Os centros de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre são repletos de prédios que estão vazios há anos, em plena crise habitacional. Após serem ocupados por famílias que não têm um teto, é só questão de tempo para que virem manchetes em alguma reintegração de posse conflituosa. O Teto Sobre Nós, curta que está no 26º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, investiga o assunto ao retratar ocupantes de um prédio aflitos porque a justiça ordenou uma ação de despejo.
Há formas e formas de sensibilizar o público sobre uma questão social importante. Não raro a opção adotada pelo realizador é a do panfleto, quando ele se limita ao registro de um discurso já pronto. Bruno Carboni escolheu outro caminho, pautando a questão por meio de um cinema sensorial.
Em O Teto Sobre Nós, situar o interior do edifício é essencial. Como vários dos prédios ocupados nas grandes metrópoles, nos deparamos com uma planta antiga, pé-direito alto, amplos salões, janelas grandes, corredores longos, portas de aço, vãos e escadarias. Esse ambiente, degradado por prováveis anos de desuso antes da ocupação, é o atual lar de quem ali mora e se configura no cerne da discussão sobre justiça social.
Carboni explorará, então, as potências cinematográficas do espaço, atemorizante, e da agonia provocada pela iminência do despejo. A virtual chegada da polícia não terá final positivo: ou saem pacificamente sem ter aonde ir ou entram em confronto com uma força armada disposta à truculência em situações dessa espécie.
Dormir esperando pelo pior é o desconforto norteador da atmosfera impressionista que o curta assumirá. Embutida pelo oportuno desenho de som de Tiago Bello (ganhador da categoria em Gramado), a escalada na intensidade dos ruídos, ecos e gritos num lugar tão reverberante carrega uma das melhores sequências do filme.
A figura sinistra – metaforicamente poderosa – do homem que insiste em aparecer na cama de Anna, uma das abrigadas, é outro elemento do pesadelo a que estão submetidos. Sua aparição talvez sugira que ressignifiquemos nossa ideia de invasão e de propriedade, conceitos importantes para pensar o conflito. Após assistir a O Teto Sobre Nós, teremos uma camada reflexiva a mais para responder à questão: quem é o verdadeiro invasor numa situação como essa?
Nota: 8,5/10 (Ótimo)
Sessões de O Teto Sobre Nós no 26º Festival Internacional de Curtas de São Paulo:
– 21/8 – Sexta – 19h30 – CineSesc
– 22/8 – Sábado – 19h – Centro Cultural São Paulo
– 25/8 – Terça – 17h – MIS (Museu da Imagem e do Som)