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Festival Cinerama.BC começa com homenagem ao argentino Carlos Sorín

30/05/15 às 12:14 Atualizado em 31/05/15 as 16:34
Festival Cinerama.BC começa com homenagem ao argentino Carlos Sorín

Na noite desta sexta-feira (29) foi dado o pontapé inicial para a quinta edição do Cinerama.BC – Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú. Em cerimônia realizada no teatro municipal da cidade catarinense, o principal homenageado foi o diretor argentino Carlos Sorín. Presente ao evento, que exibiu o seu último filme, Filha Distante, Sorín participou de um bate-papo com o público após a sessão.

Até o dia 4 de junho, o festival vai receber diariamente diversas sessões de filmes e também será palco para palestras sobre audiovisual e para um encontro de coprodução internacional entre Brasil e Argentina. A mostra principal conta com sete longas e sete curtas-metragens em competição, todos eles realizando première no Brasil.

Dois júris analisarão os filmes de cada formato (um para longas e outro para curtas) e irão conceder o troféu Coruja de Ouro ao final do evento. O público e a crítica especializada também vão eleger os seus favoritos.

 

Início sensível

Ao apresentar o seu filme Filha Distante para o público do Cinerama.BC, Carlos Sorín ressaltou que o importante no trabalho não são as palavras dos seus personagens, mas aquilo que não é dito por eles. De fato, embora os diálogos sejam fluidos, há no longa-metragem uma valorização das entrelinhas e dos simbolismos.

A história é simples: um homem já com seus 50 anos vai à Patagônia à procura da filha, que não vê há muitos anos. Apesar da existência de um pequeno percalço na tentativa de reencontrá-la, a grande questão do filme não é a busca, mas a dificuldade que virá depois que os familiares se reúnem novamente.

A relação entre pai e filha surge como metáfora na insistência do protagonista em tentar pescar tubarões. Um personagem diz que, se for agarrado muito forte pelo rabo, o animal pode se retorcer e morder a mão do pescador. Pensando no universo do filme, o recado passado é que o protagonista, que tenta pescar/reconquistar sua filha, não pode fazê-lo de modo bruto, pois se não terá que arcar com uma reação contrária igualmente forte, fruto de um passado que se supõe difícil.

Sem entregar todas as informações ao espectador, o roteiro deixa que a história seja reconstituída em nossas cabeças aos poucos. Um exemplo: a fala do protagonista logo no início do filme sobre seus problemas passados com o alcoolismo ganha um significado muito maior depois da cena do desabafo da filha, quando conseguimos traçar uma relação entre a ida/fuga dela para a Patagônia e a relação conturbada com o pai.

Outro momento no qual múltiplos significados vêm à tona está na cena em que, após reencontrar a filha, o pai canta uma música italiana que remete ambos ao passado, quando a família não havia sido desfeita. Enquanto fica nítida a alegria do protagonista ao relembrar aqueles tempos, a escolha de Sorín por realizar um longo plano em close da filha mostra, apenas naquele olhar, toda a mágoa e o ressentimento que ela carrega pelo abandono do pai.

Pode-se dizer que Filha Distante é, sobretudo, um filme sobre a espera. Desde a primeira cena, quando o protagonista precisa ficar em um posto de combustíveis graças ao atraso do carregamento de gasolina, é este o tema que prevalece em várias situações: o pai espera um dia para anunciar a busca por sua filha na rádio, e depois tem que aguardar para poder realizar a pesca de tubarões; o técnico de boxe espera pela próxima luta de sua pupila; a atendente grávida espera por uma criança; e até mesmo a filha espera um dia para entender os seus sentimentos e desabafar com o pai pela sua ausência.

Fechando um ciclo com a cena inicial, o plano final mostra um homem para quem a espera deixou de ser uma tormenta e passou a ser um dos motivos para ele continuar a viver.

 

*O repórter está hospedado em Balneário Camboriú a convite da organização do 5º Cinerama.BC

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