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O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra

21/10/13 às 01:13 Atualizado em 08/10/19 as 20:30
O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra

A imagem distante e turva do Cristo Redentor vista na cena inicial de O Lobo Atrás da Porta já é um indício de que o Rio de Janeiro ali retratado será muito diferente da cidade que, para a maior parte dos filmes, se resume aos bairros ricos da zona sul ou às favelas. A fuga de rótulos, aliás, é algo que o filme de Fernando Coimbra atinge com êxito, uma vez que é difícil compará-lo a alguma produção recente do país. Isso se deve, notadamente, ao bom trabalho com gêneros, fato que dificilmente é realizado de modo bem-sucedido no Brasil.

O que primeiramente vemos é um drama urbano. Uma menina é sequestrada e a mãe, Sylvia (Fabíula Nascimento), é incapaz de enxergar algum motivo para isso. Bernardo (Milhem Cortaz), o pai da criança, diz que tem certeza que quem realizou o crime foi Rosa (Leandra Leal), amante que ele revela ter. A trama então se desenvolve no tempo presente em uma delegacia, onde depoimentos são colhidos por um delegado (Juliano Cazarré) que tenta solucionar o caso.

É interessante notar como o roteiro constrói momentos de humor na parte inicial do filme sem com isso soar forçado. Essas pitadas de leveza ajudam a criar uma identificação dos espectadores com a obra e são fundamentais para tornarem os momentos posteriores mais instigantes à medida que vamos percebendo a gravidade dos fatos revelados com o decorrer da trama.

A história é contada através de alguns longos flashbacks que se baseiam naquilo que Bernardo e Rosa estão contando ao delegado.  Dessa maneira, sabemos logo de cara que não podemos confiar plenamente naquelas narrativas, e isso acentua o mistério que o filme tenta desvendar. Fatos (ou mentiras) novos vão surgindo aos poucos, e todos ali parecem ter algo a esconder. A tensão é acentuada pela opção predominante por planos fechados e pela iluminação que constantemente envolve os personagens em sombras, sugerindo a dualidade moral daquelas pessoas. Esta abordagem é importantíssima para humanizar os personagens através de suas falhas e, consequentemente, evitar um posicionamento maniqueísta perante os fatos.

Tudo isso, somado a um elenco em plena forma, que nunca se entrega às tentações do overacting, resulta em um bem-sucedido suspense com toques de thriller que prende a atenção do espectador sem subestimar a sua inteligência e ainda consegue surpreendê-lo ao final.

Nada mal para um diretor estreante em longas-metragens, que a partir de agora se torna mais um nome a ter seus próximos projetos acompanhados com expectativa pelos cinéfilos brasileiros.  

Nota: 8,0/10 (Ótimo) 

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