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Guia do 21º É Tudo Verdade

04/04/16 às 10:00 Atualizado em 14/04/16 as 17:46
Guia do 21º É Tudo Verdade

O Cine Festivais preparou um guia especial para ajudar os cinéfilos a escolherem os filmes que irão assistir no 21º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, que acontece entre 7 e 17 de abril de 2016 em São Paulo e Rio de Janeiro.

Conheça abaixo nosso Guia do 21º É Tudo Verdade. (Clicando no tema de seu interesse o leitor será direcionado para os filmes desse grupo. Para regressar ao topo, basta clicar no botão “voltar” em seu navegador. Para conhecer os horários de exibição dos filmes, clique no nome das obras)

 

– Documentários sobre as avós de seus diretores

– Documentários sobre cineastas

– Documentários ligados ao universo musical

– Documentários sobre conflitos antigos e atuais

– Documentários com temática relacionada a ditaduras sul-americanas

– Documentários sobre escritores

– Documentários relacionados aos Jogos Olímpicos

– Documentários com viés pessoal

– Documentários sobre política internacional

– Documentários que discutem conceitos de interpretação

– Documentários que utilizam animação

 

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Documentários sobre as avós de seus diretores

Abissal, de Arthur Leite

Partindo do projeto de pesquisar a vida de um avô que nunca conheceu, o cineasta cearense Arthur Leite começa a investigar a história da própria família. Quanto mais mergulha nela, mais se afasta da ideia original, percebendo que a personagem, na verdade, é sua avó, Rosa – que, diante de uma câmera, dispõe-se a fazer revelações inesperadas sobre esse passado desconhecido.

 

Aqueles Anos em Dezembro, de Felipe Arrojo Poroger

Quase setenta anos depois do dia em que se conheceu, um casal é convidado a reencenar o encontro para um filme. No dia marcado, no entanto, incidentes impedem a filmagem. Tentando juntar os fragmentos dessa história, bem como da cidade em que ela se passou, seu neto reconstitui o passado familiar, dentro do qual se insere o seu próprio, em busca dos vestígios de algo que possa ter sobrevivido à passagem do tempo.

 

Carmen, de Mariano Samengo

A morte de Carmen Brancone, última avó do diretor Mariano Samengo, desencadeia uma mudança drástica na vida do cineasta. Três dias depois de seu enterro, ele decide filmar sua mãe e sua tia, que se ocupam da tarefa de esvaziar a casa da avó. Entre os vestígios da presença de Carmen e o doloroso processo de doação de seus pertences, instala-se na família um processo de desprendimento das memórias afetivas, tendo que lidar com a irremediável ausência da matriarca.

 

Fatima, de Nina Khada

Buscando suprir as lacunas em torno das próprias raízes, a cineasta Nina Khada vai ao encontro da biografia da avó argelina, Fatima. Nem ela, nem o pai de Nina mostram-se dispostos a falar de sua trajetória de exílio, rumo à França. Assim, a diretora procura vestígios, imagens, ícones, para resgatar o perfil de uma mulher determinada e a força de seu legado na história familiar.

 

Um Caso de Família, de Tom Fassaert

Para o cineasta Tom Fassaert, sua avó paterna, Marianne Hertz, sempre foi um mistério. Ele a conheceu por contatos esparsos e, particularmente, pelas histórias negativas que seu pai, Rob, sempre lhe contou sobre ela – como a de que sua mãe era uma mulher fatal, devoradora de homens, que pôs os filhos num orfanato e abandonou a família para viver na África do Sul. Quando Tom completa 30 anos, recebe um inesperado convite da avó para visitá-la. Decide, então, que esta será uma excelente oportunidade para confrontar os diferentes mitos em torno dela e dar-lhe a chance de contar diante da câmera sua própria versão dos fatos.
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Documentários sobre cineastas

Cidadão Rebelde, de Pamela Yates

Muito mais do que um diretor de fotografia premiado com dois Oscars (“Quem tem medo de Virginia Woolf?”, em 1966, e “Esta terra é minha”, em 1976), Haskell Wexler (1922-2015) foi um documentarista engajado em causas progressistas. Este documentário destaca este lado menos conhecido de Wexler, que assina títulos fundamentais, como “The bus” (1963), filmado a bordo de um ônibus rumo à Marcha de Washington; “Medium Cool” (1969), pioneiro no uso de recursos ficcionais; “Brazil: A report on torture” (1971), denunciando a tortura na ditadura militar brasileira; e “Underground” (1976), sobre os ativistas fugitivos do Weather Underground e que lhe custou o emprego no filme “Um Estranho no Ninho” (1975).

 

Claude Lanzmann: Espectros do Shoah, de Adam Benzine

Apresentando material inédito de Shoah, acompanha-se a jornada de seu autor, Claude Lanzmann, jornalista francês que, em 1973, mergulhou na pesquisa que culminou no documentário de nove horas e meia, lançado em 1985, que se tornou uma referência inevitável no tema. Trinta anos depois, revela-se o homem, hoje aos 90 anos, por trás desse trabalho, um existencialista, combatente adolescente da Resistência francesa, amigo do filósofo Jean-Paul Sartre, amante da escritora Simone de Beauvoir e suas expectativas quanto ao futuro da humanidade. Indicado ao Oscar de documentário em curta-metragem em 2016.

 

Não Pertenço a Lugar Algum – O Cinema de Chantal Akerman, de Marianne Lambert

Partindo de uma longa convivência profissional com a cineasta Chantal Akerman (1950-2015), a diretora Marianne Lambert explora por diversos caminhos a peculiaridade do estilo da realizadora belga, autora de mais de 40 obras, entre documentários, filmes experimentais e ensaísticos. Visitando diversos locais por onde ela viajou, entre Bruxelas, Nova York, Paris e Tel Aviv, e entrevistando pessoas como sua montadora, Claire Atherton, o documentário materializa a procura e as escolhas de Akerman, os postulados estéticos de sua linguagem e sua disposição permanente de tolher a zona de conforto do espectador em proveito de um mergulho na radicalidade.

 

O Homem que Matou John Wayne, de Diogo Oliveira e Bruno Laet

Para retratar vida e obra de Ruy Guerra, este filme equilibra-se entre documentário e ficção, entre depoimentos e cenas de filmes com sua marca, seja como ator ou como diretor, procurando ser fiel ao espírito inquieto do cineasta moçambicano que há seis décadas abraçou o Brasil como sua nova pátria. Falam dele colegas, amigos, parceiros e estudiosos, como Chico Buarque de Holanda, Werner Herzog, Gabriel García Márquez, João Mendes e Michel Ciment. Mas quem mais pode revelar quem é este homem é ele mesmo, seja reiterando seu horror ao “cinema de causa e efeito” ou expondo sua alma poética em canções e poemas, alguns deles inéditos.

 

Favio, a Estética da Ternura, de Luís e Andrés Rodríguez

Conhecido como cantor e ator, o argentino Leonardo Favio (1938-2012) deixou atrás de si uma singular obra cinematográfica como diretor. Dono de um estilo de difícil classificação, apegou-se a um cinema humanista, povoado de personagens deslocados, às vezes bizarros, pelos quais expressava profunda empatia, em filmes como “O romance de Aniceto” (67), “Nazareno Cruz e o lobo” (75) e “Gatica, o macaco” (93). Seu perfil emerge de depoimentos de seus colaboradores mais próximos e dele mesmo, naquela que foi sua última entrevista.
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Documentários ligados ao universo musical

As Incríveis Artimanhas da Nuvem Cigana, de Paola Vieira e Claudio Lobato

No Rio de Janeiro dos anos 1970, formou-se o coletivo artístico Nuvem Cigana, que reuniu poetas, artistas gráficos, fotógrafos e músicos, que implementaram diversas formas de expressão pública. Num tempo de repressão e ditadura, esses artistas cavaram espaços para encenações e espetáculos de poesia falada, produzindo livros mimeografados, capas de discos, almanaques, aproximando-se da cultura popular, através da formação de blocos de samba e também do futebol. Apagando fronteiras entre arte e vida, de olho na utopia, tornaram-se uma geração que desbravou caminhos, antes que a indústria cultural dominasse o panorama.

 

Danado de Bom, de Deby Brennand

Nascido em Arcoverde, no sertão pernambucano, menino solitário criado pelo pai depois que a mãe foi embora, João Silva descobriu cedo a paixão pelos ritmos nordestinos, como o baião, o xote e o forró. Ainda garoto, decidiu ir para o Rio de Janeiro, para conhecer o ídolo Luiz Gonzaga. Os dois, que a princípio se estranharam, acabaram tornando-se não só grandes amigos, mas parceiros em muitos sucessos, como “Doutor do Baião”, “Nem se despediu de mim” e “Pagode Russo”.

 

Vida Como Rizoma, de Lisi Kieling

Primeira flauta da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o jovem músico Klaus Volkmann, 30 anos, é a mais pura expressão de alguém conectado com formas simples e sustentáveis de vida, transporte e contato direto com a cidade e a natureza. Um modo de pensar que o leva a encarar a existência como algo potencialmente capaz de ramificar-se em qualquer direção.
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Documentários sobre conflitos antigos e atuais

Fogo no Mar, de Gianfranco Rosi

Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2016, o documentário focaliza a crise dos refugiados na Europa a partir de Lampedusa, na Sicília. A bucólica ilha de pescadores tornou-se um posto avançado na maior crise humanitária da Europa desde o final da II Guerra Mundial, recebendo milhares de imigrantes em barcos precários, vindos da África ou do Oriente Médio. Além de vários resgates, realizados pela Guarda Costeira italiana, mostra-se a rotina de moradores, como o menino Samuele, filho de um pescador, e o médico Pietro Bartolo, o único da ilha e que já perdeu a conta de quantas autópsias realizou desde que começaram a chegar ali os primeiros barcos de refugiados, em 1991.

 

Atentados: As Faces do Terror, de Stéphane Bentura

Buscando compreender as razões que levaram aos atentados contra o semanário “Charlie Hebdo”, o mercado Hyper Cacher, em janeiro de 2015, e a casa de shows Bataclan, em novembro do mesmo ano, examina-se as trajetórias de alguns de seus perpetradores. Retraçando sua história e ouvindo seus familiares, conhecidos, professores e especialistas, além de recorrer a materiais de arquivo, busca-se identificar os pontos de ruptura que levam à alienação destes renegados da sociedade.

 

Eu Tenho Uma Arma, de Ahmad Shawar

Em 2002, a vila palestina de Kafar-Kaddoum sofreu a expropriação de terras por forças de ocupação israelenses, para a criação de uma colônia, Kedumim. Também foi fechado aos palestinos o acesso à estrada principal que conduz à vila. Desde então, os moradores locais realizam protestos semanais, reivindicando seu direito à estrada, não raro jogando de volta nos soldados as bombas de gás lacrimogênio que lhes são lançadas.

 

O Atirador de Elite de Kobani, de Reber Dosky

Palco de uma das mais encarniçadas batalhas entre o Estado Islâmico e os guerrilheiros curdos, a cidade síria de Kobani, na fronteira com a Turquia, abriga um personagem peculiar – o atirador de elite curdo Haron. Com sua figura esguia e um rifle permanentemente no ombro, ele percorre as ruas arrasadas da cidade, onde é reconhecido como uma espécie de herói. Sua percepção da própria atividade é menos romântica. Ele reflete sobre a solidão de seu trabalho, sobre a necessidade de um atirador de dominar a matemática e sobre os sonhos e pesadelos de cada dia.

 

O Deserto do Deserto, de Samir Abujamra e Tito Gonzalez Garcia

Considerado a “última colônia da África”, o Saara Ocidental é palco de um dos mais longos e menos conhecidos conflitos do mundo. Após a saída dos colonizadores espanhóis, em 1974, ao invés de um prometido plebiscito para decidir sobre a autodeterminação dos beduínos saharauis, a Espanha entregou o território ao Marrocos e à Mauritânia (que se retirou em 1979), provocando uma guerra intermitente e a dispersão da população saharaui.
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Documentários com temática relacionada a ditaduras sul-americanas

A Culpa é da Foto, de Eraldo Peres, André Dusek e Joédson Alves

Num dia de 1984, ainda durante a ditadura militar, os repórteres fotográficos credenciados no Palácio do Planalto mudaram sua rotina. Ao invés de registrar, como sempre faziam, a saída do presidente, general João Baptista de Figueiredo, eles baixaram suas máquinas, deixando as câmeras no chão. Apenas um deles, José Maria França, apertou o disparador para guardar um documento do protesto silencioso dos colegas. Por onde andarão, hoje, os fotógrafos que protagonizaram essa ousadia? E qual o motivo de sua atitude?

 

Allende Meu Avô Allende, de Marcia Tambutti Allende

Décadas depois do golpe de Estado no Chile, que derrubou o presidente eleito Salvador Allende, em 1973, falar dele e do trágico passado não é frequente nem fácil, mesmo dentro do clã – cujos membros por anos permaneceram dispersos, no exílio em outros países, como o México, Peru, Cuba.

Conversando com sua avó, viúva de Allende, sua mãe, uma tia, primos – que, como ela, eram crianças 42 anos atrás -, a diretora resgata fragmentos de lembranças, inúmeras fotos esquecidas e se arrisca mesmo a abordar temas-tabus.

 

Galeria F, de Emília Silveira

Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Theodomiro Romeiro dos Santos foi o primeiro preso brasileiro condenado à morte no período republicano – pelo assassinato de um sargento, em 1971. A pena foi depois comutada em prisão perpétua. Preso aos 18 anos, foi barbaramente torturado e cumpriu nove anos de prisão. A iminência da lei da Anistia, em 1979, longe de tranquilizá-lo, dá-lhe a certeza de que planejavam matá-lo. Ele então foge, embarcando numa aventura cujos detalhes permaneceram ocultos por anos. Neste filme, acompanhado pelo filho caçula, Guga, Theodomiro refaz sua trajetória.

 

Imagens do Estado Novo 1937-45, de Eduardo Escorel

Recorrendo a vasto material de arquivo, entre cine-jornais, fotografias, cartas, filmes familiares e de ficção, trechos de diário e canções populares, o documentário reavalia a herança do período ditatorial de Getúlio Vargas (1937-1945). Através da comparação e análise desses registros heterogêneos, produzidos para fins diversos, da propaganda política à celebração familiar, o filme explora as diversas camadas da trama política do regime do Estado Novo, expondo suas fontes de inspiração externas, sua forma de funcionamento e contradições.

 

Lampião da Esquina, de Lívia Perez

Inspirado no jornal norte-americano “Gay Sunshine”, surgiu no Brasil, em abril de 1978, em plena ditadura, o jornal “O Lampião”, retratando o ponto de vista dos homossexuais sobre diversas questões, inclusive a sexualidade. Um grupo de jornalistas e escritores do Rio e de São Paulo se uniram em torno do projeto, alimentando uma publicação que abriu caminhos para a imprensa da época, abordando temas polêmicos naqueles dias, como racismo, aborto, drogas e prostituição.

 

O Oco da Fala, de Miriam Chnaiderman

Programa apoiado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a Clínica do Testemunho, em São Paulo, é uma iniciativa que busca a cura literalmente pela palavra. Proporciona atendimento psicológico a pessoas traumatizadas pela violência de Estado, a perda de pessoas queridas e desaparecidas, a impossibilidade de elaborar seu luto e sepultá-las condignamente. Os depoimentos se sucedem, formando um arco de cortes, separações mas igualmente de esperanças, compondo o perfil de uma São Paulo que se debruça sobre as marcas e memórias da ditadura.

 

Praça de Guerra, de Edi Junior

Inspirados pelas ideias de Che Guevara e Régis Debray, um grupo de jovens resolve criar, nos anos 1960, um foco de guerrilha na Serra do Capim-Açu, zona rural de Catolé do Rocha (PB). Pensando enfrentar o coronelismo local e a ditadura militar, dedicam-se a atividades como a montagem de armas artesanais. Descobertos, são presos. Na penitenciária, entram em contato com a maconha e todo um outro modo de vida alternativo. Ao deixarem a cadeia, passam a viver a política do corpo, banhando-se nus no açude local. Mais uma vez, são presos. Agora, fazem um balanço de suas experiências.

 

Toponímia, de Jonathan Perel

Focalizando quatro cidades da província de Tucumán, Argentina, o diretor Jonathan Perel reavalia vestígios da ditadura militar (1976-1983). Em meados dos anos 1970, a região abrigava grupos guerrilheiros, como o Exército Revolucionário do Povo (ERP). Por isso, tornou-se alvo de uma operação militar para sua eliminação, denominada ironicamente “Operação Independência”. Na sequência da repressão, a população local foi deslocada para quatro cidades, que receberam nomes de militares. Quarenta anos depois, observa-se o resultado.

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Documentários sobre escritores

327 Cadernos, de Andrés di Tella

Depois de muito tempo lecionando em Princeton (EUA), o escritor Ricardo Piglia volta à Argentina natal. Propõe-se a tarefa hercúlea de revisar, pela primeira vez, seus diários pessoais, que ele anota há mais 50 anos, em 327 cadernos idênticos, de capa preta, que não são mais fabricados. Nesses cadernos, guardados em caixas de papelão, estão guardados não só os registros de toda uma vida, mas também memórias de meio século da história argentina, atravessada pela ascensão e derrocado do peronismo, a ditadura militar e a guerrilha dos anos 1970. Diante desse passado, deve manter o constante enfrentamento com a esclerose lateral amiotrófica, que abala seu corpo, mas não sua mente.

 

Cacaso na Corda Bamba, de José Joaquim Salles e PH Souza

Mineiro que morava no Rio e deixou para trás um destino projetado para ser fazendeiro, Antonio Carlos de Brito (1944-1987) preferiu a poesia e tornar-se Cacaso, um dos líderes do movimento da poesia marginal, da luta do mimeógrafo contra a censura da ditadura militar, nos anos 1970. Professor que falava de tudo, menos de literatura, Cacaso enchia cadernos não só de poemas, como de reflexões, desenhos e colagens, dentro da mais pura expressão multimídia, muito antes da internet. Também se aproximou da música, tornando-se letrista e parceiro de compositores como Elton Medeiros, Edu Lobo, Francis Hime, Sueli Costa e Joyce.

 

Gabo: A Criação de Gabriel García Márquez, de Justin Webster

O documentário do britânico Justin Webster explora os caminhos inseparáveis da vida e da obra do escritor Gabriel García Márquez (1927-2014), especulando como o menino nascido num obscuro vilarejo colombiano, Aracataca, transforma-se em jornalista e escritor vencedor do Nobel de Literatura. Transformando suas memórias infantis na matéria-prima de uma sensibilidade mágica, ancorada num constante engajamento político e social, Márquez incendiou a imaginação de milhões de leitores nos quatro cantos do mundo.

 

Manter a Linha da Cordilheira Sem o Desmaio da Planície, de Walter Carvalho

Desde sua estreia com o livro “Palavra“, em 1963, que o colocou no primeiro plano da literatura do país, o poeta carioca Armando Freitas Filho recusa a reverência. Faz poemas como quem pesca seus achados, manuscritos em grandes cadernos em que deixa uma grande margem livre para as quase intermináveis correções. Admirador assumido de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto – “o Fla-Flu da poesia brasileira”, segundo ele -, Armando acredita que a poesia “é uma arte de câmara, não sinfônica” E que ela “não cura, incrementa as feridas”, ao mesmo tempo em que o poeta, todo dia, quer desmentir a certeza da morte.

 

Vita Activa – O Espírito de Hannah Arendt, de Ada Ushpiz

Vivendo em tempos obscuros, marcados pelo nazismo e o fascismo, a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) foi capaz de discernir ideias dramaticamente importantes, como o conceito da “banalidade do mal”, incompreendido em sua época. Através de fotos, filmes caseiros e depoimentos de seus contemporâneos, o filme resgata a figura de uma intelectual que elevou a independência e a transgressão a um novo patamar, deixando um legado que se torna cada vez mais relevante.

 

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Documentários relacionados aos Jogos Olímpicos

Espírito em Movimento, de Sofia Geveyler, Yulia Byvsheva e Sofia Kucher

Feito a pedido do Comitê Paraolímpico Internacional, o filme acompanha a jornada de seis atletas – do Brasil, China, Alemanha, Austrália, Rússia e EUA – na disputa por uma vaga para participar dos Jogos Paraolímpicos em Sochi 2014. O foco é o esforço de cada um não só para superar as próprias deficiências, mas para levar uma vida normal e ter sucesso.

 

Anéis do Mundo, de Sergey Miroshnichenko

Encomendado pelo Comitê Olímpico Internacional, o filme focaliza a inovação das tecnologias e o aumento da participação feminina nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi (Rússia). Ouvindo médicos, voluntários, engenheiros, fãs e atletas, revela-se a face humana por trás de um mega-evento, que reuniu cerca de 6000 atletas e gastou um orçamento de 214 bilhões de rublos.

 

Munique ’72 e Além, de Stephen Crisman

Na madrugada de 5 de setembro de 1972, oito terroristas palestinos invadiram os alojamentos da Vila Olímpica de Munique, tomando onze atletas israelenses como reféns. O impasse durou 20 horas e terminou com uma desastrosa tentativa de resgate que não evitou a morte de todos os reféns. Quarenta e três anos depois, novas entrevistas com testemunhas oculares, autoridades e familiares dos mortos revelam detalhes aterradores sobre o tratamento das vítimas. O filme também atualiza a longa luta das famílias pelo reconhecimento público aos esportistas mortos, através de um memorial permanente.

 

Olympia 52, de Chris Marker

Primeiro filme do realizador Chris Marker – que foi também um de seus quatro câmeras – acompanha as Olimpíadas de Helsinque, em 1952, as primeiras com a participação da URSS, sob o signo da Guerra Fria. Fixando-se na humanidade dos atletas, mais do que na grandeza de seus feitos, o documentário prenuncia o estilo poético-irônico do cineasta francês.

 

Os Campeões de Hitler, de Jean-Christophe Rosé

Assim que tomaram o poder, os nazistas converteram o esporte num dos mais eficazes instrumentos de propaganda de seu objetivo de criação de “um novo homem”. Atletas alemães foram pressionados a quebrar todos os recordes, em nome de anunciar ao mundo a superioridade ariana. O ponto alto seriam as Olimpíadas de Berlim, em 1936, mas ali mesmo a falácia começa a ruir.

 

Um Novo Olhar Sobre Olympia 52, de Julien Faraut

O diretor Julien Faraut debruça-se sobre Olympia 52, de Chris Marker, para demonstrar como a obra ultrapassou sua origem como trabalho de encomenda. Contrariando a avaliação do próprio Marker, Faraut evidencia como ele transgrediu as diretrizes pedagógicas, exercitando a originalidade de seu estilo na música, na montagem e no uso de referências literárias e cinematográficas.

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Documentários com viés pessoal

O Futebol, de Sergio Oksman

Sergio e seu pai, Simão, não se viram ao longo de 20 anos. A realização da Copa de 2014 no Brasil fornece ao filho, que mora na Espanha, um pretexto para conviver algum tempo com o pai, retomando seu antigo hábito de assistirem a jogos juntos, mantido quando o filho era garoto. À medida que ambos se reaproximam, suas conversas os levam ao encontro do passado e das questões deixadas em aberto pela distância. Correndo em paralelo com os jogos da Copa, seus encontros deixam claro que algo escapou do plano inicial. E que esta viagem poderá trazer, mais do que reconciliação, uma exploração em território desconhecido.

 

Anos Claros, de Frédéric Guillaume

Filmado ao longo de quase dez anos, o documentário constitui uma crônica intimista de um trecho da vida do diretor Frédéric Guillaume. Às vésperas dos 30 anos, ele recebe a boa notícia de que o grande amor de sua vida, Claire, está grávida. O nascimento de sua filha, Juliette, e outros episódios desta relação familiar são compartilhados diante da câmera. Mas a felicidade sofre um abalo com a confissão de Claire de que algo se alterou em sua paixão por Frédéric. Mudando de tom, o filme se torna uma viagem dentro da dor e da incerteza e também um retrato do processo de amadurecimento de um homem no limiar dos 30 anos, para quem o cinema se tornou uma inesperada boia de salvação.

 

Buscando Helena, de Roberto Berliner e Ana Amélia Macedo

Diário íntimo e pessoal do diretor, Roberto Berliner, e sua mulher, Ana Amélia, sobre o dia em que levaram para casa seu novo bebê: Helena, sua segunda filha, que foi adotada e encontrará Antonio, filho do casal, pela primeira vez.

 

Paciente, de Jorge Caballero Ramos

Nubia é uma mãe dedicada ao cuidado intensivo de sua filha, Leidy Johana, de 23 anos, que sofre de uma forma agressiva de câncer. Num estilo seco e despojado, evitando mostrar o rosto da paciente – de quem se ouve, no entanto, a voz -, o diretor Jorge Caballero Ramos acompanha o calvário da mãe pelo sistema de saúde colombiano. Seu drama é acompanhado sob três pontos de vista. O primeiro, no corredor do hospital, diante do quarto de Leidy. O segundo, seguindo-se a luta incansável da mãe contra os trâmites da burocracia a fim de garantir os medicamentos e tudo de que a filha necessita. O terceiro fixa-se no rosto dessa mãe carinhosa, que conversa com a filha, ou simplesmente vela por ela.

 

Sem Título # 3: E para que poetas em tempos de pobreza?, de Carlos Adriano

Algumas considerações (im)prováveis e (im)ponderáveis sobre a (im)pertinência e o (não)lugar da poesia em nossos tempos. Um ensaio poético? Um manifesto poético? Uma (in)apropriação poética? Da série “Apontamentos para uma AutoCineBiografia (em Regresso)”.

 

Tudo Começou Pelo Fim, de Luis Ospina

O diretor colombiano Luis Ospina volta-se para o período de 20 anos, entre 1971 e 1991, para recontar não só uma parte importante da própria vida, como do trio que se tornou conhecido como “Grupo de Cali”, ou “Caliwood”. Ou seja, ele mesmo, o escritor e crítico Andrés Caicedo e o cineasta Carlos Mayolo, num tempo em que, na Cali que aos poucos era dominada pelo narcotráfico, dedicavam-se ao que mais gostavam – sexo, drogas, rock, rumba e fazer cinema. Paralelamente a esse resgate das memórias do grupo, Ospina defrontou-se com um diagnóstico de câncer, o que o levou a mergulhar numa experiência mais profunda em torno de mortalidade e sobrevivência.
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Documentários sobre política internacional

Catástrofe, de Alina Rudnitskaya

Construída no período soviético, a partir de 1963, e em operação desde 1978, a usina hidrelétrica da Sayano Shushenskaya, na Sibéria, foi, por muito tempo, a maior da Rússia e uma das maiores do mundo. Em agosto de 2009, foi palco de um desastre de enormes proporções, quando houve a explosão de uma de suas turbinas, causando danos ou destruição total de outras dez, além da morte de 75 pessoas e danos ambientais, com o derramamento de óleo no rio Yenisei. Cinco anos de reparos, ao custo de 40 bilhões de rublos, foram necessários para a retomada do funcionamento da usina, sem que as causas exatas do acidente tenham sido totalmente esclarecidas.

 

Chicago Boys, de Carola Fuentes e Rafael Valdeavellano

Responsáveis pelo modelo econômico ultraliberal instalado no Chile na ditadura Augusto Pinochet (1973-1990), os chamados “Chicago Boys” – economistas formados na Universidade de Chicago – recontam sua formação. São entrevistados Rolf Lüders e Sergio de Castro, ministros de Pinochet; Ernesto Fontaine, colaborador do regime militar e formador de economistas; Carlos Massad, ex-presidente do Banco Central e ministro do governo Eduardo Frei; e Ricardo Ffrench-Davis, a voz mais crítica sobre as práticas neoliberais no Chile.

 

Faraós do Egito Moderno, de Jihan El Tahri

Percorrendo episódios-chave da história do Egito, desde 1952 às manifestações da praça Tahrir, em 2011, este filme delineia o percurso de três homens-fortes do país: Gamal Abdel Nasser (1954-1970), adepto do socialismo e do pan-arabismo; Anuar el-Sadat (1970-1981), que liderou a virada capitalista; e Hosni Mubarak (1981-2011), o mais duradouro. Todos eles, reféns das duas únicas verdadeiras forças políticas do país, a Irmandade Muçulmana e o Exército.

 

Gigante, de Zhao Liang

Denunciando o desastre ecológico provocado pelo avanço da mineração no interior da Mongólia, o filme retrata, com imagens impressionantes, a rápida devastação de pastos verdejantes, que sustentaram por séculos as tradicionais atividades pastoris, substituídos pela terra arrasada deixada no rastro da exploração intensiva de minas de ferro e carvão. Recorrendo a passagens de “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, o diretor Zhao Liang comenta este modelo de desenvolvimento predatório, em que o custo humano é igualmente altíssimo – como atestam as imagens de hospitais, lotados de mineiros com saúde comprometida pelas condições insalubres de sua profissão.

 

Sob o Sol, de Vitaly Mansky

Para obter permissão para filmar, por um ano, a vida cotidiana em Pyongyang, Coreia do Norte, o cineasta Vitaly Manzky teve que aceitar o controle de representantes do governo sobre o roteiro, as locações e o comportamento de uma família, que seria personagem do filme. O foco está na menina Zin-mi, que se prepara para celebrar o Dia da Estrela Brilhante, ou seja, o aniversário do líder supremo, Kim Jong-il. Apesar de as autoridades terem censurado as imagens, o resultado deste documentário é o oposto do que pretendiam. Deixando a câmera rodando enquanto os prepostos orientam cada tomada, ele expõe a manipulação e a tentativa de fabricação de um país ideal que só existe no discurso oficial.
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Documentários que discutem conceitos de interpretação

A Visita, de Pippo Delbono

No castelo de Versalhes, dois atores encontram-se sozinhos: o francês Michael Lonsdale e o italiano Bobò, um surdo-mudo que ficou internado 44 anos no manicômio de Aversa e de lá foi resgatado pelo diretor Pippo Delbono, que o lançou no teatro. Nos corredores deste castelo, local tão impregnado de história e simbolismos de poder, os dois homens caminham, alternando papeis, observando a luz que se infiltra pelas janelas, os quadros e os espelhos nas paredes. Camadas de arte e tempo sobrepõem-se, num diálogo livre e sem fronteiras.

 

Kate Interpreta Christine, de Robert Greene

Em 15 de julho de 1974, Christine Chubbuck, jornalista de uma emissora de TV de Sarasota, Flórida, entrou em seu estúdio, como todos os dias, para apresentar seu programa sobre assuntos locais. Chocando a todos, tirou um revólver calibre 38 de um saco de papel e suicidou-se ao vivo. Mais de 40 anos depois, ainda se especula sobre as reais razões desse ato. Neste filme, a atriz Kate Lyn Sheil (do seriado “House of Cards”) aceita a tarefa de encarnar o papel da repórter, mudando-se para sua cidade e percorrendo os locais que ela frequentava. A ideia é não só reconstituir uma trajetória marcada pela depressão mas também explorar os limites da encenação e do espetáculo.
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Documentários que utilizam animação

Nuts!, de Penny Lane

Em 1917, um médico do Kansas, dr. John Romulus Brinkley, anuncia ter descoberto a cura da impotência, defendendo o transplante de testículos de bodes em homens. Utilizando recursos como reencenações em animação, materiais de arquivo, entrevistas e um narrador bastante suspeito, o documentário envereda por um caminho impregnado de ficção que expõe um duplo objetivo: não simplesmente recuperar a biografia do polêmico Brinkey, mas explorar os caminhos da credulidade humana, da necessidade de acreditar em narrativas sedutoras. Uma necessidade que torna a espécie humana suscetível a vigaristas, políticos, líderes religiosos e manipuladores de toda ordem, inclusive cineastas.

 

Cosmopolitanismo, de Erik Gandini

Apoiando-se em imagens animadas, desenhadas à mão pelo casal Michelle e Uri Kranot, o filme desenvolve toda uma linha de reflexão em torno da possibilidade da criação de uma comunidade humana mundial, capaz de superar as divisões e conflitos criados pelas diferenças étnicas, culturais, religiosas e também pela xenofobia e o racismo. Para o bem ou para o mal, nossas ideias moldam o mundo. E, enquanto espécie, nós seres humanos estamos todos no mesmo barco.

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