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Pouco notados nas salas, operadores fazem parte de longo processo de legendagem

15/10/13 às 22:56 Atualizado em 17/10/19 as 19:46
Pouco notados nas salas, operadores fazem parte de longo processo de legendagem

Em tempos de smartphones e redes sociais, as luzes emitidas por celulares se tornaram um transtorno para quem vai aos cinemas com o único intuito de assistir a um filme. Nas salas de um festival como a Mostra de Cinema de São Paulo, porém, há uma claridade que se justifica: aquela vinda do laptop dos operadores de legenda. Nem todas as pessoas, contudo, sabem da existência e da importância dessa função. 

“Tem gente que vai pedir para você desligar o computador. Você está lá fazendo a legendagem concentrado e aparece alguém, para na sua frente, e começa a falar: ‘vai trabalhar em casa. Que coisa ridícula ficar na internet dentro da sala de cinema!’”, conta Hugo Casarini, diretor da Casarini Produções, empresa responsável pela legendagem dos filmes da Mostra neste ano.

Entre as mais de 350 obras que serão exibidas na edição 2013 do festival, a maior parte não possui legendas embutidas e não é falada em português brasileiro (filmes de Portugal costumam receber legendas). A solução para que esses filmes sejam entendidos por todos os espectadores é a legendagem eletrônica, método no qual as legendas aparecem em uma tela abaixo daquela em que o filme está sendo exibido. Para que isso funcione, um funcionário tem o auxílio de um laptop e de um projetor para lançar cada texto de modo sincronizado com as falas dos artistas.

A função do operador de legendas se situa na última fase de um longo processo de trabalho. As traduções dos filmes da Mostra começaram a ser feitas já em maio, quando se sabia as obras que estariam nas retrospectivas do evento. Meses depois, o trabalho para o festival passou a envolver cerca de 100 pessoas, entre tradutores, produtores e operadores de legendas. Entre esses últimos, há quem seja especializado apenas nessa função e aqueles que têm outro trabalho paralelamente.

Os filmes geralmente chegam com o script em inglês e demoram, em média, três dias para serem traduzidos, mas esse período varia muito de acordo com as obras. Nesse ano, por exemplo, há um filme com 11 horas de duração (Evolução de Uma Família Filipina, de Lav Diaz). Em casos como esse, a feitura da tradução pode durar mais que uma semana.

“Um trabalho bom de tradução, feito por muitas pessoas durante meses, pode ir para o ralo na hora da operação de legenda dentro da sala. Todo ano temos que treinar pessoas novas para a função, já que não existem tantos profissionais na área”, explica Casarini, que também opera legendas quando necessário. “Se ninguém sabe quem é o operador de legendas é porque ele fez um excelente trabalho”, completa.

O esforço da equipe de legendagem não costuma ser lembrado, porém, quando alguma falha atrapalha as sessões dos festivais. Há vezes em que imprevistos não relacionados às legendas ocorrem, como quando os filmes são exibidos com duração e corte diferentes das cópias que receberam a tradução, mas sempre as reclamações chegam antes aos ouvidos dos operadores de legendas.

“Não sei se as pessoas não conseguem perceber que, se existe uma pessoa para aquela função, é óbvio que ela foi a primeira a perceber que as legendas não estão funcionando. Você só vai deixar o cara mais nervoso se começar a gritar e a xingar ele”, diz o diretor da Casarini Produções.

Apesar de lidarem profissionalmente com filmes que, na maioria das vezes, são muito esperados pelo espectador comum, os tradutores e operadores de legendas não se veem como privilegiados nesse aspecto. O ideal para a função é sempre manter o maior distanciamento possível daquilo que está sendo visto e focar apenas no trabalho, mas em alguns casos isso é difícil.

“Às vezes alguns filmes são tão fortes que te raptam. Com esses filmes eu faço a tradução mais pausadamente. Faço um pouco, depois retomo com mais calma no dia seguinte”, explica Hugo.

Dois filmes que estão na Mostra de São Paulo provocaram esse efeito no tradutor: Tom na Fazenda, de Xavier Dolan, e Morte na Terra de Encantos, filme de nove horas do filipino Lav Diaz. Ele, contudo, não poderá rever os filmes como um espectador comum durante a Mostra, já que o trabalho o impede há muito tempo de “assistir filmes por lazer”.

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