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A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?, de Rafael Urban e Terence Keller

19/08/14 às 09:00 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?, de Rafael Urban e Terence Keller

Olhando para uma parede repleta de quadros, um senhor de cabelos brancos nos apresenta aos seus “queridos amigos”, que nada mais são do que retratos de artistas importantes do Paraná. Em seguida, virando para a câmera (e para o espectador), ele diz o seu nome e se “encaixa” no único espaço em branco que parece haver naquele ambiente, colocando-se no mesmo patamar daquelas várias pinturas. Com uma economia incrível, essa primeira sequência resume perfeitamente a essência de A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?, belo trabalho dos diretores Rafael Urban e Terence Keller.

O curta-metragem se apoia, por um lado, na força do seu personagem, e por outro, em uma simplicidade formal resultante de uma estética bem pensada que combina perfeitamente com o retratado.

Em relação ao primeiro aspecto, a escolha dos diretores por deixar Max Conradt Jr. se apresentar e contar as suas histórias gera um misto de curiosidade, admiração e espanto no espectador ao longo do filme. Colecionador contumaz de obras de arte, revistas, livros e posters, ele fez da sua casa um grande repositório de um tempo que não mais existe. E fez isso com uma obsessão/paixão que está expressa em cada uma das histórias que conta para a câmera com o vigor de quem claramente valoriza o poder da oratória como elemento difusor da memória.

Mas o filme se torna realmente interessante pelo fato de entender o potencial cinematográfico que o entrevistado lhe oferece. Com essa dedicação quase patológica pela memória de outros tempos, Max se tornou uma figura presa ao passado, com uma existência ligada à perpetuação de suas memórias e objetos. Para passar essa ideia, os diretores optam por realizar quase que exclusivamente planos fixos, longos e abertos, nos quais o senhor parece preso a um dos quadros que tanto gosta de colecionar.

Esta lógica formal só é rompida uma vez ao longo do curta, em um momento que comprova o domínio estético que os diretores tiveram a respeito das intenções da obra. Nele, uma câmera na mão acompanha Max falando sobre o seu pai, ao qual nunca conheceu e cujo único legado afetivo é um quadro (figura recorrente no filme) pendurado em um dos cômodos de sua casa. É aí que, pela primeira vez, o colecionador para de falar sobre os outros e revela as suas dimensões individuais, quebrando a lógica do restante do trabalho e merecendo por isso um tratamento cinematográfico distinto.

Até que, na cena final, a mesma estrutura de todo o filme volta a ser adotada, só que com uma modificação: o cenário agora é uma parede branca que não está cercada por itens colecionados por ele. Emoldurado pela câmera, Max agora é o único elemento de um quadro no qual ele finalmente vira o centro das atenções, e pode, ao menos através do cinema, se tornar um daqueles objetos que tanto queria eternizar.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês? está na Mostra Brasil 8. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

 

>>> Confira a cobertura do Cine Festivais para o Festival de Curtas

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