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Premiado no Rio, O Lobo Atrás da Porta é projeto antigo de diretor

21/10/13 às 03:53 Atualizado em 17/10/19 as 20:04
Premiado no Rio, O Lobo Atrás da Porta é projeto antigo de diretor

O projeto que já resultou em prêmios nos festivais de San Sebastián (melhor filme da seção Novos Horizontes Latinos) e do Rio de Janeiro (melhor longa-metragem brasileiro) começou a ser planejado pelo diretor Fernando Coimbra há muito tempo, quando ele ainda estava na faculdade de cinema.

Ao tomar conhecimento sobre o caso policial no qual a acusada foi apelidada pela imprensa de “Fera da Penha”, Fernando teve a ideia de fazer um filme que retratasse a história de um modo menos sensacionalista. Cerca de duas décadas depois, já com uma carreira bem-sucedida como curta-metragista (realizou nove filmes do tipo), o cineasta está lançando o seu primeiro longa-metragem. O Lobo Atrás da Porta é resultado de anos de sua dedicação a esse projeto.  

Fernando Coimbra está em São Paulo para mostrar o seu filme na Mostra Internacional de Cinema, na qual sua obra surge novamente como favorita na concorrência nacional. Na entrevista a seguir, concedida pelo diretor ao Cine Festivais, ele fala, entre outras coisas, sobre as etapas de produção do filme, a boa recepção do público e a expectativa para o lançamento nos cinemas.

Cine Festivais: Quais são as principais diferenças entre curtas e longas-metragens na concepção dos projetos e na realização deles? O que muda em termos de orçamento e planejamento?

Fernando Coimbra: É muito bom ter feito nove curtas antes de fazer o longa porque você adquire uma experiência de set, de escrever, filmar, montar, mas muda muita coisa, desde o roteiro até o tempo de preparação.

As duas coisas que eu mais senti diferença foram o tempo de filmagem e a montagem. O curta você filma em cinco dias, de uma vez, e o longa você leva cinco semanas. Então tem dias em que você já está cansado, sem inspiração, e tem que chegar no set de filmagem e fazer a coisa acontecer mesmo não estando no auge da sua energia.

Em relação à montagem, no curta você assiste todo dia o resultado das filmagens, enquanto que no longa não dá para você assistir duas horas de filme todo dia, então essa noção do todo é muito mais complexa. É difícil você saber se o filme está no ritmo certo, se ele tem o desenho dramático certo, então você precisa de muito mais tempo. Tem que parar às vezes, ficar um mês sem ver, para ter um distanciamento. Essa noção do todo do longa é o que eu acho que é mais difícil.

De onde surgiu a ideia para o roteiro, como se deu o desenvolvimento dele e o que chamou a sua atenção na história?

Eu tive contato com essa história – que aconteceu nos anos 60 no Rio – quando eu ainda estava na faculdade, estudando Cinema na ECA (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), e me instiguei pela história. Era um relacionamento brutal, e eu queria entender o que levou aqueles personagens a agir daquela forma. A imprensa tratava o caso de uma forma muito desumana, e eu achava que era uma história muito humana e queria olhar isso de frente para conseguir entender.

Durante anos eu fui pesquisando, escrevi algumas versões, engavetei o projeto. Depois retomei o roteiro do zero, escrevi uma versão mais intimista, e esse tempo deixou o roteiro muito maduro, tanto que no primeiro edital que nos inscrevemos a gente ganhou. Já dava para visualizar o filme que ia sair dali.

Como se deu a montagem do elenco?

A Leandra (Leal) e o Milhem (Cortaz) eram pessoas que eu conhecia há bastante tempo, mas com quem não tinha trabalhado ainda. A Fabíula eu conhecia de alguns filmes. Eu cheguei neles, mostrei o roteiro, e eles entraram no projeto pela paixão que tiveram pelo roteiro, já que era um filme pequeno. Os personagens atraíram eles.

Algo que chamou minha atenção é que em muitas partes os personagens surgem mergulhados em sombras. Na minha visão isso denota que os personagens têm defeitos e virtudes. É uma história que dá muita atenção para a humanidade e para os defeitos dos personagens…

A gente nunca achou que tinha um vilão ou um mocinho na história. Todos os personagens tinham seu lado bom, seu lado legal, e seu lado mais cruel, como qualquer ser humano. A ideia era trabalhar isso, e a fotografia do Lula (Carvalho) tinha como ideia fazer um filme bastante contrastado, granulado, para trazer esse lado mais visceral da história.

Qual é o significado do título do filme para você?

O Lobo Atrás da Porta pra mim é aquele lado obscuro, selvagem, instintivo do ser humano, que está ali esperando para ser despertado ou não. É uma história em que os personagens se encontram por acaso e nada disso teria acontecido sem esse encontro, que despertou o lado mais brutal tanto do Bernardo quanto da Rosa. Pra mim o lobo é essa coisa que existe em cada um.

Ao mesmo tempo é o sequestro de uma criança, tem um lado de fábula infantil, do lobo mau. Apesar de eu não achar que ninguém é bom ou mau no filme, há esse tabu sobre esse lado mais animal que todo ser humano tem. A gente tenta se separar dos animais, mas a gente é animal, e na hora do limite esses instintos aparecem.

O filme ganhou os festivais de San Sebastián e do Rio de Janeiro. Você esperava essa boa recepção? Quanto é importante esse sucesso para um diretor estreante em longas-metragens?

A gente sempre torce para que aconteça o melhor com o filme, mas nunca sabe o que vai acontecer. Isso depende dos outros filmes que estão passando, daquilo que as pessoas estão querendo ver naquele momento… Lançar um filme é sempre uma incógnita, desde os curtas.

(A recepção) Está sendo incrível. Hoje em dia se dá muito valor para os diretores estreantes, mas você tem que conquistar esse espaço. A gente conseguiu fazer nossa estreia em um festival como o de Toronto, que tem uma visibilidade enorme. O prêmio em San Sebastián levantou a bola do filme mundialmente, e logo depois vir ao Brasil e ganhar o Festival do Rio foi maravilhoso, porque todo mundo está falando do filme. Tudo o que a gente quer é que o filme seja visto e, para isso, o que está acontecendo é fundamental. Isso também me ajuda a ficar mais reconhecido para fazer meus próximos filmes.

O filme já tem data para estrear? Você acha que o filme pode dialogar com um público grande?

Nós temos um acordo de distribuição com a Imagem Filmes, que entrou no projeto ainda na fase de roteiro. O filme será lançado no primeiro semestre do ano que vem. Acho que ele tem potencial de público. Ele dialoga com o público que quer ver cinema de qualidade, mas ao mesmo tempo tem um poder de comunicação com qualquer pessoa.

Ainda vamos saber com que tamanho nós vamos lançar o filme, mas eu não acho que ele seja pequeninho – para ser lançado com poucas cópias -, mas também não é um blockbuster. Ele está em uma faixa que se conquista pouco no Brasil, que é uma faixa média, que não é nem aquele filme pequeno nem aquele filme que faz mais de um milhão de espectadores.

Quais são os seus próximos projetos?

Eu estou trabalhando em um filme chamado Os Enforcados, que vai se passar no Rio de Janeiro. Ele também vai ser meio thriller, mas vai ser rodado na Barra da Tijuca em vez de no subúrbio. Nós escrevemos o argumento, conseguimos o financiamento para desenvolver e agora eu vou começar a escrever o roteiro.

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