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Todos os Dias, de Michael Winterbottom

23/10/13 às 14:35 Atualizado em 17/10/19 as 19:23
Todos os Dias, de Michael Winterbottom

Há uma proeza de planejamento nesta nova ficção de Michael Winterbottom (A Festa Nunca Termina, 9 Canções): o filme foi intencionalmente rodado ao longo de cinco anos. Essa escolha beneficiou a percepção de crescimento das crianças e mudanças estéticas dos adultos que formam o elenco central – além de solidificar o tom intimista que dá brilho à história.

O longa acompanha cinco anos na vida de uma família britânica de classe média, abalada pela prisão de Ian (John Simm). Encarcerado durante a maior parte do filme, ele recebe visitas periódicas de sua esposa Karen (Shirley Henderson) e de quatro filhos pequenos que sofrem com a ausência do pai.

Analisando somente o roteiro, a falta de conflitos substanciais e o abrandamento de ganchos para o desastre parecem um tiro no pé que impedirá Todos os Dias de decolar. Mas Winterbottom parece manter uma preocupação atmosférica em primeiro lugar. Mesmo partindo de uma premissa tensa, não é errado dizer que este é um filme de bem estar. A repetitiva trilha sonora de Michael Nyman (que aqui pode ser confundido com Sigur Rós) e os recorrentes planos abertos verdejantes parecem unicamente planejados para causar alívio.

Além desse ambiente seguro, garantido por paisagens e música, há muitos enquadramentos fechados priorizando os rostos – muitas vezes amistosos e inocentes das crianças. Adicione isso às inúmeras situações casuais da história e à evolução orgânica do tempo e, pronto, você terá criado um espectador aconchegado o suficiente para pensar que é mais um membro da família. (Destaque para um casal que, após o fim da sessão desta terça-feira (22) no Shopping Frei Caneca, discutia seriamente a possibilidade de ter acabado de assistir a um reality show.)

O estilo despojado de filmar, o detalhe incômodo da prisão e a opção por não riscar da pauta assuntos como sexo e drogas são os aspectos que ancoram o longa antes de ele atingir a pieguice plena. Na maior parte do tempo, o diretor consegue conter o filme dentro desse limite, permitindo que ele seja fofo sem ser bobo e bucólico sem ser tedioso. Ainda assim, todo esse esforço gerou apenas um filme agradável, longe de ser um grande achado cinematográfico – algo que está ao alcance de Winterbottom.

*Filme visto na 37ª Mostra de São Paulo

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