Nos últimos anos Gustavo Vinagre se tornou um dos cineastas mais prolíficos do circuito independente brasileiro. Somente de 2016 para cá, foram lançados os curtas Os Cuidados que se tem com o Cuidado que os Outros Devem ter Consigo Mesmos, Chutes, Filme-Catástrofe e Cachorro, além do longa Lembro Mais dos Corvos, exibido e premiado na 21ª Mostra de Tiradentes (Troféu Helena Ignez para a atriz Julia Katharine). “Meu primeiro curta é de 2008, e acho que foi no final de 2016 que percebi que tinha passado no máximo um mês e meio da minha vida no set. Eu falei: ‘isso não pode ser assim. Quero experimentar, poder errar, poder fazer…’ Eu não me conformava com o fato de ter estado tão pouco no set durante tantos anos”, explica Gustavo.
Vem desse período mais recente a parceria artística com a atriz Julia Katharine, a quem conheceu quando trabalhavam juntos na organização Mix Brasil (ele como estagiário de redação, ela como secretária). O encantamento com a capacidade de Julia contar as próprias histórias e uma “qualidade magnética” que enxergava nela levou Gustavo a convidá-la para seu primeiro papel no cinema, em Os Cuidados que se tem com o Cuidado que os Outros Devem ter Consigo Mesmos, projeto para o qual ele buscava uma mulher trans.
Depois daquele filme, Julia também atuou em Filme-Catástrofe antes de realizar Lembro Mais dos Corvos, trabalho inteiramente centrado nela e em sua história de vida. Atualmente, ela está realizando as filmagens de um curta-metragem e também tem um projeto em andamento na direção de um documentário.
“Acho que existe uma ideia de militância que pensa que todos esses personagens à margem têm que ser vistos como heróis, o que eu acho muito empobrecedor. Eu estou ‘por aqui’ de heróis, e não é com isso que eu quero dialogar. Não me interessa retratar uma mulher trans que seja uma heroína perfeita”, explica Vinagre, salientando a gama de sentimentos conflitantes trazidos pelo último trabalho.
No vídeo a seguir é possível assistir à entrevista que o Cine Festivais realizou com Gustavo Vinagre no dia seguinte à exibição de Lembro Mais dos Corvos na 21ª Mostra de Tiradentes. Aqui ele fala sobre seu processo criativo, comenta como vê as cobranças por um “novo Nova Dubai” e admite certa estafa com a dinâmica dos festivais de cinema.