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Riocorrente, de Paulo Sacramento

20/10/13 às 20:45 Atualizado em 08/10/19 as 20:30
Riocorrente, de Paulo Sacramento

Na intensa e dolorosa cidade de São Paulo, Renata (Simone Iliescu) vive dois romances paralelos: um com Marcelo (Roberto Audio), jornalista cultural, e outro com Carlos (Lee Taylor), ex-ladrão de carros. Perambulando pela cidade, Exu (Vinicius dos Anjos) é um menino de rua acolhido por Carlos. 

Todos assinalam crises pontuadas pela ferocidade de se viver em São Paulo. Ainda que o diretor Paulo Sacramento (O Prisioneiro da Grade de Ferro) ilustre a ambivalência de uma cidade na qual, em meio ao caos, se pode ouvir a Patife Band, de Paulo Barnabé, ou ver uma apresentação de Arnaldo Baptista (eles próprios entusiastas da “desordem” em suas obras), é na angústia de “estar correndo sem saber para onde” que Riocorrente ganha expressão.

Marcelo, racional e esquemático, nos traz a fragilidade de quem planeja tudo, mas também se depara com o vazio em sua atividade intelectual. Já Carlos, dono de uma corporalidade agressiva, é representante do impulso e da brutalidade. Ambos servem a estereótipos já desgastados, mas a atuação de Renata na vida de cada um é catalisadora de pensamentos que os fazem querer sair da zona de conforto. O triângulo sai do óbvio e ganha espessura na relação com os outros dois personagens, Exu e São Paulo. 

A presença sensorial da cidade é acentuada pelo notável design de som – que, no encalço de O Som ao Redor, apita os sons rudes e perturbadores da urbanização acelerada – e pelas excelentes imagens de Aloysio Raulino (diretor de fotografia, falecido no começo do ano), postando uma cidade contraditória, machucada. Mas não é só. Aqui a crise existencialista urbana é revista com a aplicação do fogo e seus correlatos (incêndio, explosão, dinamite, coquetel molotov) como elementos de forte simbologia, através da qual Sacramento irá flertar com o registro de pesadelo e intervenções impressionistas. É como se a reação que envolve a consciência dos personagens e a pungência da cidade só pudesse produzir forte combustão: tudo queima ou está prestes a explodir.

Além dessa analogia, muitas referências vão compor o campo de imagens que o diretor usa para fazer suas metáforas visuais, vendo em São Paulo o mundo violento, aflitivo, psicótico e inflamável que rodeia os personagens. Assim, Sacramento consegue atingir um clima único num filme corajoso e extremamente impactante.

Nota: 9,0/10 (Excelente)

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