facebook instagram twitter search menu youtube envelope share-alt bubble chevron-down chevron-up link close dots right left arrow-down whatsapp back

Depois da Chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes

27/01/14 às 11:50 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Depois da Chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes

De Tiradentes

 

Assim como Tatuagem, de Hilton Lacerda, Depois da Chuva é um filme que volta seu olhar a um momento específico do passado brasileiro para, no fundo, fazer um comentário sobre o presente do país. A escolha dos diretores Cláudio Marques e Marília Hughes é por situar a obra em um período histórico pouco explorado pela filmografia nacional, que vai da campanha fracassada pelas eleições diretas para presidente até a morte de Tancredo Neves. Fazendo esse recorte, os cineastas conseguem problematizar uma época que geralmente é lembrada apenas pela sensação de euforia que aos poucos deu lugar ao desapontamento pelo rumo político tomado pelo país.          

Caio (Pedro Maia) não está eufórico com o processo de abertura democrática do Brasil. Enquanto seus colegas de classe discutem a criação de um grêmio estudantil, tipo de organização proibida pela Ditadura Militar, ele se mantém afastado da discussão e propõe que todos anulem os votos. Na visão do garoto, os novos rumos tomados tanto pelo país quanto pela escola não passam de uma farsa.

Um plano que se repete algumas vezes no filme (Caio pulando o muro da escola) diz bastante sobre o protagonista, que vê como obstáculos tudo aquilo que poderia ser aceito como natural: o estado da educação (conservadora e pouco reflexiva), da política (comandada por políticos tradicionais que pouco representam os jovens) e da família (tem um pai distante e uma mãe completamente alienada). Há, sobretudo, um forte sentimento de contestação, que se reflete nos ideais políticos, nas amizades e no gosto musical.     

Os breves inserts com imagens televisivas da cobertura política da época pontuam algumas passagens da narrativa, mas não deixam que um tom de didatismo prevaleça. Um exemplo disso está na cena em que um discurso de Tancredo Neves sobre os anseios da juventude é acompanhado pela TV por jovens que não poderiam ser mais diferentes do que aqueles que o político retrata.

Vencedor do prêmio de melhor ator no último Festival de Brasília pelo papel, Pedro Maia é hábil ao retratar um jovem cheio de questionamentos internos através de uma atuação contida e cheia de nuances. De forma geral, o elenco convence e é fundamental para o sucesso do filme.

Depois da Chuva pode ser visto como uma espécie de romance de formação de um jovem e de um país, mas é essencialmente um retrato cinematográfico da criação daquilo que o cientista político Marcos Nobre chama de pemedebismo, um sistema político fechado em si mesmo, avesso às demandas sociais e que usa a governabilidade para justificar qualquer tipo de aliança.

Caio não precisou esperar 30 anos para protestar contra isso.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

Entre em contato

Assinar

Siga no Cine Festivais