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Filme que fala sobre a justiça criminal brasileira foge do sensacionalismo da TV

18/09/14 às 18:29 Atualizado em 19/09/14 as 08:33
Filme que fala sobre a justiça criminal brasileira foge do sensacionalismo da TV

Apresentado no primeiro dia da mostra competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o documentário Sem Pena, de Eugênio Puppo, adota uma visão crítica sobre o sistema de justiça criminal brasileiro. Contando com depoimentos de pessoas ligadas de alguma forma à essa questão, como presidiários, ex-policiais e membros do Judiciário, o trabalho não mostra o rosto de nenhum de seus entrevistados e descarta falas excessivamente emocionais.

“Não pegamos nenhum caso que tenha ficado famoso na mídia. Nosso foco era o cidadão comum, que sofre arbitrariedades todos os dias. Esses programas que tratam a violência como entretenimento, como o do (José Luiz) Datena, mostram isso em rede nacional, como se fosse algo normal. Queria tratar desse tema com delicadeza e, ao mesmo tempo, fugir da linguagem televisiva. Também não quis adotar a linguagem óbvia que muitos documentários utilizam”, conta o diretor Eugênio Puppo.

Ao longo de um período de filmagem de dez meses, a equipe do documentário ouviu mais de 50 pessoas e obteve 274 horas de material bruto. A necessária edição das imagens fez com que muitos dos depoimentos ficassem fora do corte final. Um desses entrevistados foi o Coronel Telhada, ex-policial e atual vereador da cidade de São Paulo pelo PSDB que adota um discurso de valorização da repressão policial que é diametralmente oposto àquele que o filme endossa.

“Seria tosco se eu colocasse a fala do Telhada sem nenhum outro depoimento que dialogasse com ele ou que se encaixasse na reflexão geral do filme. O Telhada fala um monte de obviedades e coisa truculentas. E a questão não é o comentário ser reacionário. A gente tem imagens no filme que mostram com maior contundência essa visão repressiva”, argumenta Eugênio.

 

Fora de pauta

O simbolismo da capital federal vem a calhar para a proposta de debate sobre o sistema de justiça criminal. Apesar disso, o diretor não vê substância alguma nos discursos dos candidatos à presidência da República a esse respeito. “A gente não vê isso na pauta. O que há é uma perfumaria. Ninguém contempla no programa de televisão uma proposta mais efetiva ou um diagnostico verdadeiro e corajoso sobre esse assunto”, opina o diretor.

Apesar disso, a intenção de Eugênio Puppo é fazer com que o filme, que será lançado no circuito comercial no próximo dia 2 de outubro, chegue ao maior número de pessoas possível e possa provocar algum tipo de reflexão.

Se depender da reação do público do Festival de Brasília ao documentário, ele pode ficar otimista. “A coisa mais importante foi jogar o filme para o público e ficar extremamente emocionado com essa reação positiva, que me disseram que há anos não ocorria em Brasília. Se o filme não ganhar nenhum prêmio, a gente já cumpriu o objetivo de mostrar e conscientizar a sociedade sobre a m… na qual ela está envolvida”, completa.

 

* O repórter está hospedado em Brasília a convite da organização do festival

 

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