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Opinião: Júris acertam ao premiar Branco Sai, Preto Fica e Sem Coração

25/09/14 às 20:59 Atualizado em 25/09/14 as 21:28
Opinião: Júris acertam ao premiar Branco Sai, Preto Fica e Sem Coração

Ao escrever sobre Branco Sai, Preto Fica durante a 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, disse que o “novo trabalho de Adirley Queirós tem uma força e uma inventividade que deveriam transformá-lo em um importante objeto de estudo dentro da filmografia recente do país”. Mais de seis meses depois, o maior reconhecimento ao longa-metragem veio através dos prêmios de melhor filme (júri e crítica), ator (Marquim) e direção de arte (Denise Vieira) obtidos no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Para completar, a obra foi adquirida pela Vitrine Filmes e terá distribuição no circuito comercial.

A decisão central do júri de longa-metragem foi justa e jogou luz sobre um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos (escrevi mais sobre ele aqui e aqui). O que não quer dizer, evidentemente, que não houve quem também se destacasse na seleção de longas. O caso mais notável nesse sentido foi o de André Novais Oliveira, que fez uma bela estreia no formato com Ela Volta na Quinta. Este trabalho, contudo, ficou relegado aos prêmios de ator e atriz coadjuvantes, que, em uma mostra com apenas seis concorrentes, não significam muita coisa. Melhor seria se ele tivesse recebido troféu mais relevante, como o de roteiro ou direção.

O júri de longa-metragem preferiu premiar Brasil S/A. Foram cinco troféus para o trabalho: direção, roteiro (ambos para Marcelo Pedroso), trilha sonora (Mateus Alves), som (Pablo Lamar) e montagem (Daniel Bandeira). Embora tenha achado o filme um tanto irregular, não se pode negar a ousadia de Pedroso ao realizar um trabalho de 72 minutos, sem diálogo, que aprofunda uma crítica profunda e por vezes bem-humorada ao modelo de desenvolvimento brasileiro. Assim, a decisão dos jurados pode servir ao menos para que Brasil S/A seja objeto de debate, já que está longe de ser irrelevante.

Entre os demais longas, o que mais se destacou foi o poético Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro. Sem Pena, de Eugênio Puppo, é um importante documentário sobre tema urgente na sociedade brasileira (o fracasso da justiça criminal), mas falha em trazer conflitos ou debates para além da tese reiterada ao longo da projeção. Já Pingo d’Água, de Taciano Valério, é um legítimo representante da safra recente do que vem sendo valorizado na Mostra de Cinema de Tiradentes: um filme que discute sobre si mesmo e que tem no mal-estar o seu principal propulsor, mas que não atinge um resultado especialmente marcante.

 

Que vertente é essa?

“Meu filme não tem nada de experimental, ele é ‘Sessão da Tarde’, pô. Acho que a gente tem que negar essa coisa de filme de arte, filme experimental… Esse rótulo vai reverberar lá na frente na definição de políticas públicas para o cinema”, disse Adirley Queirós em entrevista recente ao Cine Festivais. A declaração serve para ilustrar uma questão que ficou na superfície nesse festival: a seleção, principalmente dos longas, seria de uma vertente única?

Algumas características ligam os filmes: o baixo orçamento, doses variadas de hibridismo e pesquisa de linguagem (Sem Pena é o único documentário, mas também estabelece diálogo com elementos da ficção, o que fica claro na cena do julgamento), uma maioria de cineastas com carreira ainda em ascensão. Mas, no meu modo de ver, falar em uma única vertente é algo reducionista, até porque em termos como “experimental”, “de arte” e “independente” estão englobadas uma vastidão de possibilidades.

Melhor seria discutir as qualidades dos filmes e o que eles instigam de debates e trazem de estimulante ao cinema brasileiro do que se ater a rotulá-los para, posteriormente, contrapô-los a um grupo também previamente rotulado de cineastas consagrados. Jovens ou velhos os realizadores, o que importa são os filmes que realizam. Apontar que a escolha se deu para privilegiar um grupo me parece irresponsável, ainda mais quando não se conhece os outros filmes inscritos (será que havia um grande filme em moldes mais tradicionais entre eles?).

Não vi, neste sentido, uma produção monocórdica, e sim diversa, que apontou caminhos e trouxe ousadia e originalidade em maior ou menor grau. O nível da mostra de longas-metragens não chegou a ser excepcional, mas foi bom, alçado acima pelos dois filmes já citados.

 

Aula de cinema e de trabalho com gênero

Entre os 12 curtas-metragens da mostra competitiva, dois se destacaram dos demais e foram devidamente premiados. Sem Coração (prêmios de melhor filme, direção e montagem), de Nara Normande e Tião, se aproveita de uma decupagem precisa para criar um trabalho cinematográfico potentíssimo, que ainda se aproveita do bom trabalho com o elenco de adolescentes. Já Estátua! (melhor filme pela crítica, roteiro e atriz), de Gabriela Amaral Almeida, é um bem-sucedido trabalho com o suspense e o terror psicológico. O filme conta com um trabalho cheio de nuances da atriz Maeve Jinkings, merecidamente premiada pela atuação.

Entre os outros trabalhos, se destacam Geru, de Fábio Baldo e Tico Dias; La Llamada, de Gustavo Vinagre; e Loja de Répteis, de Pedro Severien. Por outro lado, espanta que Crônicas de Uma Cidade Inventada, de Luísa Caetano, tenha entrado na mostra competitiva e recebido o prêmio principal da Mostra Brasília. A ingenuidade do trabalho fica explicitada na indagação final (“ficção ou documentário?”), mas os equívocos perpassam a sua duração, com momentos que beiram o constrangimento (como na cena do michê). Outro filme que destoou negativamente entre os curtas foi B-Flat. Momentos inverossímeis (o ônibus com duas pessoas), diálogos expositivos (“não há ninguém no país mais populoso do mundo”) e uma decupagem primária, que dificulta a fluidez da narrativa (principalmente na cena do ônibus), são alguns dos problemas deste trabalho de Mariana Youssef.

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