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Imo, de Bruna Schelb Corrêa

29/01/18 às 12:11 Atualizado em 08/10/19 as 20:24
Imo, de Bruna Schelb Corrêa

Repetição, sentido e contexto

 

Imo, longa-metragem dirigido por Bruna Schelb Corrêa e protagonizado por Giovanna Tintori, Mc Xuxu e Helena Frade, tem três pilares sobre os quais repousa e medita: a repetição, o sentido, e o contexto. Versando sobre a relação entre esses três vetores a partir das conexões (ou ausência de) entre som e imagem, o filme trata da relação predatória entre a estrutura organizativa do machismo e aquelas mulheres, alternando momentos instigantes com alguma gradativa frustração.

Dividido em três atos, centrados cada um numa personagem, o primeiro e melhor momento do filme se apoia no vetor da repetição. O gesto (cortar a maçã, atender ao telefone) é reconhecido aqui como uma reserva de sentidos anteriores que, quando postos num looping eterno e descolados de um espaço-tempo reconhecível, acabam desorientados (e desorientando). Mc Xuxu incorpora o símbolo da secretaria e o método de desconstrução da personagem vai deslocando seus gestos para fora de uma assimilação bem organizada. A confusão desse primeiro momento é boa porque tem muito mais a ver com a maneira como formamos (insiro aqui sobretudo a parte da plateia composta por homens) nossa organização de olhar para um mundo que confere a nós, em maior ou menor grau, a autoridade sobre seus sentidos.

Digo ser este o melhor terço do filme por ser nele o momento em que se faz bagunçar seu quebra-cabeça, ao mesmo tempo em que se convida à tentativa de uma reordenação impossível. A bagunça inicial não é arbitrária; parece ser, na verdade, o movimento mais lúcido do filme, fazendo dele objeto estranho, mas sempre em movimento.

Chegando ao segundo ato, Imo começa a retirar força de seu próprio exercício ao abandonar gradativamente o universo de seus próprios códigos de modo a organizá-los num acordo entre metáforas mais palatáveis com o mundo real (que aqui seria nosso mundo organizado). Alegorias religiosas, metáforas literais, nesse jogo o filme começa a ficar mais previsível, numa certa domesticação de seus códigos que talvez aqui comece a responder a alguma urgência direta de compreensão, algum tipo de recado mais objetivo oriundo do olhar de quem conduz o longa.

No ato final o filme junta todas as suas convenções próprias (os sons, as imagens, os movimentos) e as aglomera, mas ao invés de elevá-las ao máximo, num recuo propositivo, o filme passa a transmitir alguma incerteza sobre sua própria forma justo no momento mais enfático para os conflitos elaborados nos seus 66 minutos. A cena do jantar nos remete a algumas referências mais próximas, e essa assimilação concedida tende a oferecer resoluções que encerram uma permanência maior que o filme poderia ter.

Talvez a literalidade ao final soasse no processo como um recado mais direto aos olhos que o filme mira, mas para tanto Imo vai desperdiçando sua própria trajetória. Sem querer se explicar, vai se explicando.

 

*Filme visto na 21ª Mostra de Tiradentes

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