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Olhar chega à quarta edição com perfil consolidado entre festivais brasileiros

09/06/15 às 16:00 Atualizado em 20/11/19 as 15:16
Olhar chega à quarta edição com perfil consolidado entre festivais brasileiros

Dirigido pelos cineastas Antônio Junior e Aly Muritiba e pela produtora Marisa Merlo desde seu início, em 2012, o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba – chega à sua quarta edição, que acontece entre os dias 10 e 18 de junho, com um formato muito parecido com aquele pensado em seu planejamento inicial.

Com cerca de 100 filmes exibidos a cada ano (em 2015 serão 92, sendo 53 longas e 39 curtas-metragens), o evento mantém o foco em filmes independentes, em sua maior parte realizados por cineastas estrangeiros pouco conhecidos do público brasileiro.

Outra constante é a seção retrospectiva de um grande cineasta. Depois de John Cassavetes, Carlos Reichenbach e Stanley Kubrick, o festival vai exibir os trabalhos do comediante francês Jacques Tati neste ano.

Em entrevista ao Cine Festivais, o curador Antônio Junior falou sobre a consolidação do Olhar de Cinema no cenário cultural brasileiro, apontou os caminhos escolhidos pela direção do Olhar e destacou as dificuldades de organização do evento.

Leia a seguir os principais pontos da conversa.

Cine Festivais: Como surgiu a ideia para a criação do festival? Vocês se inspiraram em outros eventos para construir o perfil do Olhar de Cinema?

Antônio Junior: O Aly Muritiba, a Marisa Merlo e eu (diretores do Olhar de Cinema) temos desde 2007 a produtora Grafo Audiovisual, que realiza documentários e ficções de todos os formatos. Houve um momento, em 2010, 2011, que Curitiba ficou sem nenhum festival de cinema. Nós não tínhamos onde passar os nossos filmes na cidade. Em vez de ficar só reclamando, tivemos a ideia de realizar um festival de cinema aqui, e aí surgiu o Olhar de Cinema.

O festival tem a cara do cinema que a gente gosta de fazer e assistir, um pouco mais independente, autoral, o que não se costuma ver nas salas comerciais. Nossa maior inspiração foi o Bafici, festival internacional de cinema independente que acontece em Buenos Aires.

CF: Qual era a preocupação do festival em relação à formação de olhar do público para um tipo de cinema diferente do que habitualmente é oferecido no circuito comercial?

AJ: Em Curitiba as pessoas dizem que o público de arte é muito exigente. Nós tínhamos o exemplo de dois festivais de cinema que existiram aqui e acabaram bem esvaziados em número de espectadores. Então nós tínhamos receio em relação a isso, mas já na primeira edição a resposta foi muito boa, com as sessões quase sempre lotadas.

Ficou claro ali que havia uma demanda latente em Curitiba por esse outro tipo de cinema, que acaba não chegando na sala comercial. A partir de então a proposta do festival se manteve muito similar nas outras edições. Neste ano vamos ocupar cinco salas, pois percebemos que, se isso não acontecesse, muita gente iria ficar fora das sessões.

CF: Qual é o limite de expansão do Olhar de Cinema?

AJ: Desde o primeiro ano o festival tem tido basicamente o mesmo numero de filmes, entre 90 e 100. Com isso, a ideia é dar uma atenção especial para todos os filmes exibidos, realizando ao menos uma sessão em horário nobre (final de semana ou à noite) de cada trabalho.

Não há um interesse em crescer esse número de filmes, mas pensamos, no futuro, em aumentar o número de salas e realizar não duas, mas três exibições de cada filme. Esse tipo de ajuste pode acontecer, mas não queremos expandir o número de filmes para 300 ou 400, como acontece em outros eventos.

CF: As mostras competitivas têm minoria de filmes brasileiros. Por que o Olhar de Cinema não separa os trabalhos nacionais dos internacionais em suas seções? Como funciona o processo de curadoria?

AJ: No primeiro ano a concepção do festival era diferente, mas depois percebemos que não fazia sentido ter mostras para filmes brasileiros, pois a reflexão sobre cinema fica mais interessante quando há esse recorte da curadoria e os trabalhos são comparados com os outros selecionados da mesma seção.

O trabalho da curadoria se dá independentemente da carreira anterior dos filmes e dos festivais para os quais eles foram selecionados. A Mostra de São Paulo e o Festival do Rio estão cheios de filmes de grandes cineastas, que competem em Cannes, Veneza, Berlim, e assim os títulos de outros cineastas acabando sendo encobertos por esses nomes maiores. Nossa ideia é trazer obras que acreditamos ter uma potência fílmica em termos de linguagem, proposta e ousadia, e que acabam não tendo espaço ou ficam ofuscadas nesses outros festivais.

Não faz sentido para um cineasta consagrado, com passagens por competições desses grandes festivais europeus, exibir o filme dele na mostra competitiva do Olhar de Cinema. A participação aqui não vai mudar absolutamente nada para ele, enquanto que para outros cineastas que estão começando a seleção para cá faz diferença. Queremos que o Olhar seja um ambiente de reflexão para esses filmes, por isso tentamos sempre trazer o maior número de diretores para cá.

CF: Muitos cineastas reclamam da falta de apoio governamental na área cultural no Paraná. Esta situação tem afetado também a organização do festival?

AJ: Com certeza, afeta muito. Desde o primeiro ano a gente tem uma inconstância completa de orçamento e precisa se desdobrar para não deixar isso transparecer para o público. Conseguimos para este ano uma boa quantidade de recursos, mas ela ainda está longe do ideal.

É uma montanha-russa. A gente sabe que fará a quinta edição no ano que vem, mas não há a certeza de que o tamanho continuará o mesmo. Pode ser que voltemos para apenas duas salas e tenhamos 50 filmes na programação, por exemplo. Não dá pra dizer hoje que o Olhar de Cinema será maior no ano que vem.

Em relação à produção de cinema aqui, posso dizer que a situação está bem complicada. Não há continuidade nos editais, o que dificulta o planejamento dos produtores. É um momento bem complicado, e o Paraná está perdendo muitos talentos para fora por causa desse cenário caótico tanto na cidade, quanto no estado.

CF: Em entrevista ao Cine Festivais, o curador da Mostra de Tiradentes Cleber Eduardo disse que, para ele, todo festival deveria ser gratuito. Por que o Olhar de Cinema cobra ingressos, mesmo que a preços populares (R$ 6 a inteira)?

AJ: No primeiro ano as entradas eram gratuitas, e foi um caos. Para uma sessão com 100 lugares disponíveis, 200 pessoas chegavam para tentar retirar os ingressos uma hora antes. Muitas pessoas furavam fila, outras achavam que podiam entrar direto na sala porque os ingressos eram gratuitos, e isso gerou um problema gigante para nós.

Decidimos cobrar ingressos a preços populares a partir de então, por uma questão de organização não só da gente, mas do público. Agora o espectador pode comprar ingresso com antecedência e ter a certeza de que vai entrar na sessão.

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