Serviço
Indie Festival – Mostra de Cinema Mundial
Local: CineSesc (Rua Augusta, 2075 – Cerqueira César)
Data: De 17 de setembro a 1º de outubro de 2014
Entrada gratuita
Depois de passar por Belo Horizonte entre os dias 3 e 10 de setembro, a 14ª edição do Indie Festival – Mostra de Cinema Mundial chega ao CineSesc, em São Paulo, no dia de 17 de setembro. Até o dia 1º de outubro, o evento vai exibir 30 filmes contemporâneos de diversos países e terá retrospectivas dos cineastas Eugène Green e Albert Serra, contando ainda com uma seleção de filmes que homenageiam a música punk.
Voltado aos filmes independentes, o Indie testemunhou uma mudança deste cenário desde sua criação. “O mercado do cinema independente existe há muitos anos, mas o que eu acho que mais mudou foi a negociação dos filmes. Hoje, muitos deles são vendidos para mais de 30 países, o que mostra a expansão desse mercado”, opinou a curadora Francesca Azzi em conversa com o Cine Festivais.
Na entrevista a seguir, Francesca comentou sobre a trajetória do Indie, falou sobre as peculiaridades dos cineastas homenageados nesta edição do evento e apontou alguns destaques da programação do festival.
Cine Festivais: Como o cenário de filmes independentes se alterou ao longo dos anos de existência do Indie e que mudanças aconteceram no festival?
Francesca Azzi: Mudou muito. Os festivais cresceram e o mercado do cinema independente é muito maior hoje do que era nos anos 90. O Indie começou timidamente em Belo Horizonte, em um período em que as leis de incentivo ainda estavam em seu início. A gente trabalhava muito mais com os clássicos nas retrospectivas, então o público que frequentava o Indie nesse início teve uma formação mais cinéfila.
Conforme o festival foi crescendo, começamos a negociar lá fora e passamos a ter pré-estreias inéditas, em um modelo mais parecido com o dos outros eventos. O mercado do cinema independente existe há muitos anos, mas o que eu acho que mais mudou foi a negociação dos filmes. Hoje, muitos deles são vendidos para mais de 30 países, o que mostra a expansão desse mercado.
CF: É possível dizer que o Indie funciona como um formador de público, principalmente em relação ao tipo de cinema que o festival apoia?
FA: Com certeza. Isso é bem legal, porque nós acompanhamos essa mudança de público. As pessoas que frequentavam no início envelheceram, e o público acaba sendo trocado naturalmente, até porque os mais jovens têm mais tempo para ir ao cinema.
Recentemente, uma matéria do jornal Hoje Em Dia entrevistou alguns frequentadores mais antigos do Indie e mostrou como o festival foi importante na formação dessas pessoas, que puderam ter contato com outro tipo de cinema. Muita gente me diz que começou a gostar de cinema japonês, ou de diretores como o Béla Tarr, depois de assistirem a filmes no festival.
Em São Paulo isso funciona de um modo diferente, já que o CineSesc possui um público cativo de cinéfilos, mas temos conseguido atrair o público jovem cada vez mais, principalmente com os filmes da Mostra Mundial. Temos notado um crescimento desse público nos últimos anos.
CF: Está ocorrendo agora em São Paulo o 2º Cinema Bit – Mostra Internacional de Cinema Digital, cuja proposta é de exibir filmes “ultraindependentes”, feitos com ainda menos dinheiro. Como você lida com essas subdivisões que surgem dentro do nicho de filmes independentes?
FA: Dentro do panorama independente você pode ter filmes de orçamentos bem altos mesmo, assim como pode ter trabalhos feitos com uma equipe muito reduzida. No Indie a curadoria escolhe o filme pelo o que ele é, e não pelo processo de produção.
No ano passado fizemos uma retrospectiva do documentarista chinês Wang Bing, que faz um cinema à margem da cultura chinesa e dos grandes orçamentos. A japonesa Naomi Kawase (que recebeu retrospectiva de sua obra no Indie em 2009), que começou com filmes experimentais, hoje já figura em festivais como o de Cannes. Faz parte do processo do artista se deslocar de uma produção mais experimental para uma produção maior. É natural. Ele não deixa de ser artista porque teve dinheiro (risos). Isso não é medida de nada.
CF: Falando sobre o festival deste ano, quais são as características do cinema de Albert Serra, que receberá retrospectiva no Indie? A obra dele é conhecida no Brasil?
FA: Serra é um catalão de 40 anos de idade que nunca teve nenhum de seus filmes lançados no Brasil, e nem acho que vai ter tão cedo, porque faz um cinema que foge do comercial e utiliza uma linguagem absolutamente inédita. Ele causa bastante estranhamento para os espectadores que não estão acostumados ao cinema dele.
É um diretor controverso tanto pela critica quanto pelo publico, tem quem ame e odeie. No ano passado o Indie exibiu o último filme dele, chamado História da Minha Morte, que ganhou o Festival de Locarno.
Os filmes dele trabalham quase sempre com personagens históricos e da literatura e fazem uma releitura muito pessoal e minimalista. Em O Canto dos Pássaros, ele faz isso com os três reis magos; em Honra dos Cavaleiros, o retratado é Dom Quixote. Ele sempre mostra os personagens por um ponto de vista menos heroico e mais humano, com um elemento de observação.
CF: E sobre Eugène Green?
FA: O cinema de Green tem em comum com o de Serra a questão da originalidade e da ruptura de linguagem. Ambos causam estranhamento em função de romperem com uma narrativa mais clássica e criarem novos padrões de linguagem, mas são radicalmente diferentes na forma.
Eugène Green nasceu nos EUA, mas é radicado na França. Ele começou a fazer cinema quando tinha mais de 50 anos, e trouxe a sua bagagem do teatro e da literatura para os filmes dele. É um cineasta mais formal, tanto estética quanto tematicamente.
Na primeira vez em que se entra em contato com os filmes dele você fica meio chocado com o posicionamento dos atores, os cortes, os planos lentos. À medida que assiste aos outros filmes, você começa entrar no mundo próprio do Eugène Green. É uma maneira muito especial de pensar cinema, e o legal é que tanto ele quanto o Albert Serra virão a São Paulo para conversar com o público sobre seus filmes.
CF: Entre os filmes contemporâneos, você poderia apontar alguns destaques da Mostra Mundial?
FA: Em São Paulo a gente vai passar dois filmes que não estiveram na programação de BH: A Primer In Sky Socialism, trabalho em 3D que é dirigido pelo Ken Jacobs, um americano de 80 anos muito famoso no cinema experimental; Jornada ao Oeste, do conhecido diretor malaio Tsai Ming-Liang.
Temos alguns filmes japoneses e argentinos; um filme húngaro chamado Queda Livre, que adota uma linguagem meio surrealista; outro austríaco, chamado Shirley – Visões da Realidade, que se inspira nas telas de Edward Hopper. Há também trabalhos mais pops, como o americano Listen Up Philip, e alguns filmes que estiveram participando do recente Festival de Locarno, como Buzzard.
Serviço
Indie Festival – Mostra de Cinema Mundial
Local: CineSesc (Rua Augusta, 2075 – Cerqueira César)
Data: De 17 de setembro a 1º de outubro de 2014
Entrada gratuita