosa, do Carlos Reygadas, mesmo sendo um trabalho bem diferente. Ver o mundo através da sala de cinema sempre me marcou muito. Posso citar outros nomes de diretores importantes para mim, como Michael Haneke, Abbas Kiarostami e John Cassavetes.

 

CF: O tema de As Ruas se torna bastante atual em um momento em que há uma forte crise de representatividade política no mundo todo. Foi esta característica que chamou sua atenção para a história?  

MA: Para mim, o projeto original que aconteceu no vilarejo era importante justamente por isso. Vejo a iniciativa como um gesto comovente de democracia e cidadania que tem um significado democrático de recuperação da memória e da história dos moradores. Muitos nomes das ruas acabaram sendo de pessoas simples, e isso me parecia lindo.

Também acho muito representativo que o projeto tenha sido feito por meninos da escola local. Que melhor exemplo de educação eles poderiam ter? É uma maneira de gerar um encontro entre crianças e adultos que me pareceu muito valiosa, e que o filme tenta recriar.

 

CF: O seu filme trata da importância da memória, tema que já muito caro para o cinema em si. Como você pensou nesse tema?

MA: Esse é um fator muito interessante. Quando mostramos o filme para o povo do vilarejo, eles de imediato se tornou um patrimônio da comunidade, e isso é muito importante para nós. Essa possibilidade de reconstruir memórias e difundi-las diz um pouco sobre o cinema que me interessa e que tenho vontade de seguir fazendo, um tipo que tem uma forte ligação com o real.

 

CF: Como foi a busca por encontrar o mesmo tipo de tom de atuação entre os atores profissionais e os não profissionais?

MA: Foi importante para nós trabalhar com três atores profissionais. Não é qualquer ator que está disposto a entrar na vida de uma comunidade e trabalhar com pessoas que não são atores. A Eva Bianco foi muito importante nas cenas mais documentais, ela sabia onde queríamos chegar e conseguia orientar as cenas nesse caminho.

A princípio nós realmente não sabíamos se esse tipo de atuação iria funcionar, se os garotos do povoado ficariam à vontade com a câmera. O importante foi construir um entendimento comum de que eles também faziam parte do filme.

Quando havia cenas apenas com atores profissionais, havia um roteiro com o diálogo mais marcado. Já nas cenas da escola e das entrevistas, com os jovens do povoado, havia algumas perguntas estabelecidas, mas a partir daí a conversa poderia tomar qualquer rumo. Havia essa liberdade, mas ao mesmo tempo era um desafio para nós tratar de registrar tudo da melhor maneira.

 

CF: Gostaria que você falasse sobre os planos das ruas que viriam a ganhar nomes. São locais que ficam entre o urbano e o rural…

MA: No começo a ideia era que o filme tivesse como desfecho os planos das ruas com os letreiros dos nomes delas. Quando chegamos na fase de montagem, o Martín (Seppia) sugeriu incorporar estas imagens no meio do filme. A Eva Bianco (atriz do filme) até comentou que viu um contraste entre esses planos vazios do povoado e os planos mais fechados dentro das escolas e em outros ambientes, que estavam cheios de palavras e memórias. Isso acabou sendo importante para o corte final.

 

Leia também:

>>> Crítica do filme As Ruas

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