Os laboratórios de desenvolvimento de projetos audiovisuais são uma das faces de um momento de abundância da produção cinematográfica brasileira. Inspirados em modelos do exterior, tendo como referência as atividades realizadas por festivais como os de Cannes e Sundance, eles abrem espaço para roteiristas, diretores e produtores receberem consultoria para seus futuros filmes, também participando de palestras e encontros com outros profissionais do ramo.
Criado em 2011, o BrLab é o único laboratório do tipo no Brasil que incentiva e recebe projetos de toda América Latina e Península Ibérica, por meio de bolsas para que profissionais de diferentes países e regiões do Brasil participem de suas atividades. Os filmes que passaram por essa experiência e saíram do papel para as telas podem ser vistos na Mostra de Filmes BrLab, que acontece até esta segunda (14) no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
“A programação também inclui debates que têm o intuito de entender o impacto desses espaços no produto final dos projetos: o filme. Os laboratórios de desenvolvimento abundam hoje no mundo, e as mesas da mostra estão focadas em discuti-los, ampliando o debate para um público mais amplo”, conta Rafael Sampaio, diretor e idealizador do BrLab.
Entre os 14 filmes que constam na programação da mostra, 11 participaram do BrLab (como os brasileiros Depois da Chuva, Amor Plástico e Barulho e O Lobo Atrás da Porta) e três são indicações de laboratórios convidados: Pêssego, de Yashira Jordán (indicado pelo Bolívia Lab), Te Prometo Anarquia, de Julio Hernández Cordón (indicado pelo Austrolab) e Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund (indicado pelo Laboratório Novas Histórias).
Este último, um dos filmes brasileiros de maior sucesso internacional nas últimas décadas, participou de um laboratório voltado exclusivamente para o desenvolvimento de roteiro, conceito que hoje foi ampliado em espaços como o BrLab, que dedica atenção ao projeto como um todo, discutindo também direção, produção e distribuição.
Nesta segunda (14), às 19h30, a mesa de encerramento da mostra vai prestar uma homenagem aos 20 anos do Laboratório Novas Histórias, trazendo para o debate o roteirista de Cidade de Deus, Bráulio Mantovani, e a idealizadora do Novas Histórias, Carla Esmeralda. Com a mediação de Thiago Dottori, eles vão falar sobre a importância dos laboratórios de desenvolvimento de roteiros e discutir as mudanças ocorridas nos últimos anos na produção brasileira e latino-americana.
A popularização dos laboratórios de desenvolvimento por todo o mundo levanta também um questionamento acerca da homogeneização de filmes independentes, um risco de adentrar no terreno daquilo que o crítico argentino definiu em entrevista ao Cine Festivais como um “international style” entre os filmes de arte que frequentam festivais.
Rafael Sampaio acredita que muitos laboratórios de desenvolvimento ensinam fórmulas que não deveriam pautar a produção de filmes, apostando em um tipo de cinema que já tem aceitação entre os festivais e os agentes de venda.
“Cabe a essas plataformas pensarem constantemente se não estão só ensinando pessoas a fazerem projetos, mais do que concentradas no foco mesmo do assunto, que são os filmes que vão derivar desse monte de texto que é feito para produzir e financiar. Esse é um risco, de certa forma já é algo que acontece, mas eu acho que os laboratórios mais sérios estão questionando seu papel nessa cadeia. No BrLab a preocupação é ir da espinha dorsal para o corpo, e não do corpo para a espinha dorsal. Ou seja: a partir da essência do filme e do autor, ir para questões que envolvem o mercado, e não o contrário”, opina.
Serviço
Mostra de Filmes BrLab
Data: De 2 a 14 de novembro de 2016
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – São Paulo – SP)
Ingressos: R$ 10 (inteira); R$ 5 (meia)
Site: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/mostra-de-filmes-brlab/
Telefone: (11) 3113-3651