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Encontro de gerações expõe busca autoral de Leandra Leal e Helena Ignez

21/01/17 às 16:15 Atualizado em 21/01/17 as 18:13
Encontro de gerações expõe busca autoral de Leandra Leal e Helena Ignez

Ocorrida na noite desta sexta (20), a cerimônia de abertura da 20ª Mostra de Tiradentes foi marcada por um forte tom político. Vídeos sobre alguns acontecimentos públicos do Brasil nas duas últimas décadas provocaram manifestações positivas em prol dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. As lutas ligadas aos movimentos feminista e LGBT também receberam destaque e antecederam a entrega do troféu Barroco às homenageadas desta edição: as atrizes Leandra Leal e Helena Ignez.

Completando 20 anos da sua primeira aparição na tela grande, como protagonista de A Ostra e o Vento, dirigido por Walter Lima Jr., Leandra apresentou na cidade mineira o seu primeiro filme como diretora. O documentário Divinas Divas retrata oito ícones da primeira geração de artistas travestis no Brasil dos anos 1960. Há no filme a colocação de um ponto de vista pessoal, uma vez que o teatro que abrigou o show das divas naquela época e também recentemente pertence à família da cineasta.

“Filmamos 400 horas de material, sendo que o processo de montagem durou dois anos e meio. Quando começamos a montar o filme, fiz um exercício de tentar me tirar totalmente do corte final, mas depois fui entendendo que isso não era possível, já que nossa ligação era muito forte e havia muitos momentos em que elas se referiam diretamente a mim. Depois fiz um exercício contrário, de tentar me colocar mais no filme, e acabamos chegando nesse resultado. As inserções de minhas falas em off foram feitas bem no final, achei que deveria abrir esse espaço”, contou Leandra neste sábado, em entrevista coletiva em Tiradentes.

Depois da primeira experiência atrás das câmeras, a atriz não descarta uma nova empreitada na direção. Em Divinas Divas já há uma preocupação com relação ao processo de criação de atrizes, algo que poderia se repetir caso venha a dirigir um filme de ficção em algum momento.

“Eu adoro ensaiar, gosto de chegar no set com muito domínio sobre o que vamos fazer no filme, e ao mesmo tempo com o coração aberto a novos acontecimentos que venham a acontecer durante as filmagens. Se eu fosse dirigir um filme de ficção, acho que a coisa que mais gostaria de fazer é trabalhar com atores. Certamente seria um filme de ator”, palpita.

 

Legado

Outra homenageada do evento, Helena Ignez escreveu seu nome na história do cinema brasileiro a partir das décadas de 60 e 70, em trabalhos como O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, A Mulher de Todos e Copacabana Mon Amour, ambos de Rogério Sganzerla. Dona de um estilo de atuação que o curador Pedro Maciel Guimarães definiu como único para a época, Helena já desempenhava papel autoral em suas parcerias com diretores, e nos últimos dez anos passou ao posto de diretora em filmes como Canção de Baal, Luz Nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha e Ralé.

Para o crítico Ruy Gardnier, que participou da mesa de debate sobre a trajetória das atrizes homenageadas, os métodos de atuação de Leandra Leal e Helena Ignez são bem distintos, mas há uma aproximação entre as duas no que se refere aos seus trabalhos como diretoras, principalmente pelo modo como lidam com uma ideia de legado artístico.

A 20ª Mostra de Tiradentes começou marcada por discussões sobre o lugar que a mulher ocupa hoje na sociedade e no audiovisual no País. Embora 41% dos filmes selecionados sejam dirigidos ou codirigidos por mulheres, o que é considerada uma marca expressiva, o percentual de mulheres cineastas dentro dos inscritos diminuiu para cerca de 20%.

Leandra Leal lembrou na mesa de debate que o número de papéis de protagonismo que realizou em filmes brasileiros ainda é muito menor, por exemplo, do que o de alguns diretores da mesma geração. A atriz ainda disse que se deu conta há pouco tempo que jamais trabalhou em um longa-metragem dirigido por uma mulher.

Para Helena Ignez, embora as discussões mereçam ser aprofundadas, não se pode perder de vista os espaços obtidos pelas mulheres nas últimas cinco décadas. “Não só no cinema, mas na sociedade em geral, houve uma imensa evolução. Tivemos também que nos reeducar, pois havia uma geração de mulheres machistas. Hoje em dia eu vejo que está presente uma geração de mulheres conscientes, e que isso se dá não mais individualmente, mas em grupo. Houve um rompimento simbólico; a situação é infinitamente melhor hoje”, opinou.

 

*O repórter viajou a convite da 20ª Mostra de Tiradentes

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