Nos municípios cearenses cortados pelo Rio Jaguaribe, uma corrente de ar bem peculiar percorre mais de 300 quilômetros, do litoral até o interior. É o chamado vento Aracati, fenômeno que chamou a atenção das diretoras Aline Portugal e Julia de Simone. Depois de seis anos de idas e vindas pela região, elas já realizaram três filmes influenciadas pelo local: os já lançados curtas-metragens Estudo para o Vento (2011) e Vento Aracati (2014), e o ainda inédito Aracati, que fará sua estreia mundial na competição de médias-metragens do tradicional Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, na Holanda.
Em um primeiro momento, a ideia das cineastas era fazer um filme sobre o vento. A experiência trazida pelas idas ao Vale do Jaguaribe, contudo, fez com que elas percebesse que as paisagens estavam se transformando de forma acelerada, assim como os modos de vida e o senso de temporalidade na região. Daí veio a noção de que o vento, mais do que um tema, era uma força motriz que sopraria essa jornada pela região, algo que denominam de Wind Movie (filme de vento).
O documentário lança o espectador em uma jornada pelo Vale e através de seus personagens, construindo um fluxo de sensações e pequenas percepções. É sobre homem, natureza e tecnologia competindo pelo mesmo espaço, onde diversas forças coexistem. Cada personagem traz uma diferente perspectiva dos espaços em transformação e conduz o espectador por entre essas paisagens locais.
“O mais interessante de estrear em Amsterdã é a possibilidade de abrir portas para o filme circular. A distribuição de documentários, principalmente no Brasil, é super restrita, ainda mais para um filme como o Aracati, que não trabalha em uma chave narrativa tradicional, nem com grandes temas. Mas acreditamos também que essa é só uma parte dos modos de circulação do filme. Tanto como nos interessa exibi-lo em um dos maiores festivais de documentários do mundo, também nos instiga circular com o Aracati nas cidades do interior do Ceará em que filmamos. Às vezes os melhores retornos sobre o filme vem de sessões como essas, então ao mesmo tempo em que o Festival de Amsterdã é uma legitimação importante no meio cinematográfico, isso é também algo relativo”, opina Aline Portugal.
O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, que acontece de 18 a 29 de novembro de 2015, também vai exibir o longa-metragem Jonas e o Circo Sem Lona, na competitiva de primeiros filmes. Para mais informações sobre o evento, acesse o seu site oficial.
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