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Seleção para Annecy é o auge da trajetória de O Menino e o Mundo, diz diretor

27/05/14 às 13:01 Atualizado em 21/10/19 as 23:07
Seleção para Annecy é o auge da trajetória de O Menino e o Mundo, diz diretor

A cada semana chegam mais e mais convites para que O Menino e o Mundo seja exibido em festivais pelo mundo. A trajetória do filme, que começou com uma menção honrosa no Festival Internacional de Animação de Ottawa, no Canadá, terá o seu ponto máximo entre os dias 9 e 14 deste mês de junho, quando a animação do diretor Alê Abreu será exibida na competição oficial do Festival Internacional de Animação de Annecy, na França, que é considerado o principal evento do mundo para filmes que utilizam essa técnica.

“Quando recebemos a notícia da seleção para Annecy o filme estava rodando há seis meses, e para mim foi um certo coroamento dessa trajetória de O Menino e o Mundo, foi uma prova de que ele conquistou uma visibilidade bacana.”, diz Alê Abreu.

Fazendo uso de técnicas pouco utilizadas nas animações mainstream, como colagens e desenhos com giz de cera, O Menino e o Mundo conta a história de um menino que parte em busca do pai e acaba descobrindo um mundo fantástico dominado por máquinas-bichos e estranhos seres. Tudo isso, claro, partindo da ótica inocente do garoto.

O filme já foi exibido em mais de 30 festivais e ganhou prêmios em Cuba, Portugal e República Tcheca, entre outros países. No Brasil, a animação recebeu honrarias no Festival do Rio (menção honrosa na seção Novos Rumos) e na Mostra de São Paulo (Prêmio da Juventude). Com uma boa recepção da crítica, O Menino e o Mundo foi lançado nos cinemas do país em janeiro e está em cartaz até hoje (27 de maio) na capital paulista.

“Foi quase chato”, brinca Alê Abreu sobre o fato de o filme ter tido uma acolhida positiva quase unânime. Nesta parte da entrevista para o Cine Festivais, o diretor fala sobre a trajetória de sucesso de O Menino e o Mundo em festivais e comenta sobre o processo de criação do filme.

>>> Leia também a outra parte da entrevista de Alê Abreu ao Cine Festivais

 

Cine Festivais: Você esperava essa boa recepção do público e da crítica?

Alê Abreu: De forma nenhuma. Quando eu terminei o meu primeiro longa-metragem, Garoto Cósmico, eu tinha muito mais expectativa, achava que ele seria um sucesso. Já com O Menino e o Mundo, além de já ter essa experiência anterior, eu sabia que ele era um filme mais difícil e radical nas ideias, no roteiro. Então eu achava que ele teria uma boa acolhida por um lado, mas que para boa parte do público seria mais difícil entender o filme.

Aí tive essa surpresa após a primeira exibição dele, porque tudo foi muito fácil. Foram pouquíssimas opiniões negativas, tanto do público quanto da crítica. Foi quase chato (risos). Dizem que unanimidade não é uma coisa muito boa, mas o filme foi praticamente uma unanimidade positiva.

 

CF: De que maneira os festivais foram importantes para o filme?

AA: É nos festivais que o filme tem o primeiro contato com o mercado, com a crítica e com o público. O Menino e o Mundo já passou por muitos festivais, e a cada semana nós recebemos mais convites para eventos em vários países. O filme estreou no festival de Ottawa no dia 20 de setembro do ano passado, e de lá para cá já estivemos em mais de 30 festivais, sem contar os que ainda estão por vir.

Isso é algo legal, pois é uma forma de aparecer muito mais do que se ficássemos restritos ao circuito de público. Outra coisa importante foi que, através destes eventos, conseguimos encontrar distribuidores na França e nos EUA, por exemplo. A ideia é a de lançar O Menino e o Mundo este ano nos EUA para que possamos tentar uma indicação ao Oscar.

 

CF: Você considera a seleção para Annecy o auge da trajetória de O Menino e o Mundo em festivais?

AA: Com certeza. Não há nenhum outro festival no mundo mais importante que Annecy para animações. Se tem algum evento que chega próximo em termos de importância é o festival de Ottawa, que foi justamente o local em que exibimos O Menino e o Mundo pela primeira vez.

Quando recebemos a notícia da seleção para Annecy o filme estava rodando há seis meses, e para mim foi um certo coroamento dessa trajetória de O Menino e o Mundo, foi uma prova de que ele conquistou uma visibilidade bacana. Poucas vezes nós tivemos um longa-metragem brasileiro de animação que tenha feito esse percurso em festivais. Acho que só podemos compará-lo nesse aspecto com Uma História de Amor e Fúria, do Luiz Bolognesi, que é justamente o atual vencedor do Festival de Annecy.

 

CF: A vitória de Uma História de Amor e Fúria no Festival de Annecy e a seleção de O Menino e o Mundo para o evento deste ano representam a consolidação de um momento importante para a animação brasileira?

AA: Acho que a vitória de Uma Historia de Amor e Fúria foi um grande feito, uma surpresa. A gente comemorou a seleção do filme para Annecy como uma grande vitória, mas não esperava que ele fosse sair de lá como vencedor, até pela grande competição que existe. É claro que esse prêmio colocou o Brasil em evidência. E agora, neste ano, os brasileiros vão “invadir” Annecy. Além de O Menino e o Mundo, que está na competição oficial, o Brasil tem representantes fora de competição (Até que a Sbórnia nos Separe, de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. e Luz, Anima, Ação, de Eduardo Calvet) e um curta-metragem na seleção universitária (Fuga Animada, de Augusto Bicalho Roque).

 

CF: Como se deu o processo de criação de O Menino e o Mundo?

AA: Eu estava fazendo uma pesquisa para um anima-doc sobre formação geopolítica da América Latina que dava importância para as canções de protesto dos anos 60 e 70. Viajei pela região, fiz várias anotações, até o momento em que eu descobri que tinha desenhado um menino em meu caderno. Foi esse menino que me chamou para um outro projeto, e eu tentei descobrir qual era a história dele. Fui descobrindo isso enquanto fazia o filme. Não teve um roteiro, as imagens que eu ia criando falavam mais que tudo. Acho que foi por isso que o filme saiu sem diálogos.

 

CF: De que forma o filme trata de suas questões pessoais?

AA: Tudo o que está no filme são coisas que eu absorvi e devolvi para o mundo. Ao fazer um filme você tem que fazer opções estéticas, políticas, não dá para ficar no meio do caminho, a não ser que essa seja a questão da obra. De maneira geral, você absorve coisas e bota aquilo que passa por dentro de você, que te toca, e tenta tampar esses buracos.

(O cineasta russo Andrei) Tarkóvski falava isso. Ele é uma das minhas referências. Assisti aos filmes dele, li seus livros e diários e me identifiquei bastante com o jeito de ele pensar e fazer cinema. Eu diria que, de tanto que eu me apaixonei pelo trabalho dele, eu consigo identificar momentos de O Menino e o Mundo em que há referência ao seu trabalho, como naquele em que o velho retorna para casa e a câmera passa lentamente por uma janela, que também representa uma passagem de tempo. Não é uma coisa planejada, mas eu consigo localizar essas referências posteriormente.

 

CF: O Menino e o Mundo segue em cartaz até hoje na cidade de São Paulo. Qual é o público que o filme fez nos cinemas brasileiros até o momento?

AA: Tivemos até agora 23 mil espectadores. É um número interessante levando em conta o lançamento pequeno do filme. Estreamos em apenas 13 salas e estamos até hoje em cartaz. Espero que, se formos bem no Festival de Annecy, a gente consiga voltar a entrar em cartaz em mais salas, quem sabe por mais dois ou três meses. Seria legal.

 

* Colaborou Ivan Oliveira

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