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A festa dos cinemas: conheça a história da Mostra

24/10/13 às 08:59 Atualizado em 07/04/14 as 01:37
A festa dos cinemas: conheça a história da Mostra

Percorrer dezenas de países em alguns meses com a intenção de selecionar destaques do cinema nos quatros cantos do mundo. Conhecer os autores e produtores, negociar exibições, iniciar parcerias, firmar contratos e produzir um evento cultural de grande magnitude, que hoje envolve, além de mais de 20 salas de cinema exibindo a extensa programação, exposições, retrospectivas de cineastas consagrados, programa de depoimentos sobre cinema, seções ao ar livre, festivais educativos e premiações. Há 37 anos, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo anualmente apresenta os cinemas que não aparecem em nossos grandes complexos, narrativas e estéticas raras até nas “salas de nicho”.

Nascida como um gesto comemorativo aos 30 anos do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1974, a Mostra foi produto de uma dedicação inspirada e personalista de Leon Cakoff, criador, diretor e curador da Mostra durante 35 anos – faleceu em 2011, deixando a organização a cargo de Renata de Almeida, sua esposa e co-diretora desde 1989. Até chegar a ser o que é hoje, a Mostra passou por diversas transformações, geralmente agregadoras ao seu maior significado: trazer pedaços do mundo a São Paulo por meio do cinema.  

 
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Conotação política e resistência à censura
 
Ainda na direção do Departamento de Cinema do Masp, na década de 70, Cakoff já se empenhava em montar uma programação preciosa para uma cinefilia podada pela censura imposta pelo governo Geisel. Os primeiros anos de Mostra também pertencem a esse cenário: coletar uma variedade significativa de filmes implicava em transportar rolos clandestinamente ou destinar esforços hercúleos para conseguir se comunicar com alguns países. Imaginem o que era tentar trazer um filme cubano, feito realizado já no 2º ano de Mostra, em 1978, com A Última Ceia, de Tomás Gutierrez Alea, que conquistou o Prêmio do Público. 
 
Se a ideia central da Mostra, entre outras coisas, era estampar pluralidade, Cakoff teria que comprar algumas brigas com o regime. Venceu a maioria delas. Perdeu em casos muito específicos: um curta-metragem sobre a educação socialista de crianças na China foi vetado (Mostra de 1980) e outro caso, mais grave, ocorreu quando a Polícia Federal invadiu o Cine Metrópole e suspendeu a Mostra durante quatro dias por não estar submetendo suas obras à avaliação prévia (Mostra de 1984). Ainda assim, houve espaço para o cinema militante, como o de Rui Simões ou Paradjanov. O húngaro Pál Gábor, por exemplo, denunciou, no filme feminista A Doutrinação de Vera (Mostra de 1979), a maneira como a união soviética tratava as mulheres no Leste Europeu. 
 
A Mostra e os outros cinemas
 
Driblar a censura era pré-requisito para todas as outras liberdades, não só a da expressão política. Filmes sobre temas tabus sempre tiveram espaço na seleção de Cakoff; do horror sobrenatural e dramático de Possessão (Mostra de 1981), de Andrej Zulawski, ao erotismo em Saló – 120 dias de Sodoma (mesmo ano), de Pasolini. Mais do que mera intenção de chocar, tal abertura também permitia a chegada de experimentações estéticas ao país, dando voz a importantes movimentos em gestação e a cineastas saindo do berço. São Paulo viu, por exemplo, Cães de Aluguel (Mostra de 1992), do então desconhecido Quentin Tarantino, e foi espaço para a estreia de brasileiros que seriam cultuados posteriormente, como o diretor Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus (Mostra de 2005). 
 
Em 37 anos, pudemos assistir a uma série de dez filmes sobre os Dez Mandamentos em O Decálogo (Mostra de 1989), de Kieslowski, ou às time-lapses de Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio, o primeiro da trilogia Qatsi, ganhador do Prêmio do Público na Mostra de 1984. Revisitamos, em retrospectiva, as obras de Luis Buñuel (Mostra de 2000), Ingmar Bergman (Mostras de 1993 e 2008), Yasujiro Ozu (Mostras de 2003 e 2013, em curso) e Stanley Kubrick (Mostra de 2013, em curso). 
 

O carinho da cinefilia e os grandes nomes26

 
Há cineastas cujo envolvimento com a Mostra foi muito além da exibição de um filme, o que os torna nomes indeléveis na linha do tempo da Mostra. Manoel de Oliveira, Theo Angelopoulos, Pasolini, Guy Maddin e Aleksandr Sokúrov tiveram muitos filmes exibidos, não raro em ciclos dedicados a eles. Abbas Kiarostami (em 1995), Akira Kurosawa (em 1996), Takeshi Kitano (em 1998) e Amos Gitai (em 2004) criaram os cartazes artísticos que estampam o evento. Wim Wenders, também figura recorrente, também foi tema de exposição e palestrante, honrando uma presença que conquistou ao figurar na programação com clássicos como O Estado das Coisas (Mostra de 1984) e Asas do Desejo (Mostra de 1988). 
 
Essa vivacidade do contato frequente com obras e criadores do que há de melhor no cinema mundial construiu uma atmosfera de culto em que centenas de frequentadores destinam, todo ano, pouco mais de duas semanas para festejar o cinema. Uma breve olhada nos corredores do Conjunto Nacional ou na entrada do Itaú Arteplex, no Frei Caneca, revelará uma efusão de cinéfilos, muitos com credenciais, lotando as salas, esbaforidos para ver seu 3º ou 4º filme do dia ou destinando aplausos para mais uma estreia de sucesso. 

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