À frente do Cinerama.BC – Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú desde a primeira edição, o casal Barbara Sturm e André Gevaerd tem experiência em diferentes áreas do cinema: ele, além de diretor geral do evento catarinense, é diretor, montador e sócio da produtora Kinoosfera Filmes; ela, além de curadora da mostra competitiva internacional do Cinerama.BC, ocupa o cargo de diretora da distribuidora Pandora Filmes.
Em conversa com o Cine Festivais durante a quinta edição do Cinerama.BC, que termina nesta quinta (4), Barbara e André falaram sobre as características do evento, que, mesmo com dimensões reduzidas e longe dos grandes centros, já adquiriu relevância no cenário nacional de festivais.
Cine Festivais: Como surgiu a intenção de realizar um festival de cinema em Balneário Camboriú?
André Gevaerd: Conheci a Barbara no Festival de Cannes de 2010. Eu nunca tinha ido a um evento grande como esse, e voltei de lá com a ideia de começar um festival pequeno e ir crescendo aos poucos, até tornar viável a produção audiovisual em Balneário Camboriú, que é a cidade em que nasci e fui criado.
Os projetos acabaram acontecendo mais rápido do que eu imaginava. Eu já participei da produção de cinco curtas-metragens e um longa-metragem (Oração do Amor Selvagem). Também tenho dois projetos autorais como diretor que já conseguiram recursos em Balneário Camboriú e Florianópolis.
CF: Qual foi o pensamento da curadoria em relação à escolha dos filmes e à formação de olhar do público?
Barbara Sturm: Desde o começo nós exibimos filmes inéditos na mostra competitiva, principalmente indo atrás de diretores nos primeiros longas-metragens, para achar pessoas em um momento de ebulição. A seleção também sempre foi pequena, com entre sete e nove filmes, para que fosse uma coisa mais focada e na qual todo mundo pudesse assistir a todos os filmes.
Balneário Camboriú é a cidade que tem mais número de ingressos vendidos em relação à quantidade de habitantes no Brasil. Há aqui dois shoppings que, assim como em todo o Brasil, passam o mesmo filme em todas salas quando um blockbuster é lançado. Além disso, o Vale do Itajaí concentra um grande número de imigrantes europeus.
Eu achei que era um grande desafio entrar no projeto do festival e fazer uma oferta de filmes diferentes para a população dessa região, que consome cinema, mas não tem contato com trabalhos da própria cultura.
CF: Que espaço no cenário dos festivais brasileiros e internacionais o Cinerama.BC quer ocupar?
AG: A gente procurou não ocupar o mesmo espaço de festivais consagrados no Brasil, como Gramado e Brasília, e também não quis ter uma grande quantidade de filmes, como acontece na Mostra de São Paulo e no Festival do Rio.
O festival teve desde o começo um plano de expansão que vem sendo cumprido ano a ano. Começamos com um público de cerca de mil pessoas, e a cada edição ele vem aumentando. Neste ano, devido à crise econômica, é possível que não consigamos atingir a meta de cinco mil espectadores. A gente pretendia conseguir um investidor grande para apoiar o festival, mas isso vai ficar para o ano que vem, na sexta edição.
CF: Há alguém que ajuda na seleção de filmes, ou a curadoria é realizada exclusivamente por você? Por que os filmes brasileiros são minoria?
BS: Só eu vejo os filmes. Neste ano foram cerca de 850 filmes inscritos para a mostra competitiva. Sempre vou aos festivais de Berlim e San Sebastián, e tenho alguns colegas programadores que me indicam filmes, mas todos passam pelo processo da curadoria.
Em relação aos filmes brasileiros, temos muita dificuldade por uma série de motivos. O festival acontece perto do Festival de Cannes; muitos filmes já passaram na Mostra de São Paulo ou no Festival do Rio; e muitos filmes preferem esperar os festivais do segundo semestre para se inscreverem, pois eles têm uma relevância maior para a imprensa e para os distribuidores.
De todo modo, temos a Mostra Catarina, que traz filmes do estado de Santa Catarina, e sempre há curtas nacionais na competição. Entre os longas, sempre tivemos pelo menos um brasileiro na competitiva, mas esse ano não encontramos nenhum que pudesse ser selecionado.
CF: Há um direcionamento em relação ao perfil dos filmes que são exibidos ano após ano?
AG: O regulamento nunca colocou nenhuma restrição a realizadores experientes, mas acabou sendo orgânica a transformação do festival em um espaço que lança novos talentos do cinema internacional.
Pelo histórico da curadoria que a Barbara vem fazendo, a gente vai assumir a partir de agora esse papel, até porque não tem nenhum outro festival internacional no Brasil que se preocupe com essa característica.
Eu acho que a identidade não pode ser uma coisa fechada. Quando há uma formatação grande, isso pode ser prejudicial. Já vi muito evento legal que começa a perder o brilho por causa disso. As coisas têm que ser um pouco livres.
No caso do Cinerama.BC a gente vai se assumir como um festival que dá espaço para novos realizadores, colocar isso como bandeira, mas talvez daqui a dez ou 15 anos isso não faça mais sentido. Temos que ter essa flexibilidade.
*O repórter está hospedado em Balneário Camboriú a convite da organização do 5º Cinerama.BC
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