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Festival Latino completa dez anos e destaca leva de filmes de terror

30/07/15 às 09:00 Atualizado em 31/07/15 as 11:53
Festival Latino completa dez anos e destaca leva de filmes de terror

Lançamentos no circuito comercial brasileiro de filmes da Venezuela, Paraguai e República Dominicana, ocorridos nos últimos dois anos, mostram que o público cinéfilo do País tem cada vez mais acesso a obras de diferentes cinematografias da América Latina. O Festival Latino de São Paulo acompanhou o boom na quantidade e qualidade de trabalhos em diversos países da região.

O evento terá a sua décima edição entre os dias 30 de julho e 5 de agosto, com projeções na Tenda Petrobras para o Cinema Latino-Americana, instalada no Memorial da América Latina, CineSesc, Cine Olido, Centro Cultural São Paulo, Cinusp Paulo Emílio, Cinusp Maria Antônia, Reserva Cultural, Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca e Cinemateca Brasileira.

“Sempre achamos que era importante mapear as produções de toda a região, e não ficarmos restritos apenas aos grandes centros. Hoje vemos que a produção em muitos desses países deixou de ser algo incipiente, como ocorria há dez anos”, aponta Francisco César Filho, que realiza a curadoria do festival ao lado de João Batista de Andrade e Jurandir Müller.

Um dos destaques do 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo é a presença de filmes que trabalham o gênero terror de diferentes maneiras. Entre os brasileiros, As Fábulas Negras, de Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Joel Caetano e Peter Baierstorf, subverte histórias do imaginário popular nacional, como a do Saci, que aqui ganha a sua versão mais assustadora.

Em Condado Macabro, de Marcos DeBrito e André de Campos Mello, a viagem de jovens a uma casa isolada se transforma em cenário perfeito para o diálogo com o subgênero slasher quando assassinatos acontecem no local; já em A Misteriosa Morte de Pérola, de Guto Parente o terror é muito mais psicológico: uma jovem que vai estudar na França sente os efeitos da solidão. Após a morte anunciada pelo título, seu marido vem ao apartamento para investigar o acontecido.

Também há na programação um trabalho argentino do gênero, Natureza Morta, autointitulado pelo diretor Gabriel Grieco como o “primeiro filme de terror vegano do mundo”. Na trama, passada em uma cidade da Argentina, o “país dos churrascos”, pessoas ligadas à indústria de gado começam a desaparecer. Uma jornalista dá início a uma investigação para apurar os fatos.

Falando ao Cine Festivais, o curador Francisco César Filho comentou sobre esta forte presença do terror no Festival Latino, destacou algumas das atrações internacionais e fez um balanço da evolução da cinematografia latino-americana na última década.

 

Cine Festivais: Na programação do Festival Latino deste ano, pelo menos três filmes brasileiros (As Fábulas Negras, A Misteriosa Morte de Pérola e Condado Macabro) se enquadram no gênero terror, que muitas vezes é diminuído e menosprezado até mesmo no nicho dos festivais de cinema. Por que a curadoria decidiu selecionar esses filmes?

Francisco César Filho: Antes de mais nada, o que nos chamou atenção foi a quantidade de filmes deste gênero. Já conhecia o trabalho do Rodrigo Aragão (de As Fábulas Negras), que costuma circular em nichos específicos, e acabei assistindo também ao Condado Macabro, um forte filme paulista. Juntou-se a isso um filme argentino chamado Natureza Morta, que se intitula o “primeiro filme de terror vegano do mundo”.

Sem contar os longas, um dos curtas-metragens de escola mais destacáveis da seleção do Festival Latino é o Nua Por Dentro do Couro, filme do maranhense Lucas Sá que já passou por vários festivais importantes no País e causou grande impacto positivo.

Na Espanha os filmes de terror já são produzidos regularmente e se destacam há algum tempo, e agora estamos percebendo que na América Latina isso está virando uma tendência. Por isso resolvemos abrir esse espaço no festival deste ano.

 

CF: O diretor argentino Gustavo Taretto fez sucesso no circuito comercial de arte no Brasil com o seu primeiro longa-metragem, Medianeras, e agora vai exibir no Festival Latino o filme As Insoladas, seu novo trabalho. O que o público pode esperar dele?

FCF: O trabalho do Taretto já era conhecido aqui em São Paulo antes mesmo de Medianeras graças aos seus curtas-metragens. Ele chegou a ter uma retrospectiva de suas obras no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, e os filmes sempre fizeram muito sucesso com o público. Ele é um dos jovens talentos do cinema argentino que prometem ter uma carreira bem vitoriosa.

O cineasta vai vir a São Paulo para acompanhar a exibição de As Insoladas no Festival Latino. Assim como no longa anterior, a paisagem urbana é fundamental para o trabalho do Taretto. Desta vez a história se passa na cobertura de um prédio, onde mulheres conversam, tomam sol e sonham em passar férias no Caribe.

 

CF: Além de As Insoladas, qual outro filme estrangeiro da programação do festival pode ser destacado?

FCF: Gostaria de destacar uma diretora chilena chamada Dominga Sotomayor, que é apontada por várias pessoas com quem conversei como o jovem talento mais promissor do cinema chileno. A cinematografia daquele país viveu um boom internacional recente e vem marcando presença em grandes festivais, principalmente o de Berlim.

Dominga ganhou em 2012 o prêmio principal do Festival de Roterdã, um dos mais importantes para o cinema independente, pelo filme De Quinta a Domingo. Neste Festival Latino ela virá a São Paulo para exibir o seu novo trabalho, Mar, e também participará de um debate no CineSesc no dia 4 de agosto, junto com a brasileira Tata Amaral, com mediação do crítico e cineasta Ricardo Calil.

 

CF: Quais mudanças ocorreram na cinematografia dos países latino-americanos durante estes dez anos de festival?

FCF: Este período de existência do festival foi muito interessante para a cinematografia latino-americana. Os principais países produtores da região, Brasil, Argentina e México, tiveram nos anos 90 um renascimento de suas produções, mas só em princípios do século XXI conseguiram expandir a quantidade de trabalhos realizados. Isso ocorreu, entre outros motivos, por causa da disseminação dos equipamentos digitais de captação e edição.

Hoje em dia, cada um desses três países produz entre 120 e 140 longas-metragens por ano. Ao lado disso, outras cinematografias que não tinham essa tradição conseguiram ocupar espaço no mapa internacional. Chile e Colômbia, que tinham produções esporádicas, obtiveram grande espaço em festivais importantes, e Costa Rica, Venezuela e Equador também produziram títulos que tiveram ressonância planetária.

Esse momento feliz tem sido acompanhado de perto pelo Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. Sempre achamos que era importante mapear as produções de toda a região, e não ficarmos restritos apenas aos grandes centros. Hoje vemos que a produção em muitos desses países deixou de ser algo incipiente, como ocorria há dez anos.

 

CF: Nesses dez anos, o espaço para filmes latino-americanos no circuito comercial brasileiro foi alterado significativamente?

FCF: Neste ponto há duas linhas antagônicas. O interesse do publico cinéfilo aumentou, sem dúvidas. Hoje o cinema argentino e outras cinematografias  da região despertam um interesse muito maior aqui do que há dez ou quinze anos. Por outro lado, as salas do circuito comercial se especializam cada vez mais no cinema de grande espetáculo, muitos deles baseados em HQs ou romances juvenis, seguindo uma tendência que já vem desde os anos 80.

Em comparação com Argentina e México, o Brasil sofre mais com isso por ter um número limitado de salas – em relação à população de cada país, a Argentina tem o dobro de salas e o México, o triplo em relação a nós, o que diminui a chance de filmes latinos, europeus ou da produção independente americana chegarem às salas, assim como acontece com nossa produção autoral.

A tendência é que as salas de cinema sirvam cada vez menos para a exibição de cinema autoral/cultural. O Festival Latino discute há tempos a importância das plataformas digitais para a circulação dos filmes, e o tema estará presente em duas mesas do seminário internacional que promovemos nesta edição.

As plataformas digitais são espaços em que o cinéfilo pode ter acesso a cinematografias que estão excluídas das salas de shopping. A Argentina já criou uma plataforma exclusiva para exibição de seus filmes, o México está desenvolvendo algo parecido, e esperamos que o Brasil siga este caminho rumo à diversificação.

 

Programe-se para assistir aos destaques do 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

– A Misteriosa Morte de Pérola, de Guto Parente: dia 30/7, às 19h20, no CineSesc

– As Fábulas Negras, de Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Joel Caetano e Peter Baierstorf: dia 01/8, às 17h, no Memorial da América Latina

– Condado Macabro, de Marcos DeBrito e André de Campos Mello: dia 01/8, às 21h, no Memorial da América Latina

– Mar, de Dominga Sotomayor: dia 03/8, às 19h20, no CineSesc e 04/8, às 19h, no Cinusp Paulo Emílio

– As Insoladas, de Gustavo Taretto: dia 03/8, às 21h30, no CineSesc

– Natureza Morta, de Gabriel Grieco: dia 04/8, às 19h20, no CineSesc

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