Vencedor por três vezes da competição de longas-metragens do festival internacional de documentários É Tudo Verdade – com Pan-Cinema Permanente, Homem Comum e A Paixão de JL – o diretor paulista Carlos Nader ganhou uma retrospectiva com os seus principais trabalhos na edição deste ano do evento, que ocorre de 7 a 17 de abril em São Paulo e Rio de Janeiro e terá itinerâncias em Belo Horizonte, Brasília, Recife e Santos.
“Depois dessas duas premiações consecutivas nos últimos anos, tivemos que bater o olho na obra do Carlinhos para entender melhor esse trabalho. É interessante notar como a filmografia dele acompanha a história do É Tudo Verdade. Sua estreia em longas, Preto e Branco, participou da competição do festival, e desde então nós caminhamos em paralelo com a consolidação e o amadurecimento do talento dele”, diz Amir Labaki, criador e diretor do festival.
Outros diretores homenageados pela programação deste ano, através de filmes que examinam as suas obras, são o francês Claude Lanzmann, a belga Chantal Akerman e o brasileiro Ruy Guerra, além do documentarista e diretor de fotografia americano Haskell Wexler.
O filme de abertura na edição paulistana será o italiano Fogo no Mar, de Gianfranco Rosi, que no último mês de fevereiro recebeu o Urso de Ouro (melhor filme) no Festival de Berlim. Filmado de maneira contemplativa, o trabalho segue o cotidiano de uma família de Ilha de Lampedusa, polo de atração de refugiados africanos que desejam seguir a vida na Europa.
Rosi já era figura carimbada na programação do É Tudo Verdade antes mesmo da consagração em festivais. Em 2010, por exemplo, foi exibido o filme O Sicário: Quarto 164, sobre um matador de aluguel que colaborou com um cartel de drogas mexicano. Além de Berlim, o italiano também venceu o prêmio máximo do Festival de Veneza, em 2013, com Sacro GRA, que documentou a vida de pessoas que vivem ao redor de um anel viário italiano.
“O período de existência do É Tudo Verdade coincidiu com a abertura dos grandes festivais de cinema para documentários em suas competições oficiais. Tivemos o Michael Moore vencendo o Festival de Cannes em 2004 (Fahrenheit 11 de Setembro) e agora o Rosi com prêmios em Berlim e Veneza. Isso mostra uma sensibilidade dos curadores com o que está acontecendo com o documentário de uma maneira geral, já que o gênero que está pulsando com mais força e aquele esteticamente mais interessante recentemente”, opina Amir.
Veteranos na disputa
A 21ª edição do É Tudo Verdade vai exibir 85 títulos, vindos de 26 países, sendo que 22 filmes farão a sua estreia mundial, um recorde na história do evento.
Na competição brasileira, três veteranos estão na competição de longas-metragens: os irmãos Walter Carvalho (Manter a Linha da Cordilheira Sem o Desmaio da Planície) e Vladimir Carvalho (Cícero Dias, o Compadre de Picasso), e Eduardo Escorel (Imagens do Estado Novo 1937-45).
Conheça a seguir todos os filmes em competição. A programação completa, com os horários das sessões, será divulgada em breve no site oficial do É Tudo Verdade.
COMPETIÇÃO BRASILEIRA: LONGAS OU MÉDIAS – METRAGENS
CACASO NA CORDA BAMBA
Direção: José Joaquim Salles, Ph Souza
Brasil-RJ, 88′, 2016
Antonio Carlos de Brito abandonou um destino próspero para tornar-se Cacaso, um dos líderes do movimento da poesia marginal, da luta do mimeógrafo contra a censura da ditadura militar, nos anos 1970. Estreia mundial.
CÍCERO DIAS, O COMPADRE DE PICASSO
Direção: Vladimir Carvalho
Brasil-DF, 79’, 2016
Ligado aos modernistas e influenciado por sua convivência com artistas de vanguardas europeias como Pablo Picasso, Fernand Léger e Joan Miró, o pintor pernambucano Cícero Dias criou uma arte que atravessa fronteiras. Estreia mundial.
GALERIA F
Direção: Emília Silveira
Brasil-RJ, 86′, 2016
Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), preso e torturado durante nove anos, condenado inicialmente à morte pelo assassinato de um sargento em 1971, Theodomiro Romeiro dos Santos refaz sua trajetória. Estreia mundial.
IMAGENS DO ESTADO NOVO 1937-45
Direção: Eduardo Escorel
Brasil-RJ/SP, 227′, 2016
Através da comparação e análise de materiais de arquivo, o filme reavalia a herança do período ditatorial de Getúlio Vargas, expondo suas fontes de inspiração externas, sua forma de funcionamento e contradições. Estreia mundial.
JONAS E O CIRCO SEM LONA
Direção: Paula Gomes
Brasil-BA, 82′, 2015
Jonas mantém um pequeno circo no fundo do quintal de sua casa. O abandono pelos seus colegas, a obrigação de estudar e sua própria adolescência tornam seu sonho difícil de sustentar. Estreia nacional.
MANTER A LINHA DA CORDILHEIRA SEM O DESMAIO DA PLANÍCIE
Direção: Walter Carvalho
Brasil-RJ, 88’, 2016
O poeta Armando Freitas Filho faz poemas como quem pesca seus achados manuscritos em grandes cadernos em que deixa uma grande margem livre para as quase intermináveis correções. Estreia mundial.
O FUTEBOL
Direção: Sergio Oksman
Brasil-SP/Espanha, 70′, 2015
Sergio e seu pai, Simão, não se viram ao longo de 20 anos. A Copa de 2014 no Brasil é um pretexto para uma reaproximação. Suas conversas os levam ao encontro do passado e das questões deixadas em aberto pela distância. Estreia nacional.
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL: LONGAS OU MÉDIAS – METRAGENS
327 CADERNOS
Direção: Andrés Di Tella
Argentina/Chile, 76′, 2015
O escritor Ricardo Piglia volta à Argentina natal e propõe-se a revisar seus diários pessoais, os quais ele escreve há mais de 50 anos.
ANOS CLAROS
Direção: Frédéric Guillaume
Bélgica, 76′ 2015
Filmado ao longo de quase dez anos, o documentário constitui uma crônica intimista de um trecho da vida do diretor Frédéric Guillaume. Após o nascimento da filha Juliette, uma confissão de sua amada Claire torna o filme uma investigação sobre a dor e a incerteza.
CATÁSTROFE
Direção: Alina Rudnitskaya
Rússia, 52′, 2016
Em 2009, um dos maiores desastres tecnológicos do mundo ocorreu na Hidrelétrica Sayano-Shushenskaya, na Rússia. Cinco anos depois, ainda não foi oficializada a causa do desastre, mas alguns dos engenheiros acusados continuam presos. Estréia mundial.
CHICAGO BOYS
Direção: Carola Fuentes, Rafael Valdeavellano
Chile, 96′, 2015
Responsáveis pelo modelo econômico ultraliberal instalado no Chile na ditadura Augusto Pinochet (1973-1990), os chamados “Chicago Boys” – economistas formados na Universidade de Chicago – recontam sua formação.
GIGANTE
Direção: Zhao Liang
França, 90′, 2015
Denunciando o desastre ecológico provocado do avanço da mineração no interior da Mongólia, o filme retrata os altos custos humanos e naturais deste modelo predatório.
KATE INTERPRETA CHRISTINE
Direção: Robert Greene
EUA, 110′, 2016
Mais de 40 anos depois do suicídio da jornalista Christine Chubbuck durante o programa que apresentava ao vivo, a atriz Kate Lyn Sheil encarna o papel da repórter, reconstituindo uma trajetória marcada pela depressão e explorando os limites da encenação e do espetáculo.
NO LIMBO
Direção: Antoine Viviani
França, 85′, 2015
Recorrendo ao artifício de um misterioso espírito que adentra a internet, o documentário explora algumas das grandes questões destes nossos tempos digitalizados.
NUTS!
Direção: Penny Lane
EUA, 79′, 2016
Em 1917, um médico do Kansas, dr. John Romulus Brinkley, anuncia ter descoberto a cura da impotência, defendendo o transplante de testículos de bodes em homens. O documentário expõe não só a biografia do polêmico Brinkey, mas explora os caminhos da credulidade humana, da necessidade de acreditar em narrativas sedutoras.
PACIENTE
Direção: Jorge Caballero Ramos
Colômbia, 85′, 2015
Nubia é uma mãe dedicada ao cuidado intensivo de sua filha, Leidy Johana, de 23 anos, que sofre de uma forma agressiva de câncer. Num estilo seco e despojado, o diretor Jorge Caballero Ramos acompanha o calvário da mãe pelo sistema de saúde colombiano.
SOB O SOL
Direção: Vitaly Mansky
Rússia/Letônia/Alemanha/República Checa/Coreia do Norte, 106’, 2015
Em uma representação criada pelo governo, a menina Zin-mi se prepara para celebrar o aniversário do líder supremo Kim Jong-il. Apesar de as autoridades terem censurado as imagens, o cineasta Vitaly Mansky expõe a manipulação e a tentativa de fabricação de um país ideal que só existe no discurso oficial.
TUDO COMEÇOU PELO FIM
Direção: Luis Ospina
Colômbia, 208′, 2015
O diretor colombiano Luis Ospina volta-se para o período de 20 anos, entre 1971 e 1991, para recontar uma parte importante da própria vida. Paralelamente a esse resgate de suas memórias, Ospina defrontou-se com um diagnóstico de câncer.
UM CASO DE FAMÍLIA
Direção: Tom Fassaert
Holanda/Bélgica/Dinamarca, 116′, 2015
O diretor recebe um convite de sua avó Marianne, de 95 anos, para visitá-la. Naquele ponto, tudo o que ele sabia sobre ela eram histórias negativas que seu pai o contou. Porém, quando ela faz uma confissão inesperada, as coisas se tornam mais complicadas.
COMPETIÇÃO BRASILEIRA: CURTAS – METRAGENS
A CULPA É DA FOTO
Direção: Eraldo Peres, André Dusek, Joédson Alves
Brasil-DF, 15′, 2015
Num dia de 1984, repórteres fotográficos deixam suas câmeras no chão em forma de protesto durante a saída do presidente general João Baptista Figueiredo do Palácio do Planalto.
ABISSAL
Direção: Arthur Leite
Brasil-CE, 17′, 2016
A investigação da história de sua própria família leva o cineasta cearense Arthur Leite a descobrir informações inesperadas sobre esse passado desconhecido através de revelações de sua avó Rosa. Estreia mundial.
AQUELES ANOS EM DEZEMBRO
Direção: Felipe Arrojo Poroger
Brasil-SP, 19′, 2016
O neto de um casal tenta juntar os fragmentos da história de seus avós após quase setenta anos do dia do encontro deles. Estreia mundial.
BUSCANDO HELENA
Direção: Roberto Berliner, Ana Amélia Macedo
Brasil-RJ, 22′, 2016
O dia em que Ana e Roberto levaram seu bebê para casa. Estreia mundial.
FORA DE QUADRO
Direção: Txai Ferraz
Brasil-PE, 21′, 2016
As histórias de vida do pedreiro azulejista Alberto, da professora Vânia, da empregada doméstica Chica e da estudante Rob. Estreia mundial.
O OCO DA FALA
Direção: Miriam Chnaiderman
Brasil-SP, 17′, 2016
Depoimentos de pessoas traumatizadas pela violência do Estado compõem o perfil de uma São Paulo que se debruça sobre as marcas e memórias da ditadura. Estreia mundial.
PRAÇA DE GUERRA
Direção: Edi Junior
Brasil-PB, 19′, 2015
Inspirados pelas ideias de Che Guevara e Régis Debray, criadores de foco de guerrilha na Serra do Capim-Açu são presos e entram em contato com a maconha e todo um outro modo de vida alternativo nos anos 1960.
SEM TÍTULO # 3 : E para que poetas em tempo de pobreza?
Direção: Carlos Adriano
Brasil-SP, 14′, 2016
Da série “Apontamentos para uma Auto Cine Biografia (em Regresso)”, algumas considerações (im)prováveis e (im)ponderáveis sobre a (im)pertinência e o (não)lugar da poesia em nossos tempos. Estreia mundial.
VIDA COMO RIZOMA
Direção: Lisi Kieling
Brasil-RS, 14′, 2016
O jovem músico Klaus Volkmann, conectado com formas simples e sustentáveis de vida, encara a existência como algo potencialmente capaz de ramificar-se em qualquer direção. Estreia mundial.
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL: CURTAS – METRAGENS
A GLÓRIA DE FAZER CINEMA EM PORTUGAL
Direção: Manuel Mozos
Portugal, 16′, 2015
Em 1929, o escritor José Régio escreve ao amigo Alberto Serpa manifestando o desejo de criar uma produtora de cinema. 90 anos depois, uma bobina de filme mudo surge como indício dessa suposta estreia de Régio no cinema.
A VISITA
Direção: Pippo Delbono
França, 22′, 2015
No castelo de Versalhes, dois atores encontram-se sozinhos: o francês Michael Lonsdale e o italiano Bobò, um surdo-mudo que ficou internado 44 anos no manicômio de Aversa. Camadas de arte e tempo sobrepõem-se, num diálogo livre e sem fronteiras
CARACÓIS
Direção: Grzegorz Szczepaniak
Polônia, 30′, 2015
De olho no crescente sucesso da criação de escargots, dois amigos poloneses, Andrzej e Konrad, decidem criar seu próprio negócio no ramo. E a empreitada acaba tendo um caráter também existencial e até filosófico.
CARMEN
Direção: Mariano Samengo
Argentina, 16′, 2015
A morte de Carmen Brancone, última avó do diretor Mariano Samengo, desencadeia uma mudança drástica na vida do cineasta. Três dias depois de seu enterro, ele decide filmar sua mãe e sua tia, que se ocupam da tarefa de esvaziar a casa da avó. Estreia mundial.
COSMOPOLITANISMO
Direção: Erik Gandini
Suécia, 17′, 2015
Apoiando-se em imagens animadas desenhadas à mão, o filme desenvolve uma linha de reflexão em torno da possibilidade da criação de uma comunidade humana mundial, capaz de superar as divisões e conflitos criados pelas diferenças.
EU TENHO UMA ARMA
Direção: Ahmad Shawar
Palestina, 20′, 2015
Em 2002, a vila palestina de Kafar-Kaddoum sofreu expropriação de terras por forças de ocupação israelenses, para a criação de uma colônia, Kedumim. Desde então, os moradores locais realizam protestos semanais. Estreia mundial.
FATIMA
Direção: Nina Khada
Alemanha, 19′, 2015
Buscando suprir as lacunas em torno das próprias raízes, a cineasta Nina Khada vai ao encontro da biografia da avó argelina, Fatima. Nem ela, nem o pai de Nina mostram-se dispostos a falar de sua trajetória de exílio rumo à França.
MUNIQUE `72 E ALÉM
Direção: Stephen Crisman
EUA, 29′, 2016
Quatro décadas depois do ataque terrorista na Vila Olímpica de Munique em 1973, novas entrevistas com testemunhas oculares, autoridades e familiares dos mortos revelam detalhes aterradores sobre o tratamento das vítimas. Estreia mundial.
O ATIRADOR DE ELITE DE KOBANI
Direção: Reber Dosky
Holanda, 12′, 2015
Palco de uma das mais encarniçadas batalhas entre o Estado Islâmico e os guerrilheiros curdos, a cidade síria de Kobani, na fronteira com a Turquia, abriga um personagem peculiar – o atirador de elite curdo Haron.