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#criações – Jo Serfaty (Um Filme de Verão)

04/03/21 às 11:25
#criações – Jo Serfaty (Um Filme de Verão)

Inspirada pela série “materials”, realizada pelo blog do festival austríaco Viennale, #criações tem como objetivo recolher diretamente com cineastas quaisquer tipos de arquivos (livros, fotos, vídeos, clipes, citações, histórias, etc.) que influenciaram seus processos criativos e/ou que documentam a produção de seus filmes.

A terceira convidada da série é a diretora e roteirista Jo Serfaty, realizadora de Um Filme de Verão. Depois de estrear na Mostra de Tiradentes de 2019, na qual a montadora Cristina Amaral recebeu o Prêmio Helena Ignez, o trabalho circulou por outros festivais nacionais (como o Olhar de Cinema e o Janela Internacional de Cinema do Recife) e internacionais (como Mar Del Plata e DocLisboa).

Abaixo, Jo narra um pouco da trajetória anterior à realização do filme, envia fotos que ilustram esse processo e conta como chegou ao poema que ilumina o final da obra.

Para escrever sobre o processo de Um Filme de Verão preciso compartilhar o projeto Diário de Férias, realizado em 2012/2013. O projeto antecedeu a criação do filme e estimulou a troca e encontro com os personagens e o espaço antes de pensarmos em realizar o longa. Durante dois meses no período de férias, convidamos quatro dos estudantes da escola pública onde fui professora para participarem desta vivência intensiva. O projeto abriu espaço para germinar um terreno comum com os jovens, pois acreditávamos na experimentação criativa e abertura para imaginários como ponto de partida. Sobretudo em um contexto no qual o silenciamento oprime as diferenças. Neste espaço, convidamos artistas de várias áreas (artes visuais, cinema, arte sonora e performance) para oferecerem uma proposta de dispositivos para os quatro adolescentes. Deste encontro com os artistas surgiu a produção de um material muito inventivo, fragmentado, uma colagem de inventários sobre as férias.

Este material nos chamou muita atenção e nutriu um desejo de criar um filme com estes adolescentes. Na verdade, mais do que nutriu, também nos inspirou a propor um filme-colagem, como um diário, assumindo o caráter fragmentado com múltiplos pontos de vista. E ainda, alguns fragmentos destas criações foram depois incorporados ao filme, como no off de Karollayne que abre o filme.

Ao longo do processo de criação do roteiro, quando o Caio se transmutou em vários, me lembrei muito da frase de Quinha em Santo Forte (Eduardo Coutinho, 1999): “Hoje eu acordei macho, um dia em amanheço homem, outro dia mulher”. Neste sentido, gosto do modo como Coutinho não busca julgar os personagens para não os encaixar em moldura já previstas. Assim como (Andrea) Tonacci, que diz: “Fazer documentário é conseguir andar no ritmo do outro”. Estas ideias me inspiram e dão forma para construir um filme mais conectado com o movimento e desejo destes quatro adolescentes. Por isto, quando Caio me mostrou a poesia “Odalisca andróide”, de Fausto Fawcett, interpretada por Maria Bethânia, logo pensei em criarmos uma versão improviso sobre esta poesia, incorporando os diversos anseios cosmológicos, materiais, subjetivos. E é este poema que termina Um Filme de Verão sobre o plano de Junior na Paraíba.

Leia também:

>>> Jo Serfaty e Isaac Pipano falam sobre Um Filme de Verão

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