O mais recente trabalho do cineasta Giovani Barros (de As Heranças e A Hora Azul) subverte várias ideias contidas no conceito clássico do faroeste. Pois, sim, a estética do western fica clara logo no início do curta, no qual o espectador vê o Velho Oeste americano dando lugar ao interior do Mato Grosso do Sul, motocicletas de 200 cilindradas em vez de cavalos, e homens tentando se mostrar mais viris do que realmente são. A importância da imagem, de se construir uma representação de si mesmo e vendê-la aos outros, é o tema chave desse trabalho bastante firme do jovem diretor.
Fica difícil falar do enredo sem entregar muita coisa. Acompanhamos trabalhadores de um posto de gasolina localizado em uma estrada qualquer. Um crime acontece e aí somos jogados em uma narrativa fragmentada, não cronológica, que aos poucos oferece peças do quebra-cabeça para o espectador montar: qual a relação entre os personagens? Quem foi o responsável pela morte? Qual o motivo por trás do assassinato?
A Vez de Matar, A Vez de Morrer tem semelhança óbvia com O Segredo de Brokeback Mountain ao abordar a homossexualidade num ambiente estritamente masculino. Os homens bebem cerveja, fazem duelos de queda de braço, jogam futebol. Em meio a isso, existe a troca de olhares que demonstra desejos reprimidos, a necessidade de sublimar-se para estar em sintonia com o resto do mundo. A câmera quase documental de Barros, sem firulas técnicas ou de movimentos, se posiciona sempre perto dos atores, como que tentando desvendar o que se passa em suas mentes.
Ao fim, a honra do macho precisa ser lavada a sangue – como em todo bom faroeste. Não deve ser fácil ser caubói nesse mundo moderno de aparências.