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Popularidade de animadores japoneses no Brasil surpreende curador de mostra

11/12/14 às 17:45 Atualizado em 11/12/14 as 18:03
Popularidade de animadores japoneses no Brasil surpreende curador de mostra

Basta uma simples menção ao nome “Totoro” para que seja criada uma comoção nas aulas ministradas pelo professor Jansen Raveira sobre o cinema do diretor japonês Hayao Miyazaki. A popularidade do personagem do filme Meu Amigo Totoro, de 1988, é prova da admiração de muitos brasileiros pelo trabalho deste e de outros animadores nipônicos, fato que surpreendeu Jansen.

Ele assina, junto com Simone Evan, a curadoria da mostra O Universo de Miyazaki | Otomo | Kon, que acontece em São Paulo entre os dias 11 e 23 de dezembro. O evento vai exibir 18 longas-metragens no Caixa Belas Artes, além de oferecer o citado curso sobre Miyazaki e uma oficina de mangás.

“A cada edição, a gente descobre que a mostra é extremamente pop, com um publico muito grande”, diz o curador sobre o evento que já teve edições em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.

Em conversa com o Cine Festivais, Jansen Raveira falou sobre as particularidades dos trabalhos dos três cineastas homenageados pelo evento: Hayao Miyazaki, Katsuhiro Otomo e Satoshi Kon. O curador também destacou o trabalho autoral que diferencia esses realizadores da média da produção japonesa atual e comentou sobre a influência que essas animações tiveram em filmes brasileiros recentes

 

>>> Conheça a programação da mostra O Universo de Miyazaki | Otomo | Kon

 

Cine Festivais: Por que esses cineastas foram escolhidos como foco da mostra?

Jansen Raveira: As pessoas nomeiam como uma mostra de animação japonesa, mas na verdade nós a encaramos como uma mostra de autores. São cineastas que fogem do convencional e não representam a média da produção japonesa atual, que está voltada principalmente para a produção de séries e de trabalhos feitos para vender brinquedos e games. Os longas-metragens de Miyazaki, Otomo e Kon fazem parte de outro sistema de animação, de apelo mais autoral e artístico.

 

CF: Quais são as principais características dos filmes destes cineastas?

JR: Kon tem um cuidado tão grande com a construção dos personagens e a interpretação dos atores que às vezes você esquece que está vendo um desenho animado. Ele é um cineasta que se aproxima mais do cinema live action, até porque o primeiro filme dele, Perfect Blue, só foi feito em animação porque na época da produção houve um terremoto em Kobe que destruiu o estúdio em que o filme seria feito. Por razões mercadológicas que só acontecem no Japão, ficou mais barato fazer em desenho animado, coisa que no mundo todo é muito mais caro. Esse filme foi a principal referência do Darren Aronofsky para fazer Cisne Negro, que tem sequências inteiras que se inspiram nele.

O Miyazaki sempre busca fazer a coisa mais artesanal, que muitas vezes é mais complexa do que se tivesse sido utilizado algum recurso digital. Ele tem uma marca autoral forte, com elementos quase sempre presentes, como as máquinas voadoras maravilhosas, um apelo ambientalista e antibelicista e a escolha por personagens femininos muito fortes, geralmente como protagonistas.

Já Otomo sempre teve uma perseguição tecnológica de fazer a coisa mais impossível para a época. O cinema dele é influenciado pelos filmes americanos dos anos 60 e pelos quadrinhos europeus. Ele próprio é um famoso quadrinista que tem um estilo que se aproxima mais do europeu do que dos mangás japoneses. O legal dos filmes dele é que você consegue encontrar influências de 2001: Uma Odisseia no Espaço (dirigido por Stanley Kubrick), de Blade Runner (dirigido por Ridley Scott) e até de Sergei Eisenstein.

 

CF: Além dos filmes de Miyazaki, Otomo e Kon, a mostra vai exibir outros dois trabalhos: O Túmulo dos Vagalumes, de Isao Takahata, e Metropolis, de Rintaro. Por que eles foram selecionados?

JR: Isao Takahata, de O Túmulo dos Vagalumes, é sócio de Miyazaki no Estúdio Ghibli. É interessante como ele tende a ser mais produtor, mesmo sendo capaz de fazer obras belíssimas como essa animação, que é considerada uma das melhores da história. Então achamos justo fazer essa homenagem ao Takahata, que serve também para mostrar a importância dele dentro do Ghibli. Já o Metropolis foi produzido e roteirizado pelo Otomo, então a gente queria mostrar como uma obra pode ser pessoal mesmo sem ter sido dirigida por ele.

 

CF: A mostra já passou por Rio de Janeiro, Salvador e Recife antes de chegar a São Paulo. Como tem sido a recepção do público e como você justifica essa idolatria de muitos brasileiros pelas animações japonesas?

JR: Quando começamos a fazer essa mostra, pensávamos que ela teria um alcance restrito, por tratar de cineastas diferentes do convencional. A maior surpresa é que, a cada edição, a gente descobre que a mostra é extremamente pop, com um publico muito grande. No curso que eu dou sobre Miyazaki, há uma comoção cada vez que eu cito o nome de Totoro (personagem da animação Meu Amigo Totoro, de Hayao Miyazaki).

Mesmo no Rio de Janeiro, que não tem tradição de consumo de cultura japonesa, todas as sessões dos filmes lotaram e muitas pessoas ficaram na fila de espera, mesmo com exibições ocorrendo em duas salas. No Recife também fiquei surpreso com a reação do público. Teve dia em que eu estava andando na rua e ouvi as pessoas comentando sobre a mostra.

 

CF: O reconhecimento do trabalho de Hayao Miyazaki com prêmios como o Oscar e o Urso de Ouro do Festival de Berlim (ambos para A Viagem de Chihiro) consolidaram a importância da animação japonesa no cenário mundial? Qual impacto a sua anunciada aposentadoria pode ter nesse meio?

JR: Acho ótima essa ascensão que a animação japonesa teve com A Viagem de Chihiro e é bem representativo que esse prêmio tenha vindo logo no segundo ano em que foi concedido o Oscar de melhor longa-metragem de animação. Por outro lado, é meio louco pensar em quanto tempo demorou para que essa cinematografia fosse reconhecida, até porque o Estúdio Ghibli foi criado em 1985.

Sobre a aposentadoria, na minha opinião de animador, eu não acredito nem um pouquinho. Miyazaki está há dez anos se aposentando: se quisesse mesmo aposentar, já tinha parado (risos). É aquela coisa: suicida que fica falando que vai se matar, não se mata. Ele primeiro falou que ia se aposentar, depois falou que ia fazer curtas dentro do estúdio… Pode até ser que ele não faça mais longas, mas ele pode opinar e influenciar filmes de outros diretores. Ainda serão lançados muitos longas com a cara dele…

 

CF: Qual é a sua opinião sobre as vitórias recentes do Brasil no Festival de Annecy, principal evento para animações do mundo? Você vê influências da animação japonesa nos filmes Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi, e O Menino e o Mundo, de Alê Abreu?

JR: Existem influências da animação japonesa nos dois filmes, mas de maneiras muito diferentes. No caso de O Menino e o Mundo eu acho que isso passa pela atitude de acreditar nas próprias ideias e não ficar pensando no que pode vender mais. É um dos filmes mais comoventes que já vi, com um roteiro muito delicado, e também é uma grande homenagem à animação e aos animadores. Vejo referências ali à animação soviética, ao brasileiro Fernando Muller e a outros animadores. Nesse sentido, O Menino e o Mundo é um trabalho muito libertador.

Por outro lado, o estilo econômico de animação japonesa é o que vai ser uma grande influencia para a realização de Uma História de Amor e Fúria. O filme é uma nova tentativa de abordagem de animação para o mercado brasileiro. É um trabalho de aventura com um sabor nosso, e nesse ponto ele foi bem feliz. Acho interessante porque não virou um produto exclusivo para brasileiros e se mostrou universal, como provou a vitória em Annecy. Isso é uma vitória para qualquer filme.

 

Serviço

Mostra O Universo de Miyazaki | Otomo | Kon

Local: Caixa Belas Artes (Rua da Consolação, 2423 – Consolação – São Paulo – SP)

Data: De 11 a 23 de dezembro de 2014

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

Telefone: (11) 2894-5781

Site: http://nuage.art.br/mok/mostra/

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