Em um tempo em que as redes sociais viraram uma espécie de diário público da vida de muitas pessoas, uma atitude como a do artista José Leonilson (1957-1993), que gravou nos anos 90 uma série de fitas cassete que revelam seus pensamentos cotidianos, pode parecer banal. O fato ganha em complexidade quando sabemos que a ideia de Leonilson era que o material fosse tornado público somente após a sua morte. É exatamente isso que faz o documentário A Paixão de JL, dirigido por Carlos Nader, que tem as suas primeiras exibições durante a 20ª edição do festival É Tudo Verdade.
Morto pela Aids em 1993, Leonilson não começou a gravar as fitas devido à doença. Sua inquietação inicial, portanto, era de cunho existencial, enquanto que uma preocupação maior com a própria finitude viria a se juntar a ela depois da descoberta do HIV positivo. As suas falas abrangem temas como a solidão, os casos amorosos, os acontecimentos políticos e culturais da época, o medo da reação dos pais à sua orientação sexual, o pavor de ser infectado e os posteriores efeitos trazidos pela enfermidade.
Uma opção interessante do diretor foi a de não usar imagens de arquivo que apresentem a figura de José Leonilson. Boa parte do filme mostra fitas cassete, enquanto entramos em contato com ele apenas pela sua voz e por suas obras de arte. Nesse ponto, as relações entre o conteúdo de suas falas e o seu trabalho são tão nítidas que podemos dizer que um dos maiores méritos de A Paixão de JL é o de conseguir corporificar Leonilson a partir de suas criações artísticas.
Em Homem Comum, seu longa-metragem anterior, Nader adotou como figura central o caminhoneiro Nilson de Paula, que tratava com admirável simplicidade e distanciamento perguntas sobre o sentido da vida e outros temas metafísicos. No novo trabalho, Leonilson surge como uma antítese dessa postura. O artista jorra questionamentos internos, e o filme é hábil ao retratar esse universo particular.
Nota: 7,5/10 (Bom)
Sessões do filme no 20º É Tudo Verdade:
– 15/4/2015 – 21h – Cine Livraria Cultura (São Paulo)
– 16/4/2015 – 15h – Cine Livraria Cultura (São Paulo)