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Estada na França inspirou casal a realizar terror psicológico

30/07/15 às 16:00 Atualizado em 20/11/19 as 15:14
Estada na França inspirou casal a realizar terror psicológico

Surgido de um núcleo pequeno, constituído apenas pelos cineastas Guto Parente e Ticiana Augusto Lima, casal que atuou e realizou todas as funções criativas durante a produção do filme, o terror psicológico A Misteriosa Morte de Pérola ganhou o mundo e acumulou, desde o segundo semestre de 2014, passagens por vários festivais nacionais (Janela Internacional de Cinema do Recife, Olhar de Cinema de Curitiba) e internacionais (Festival de Roterdã). A nova exibição será no 10º Festival Latino de São Paulo, no qual ele terá companhia de outros exemplares do gênero na programação e será exibido nesta quinta-feira, dia 30 de julho, às 19h20, no CineSesc.

O filme foi realizado na cidade francesa de Chalon-sur-Saône, onde Guto e Ticiana fizeram mestrado. Passado quase todo dentro do apartamento em que eles moraram no país europeu, o longa-metragem aproveita a sensação de solidão provocada pela saída do Brasil para contar a história de uma estudante de artes (Ticiana) que se muda para a França e lentamente perde-se em nostalgia e medo, fundindo sonhos, fantasia e realidade. Na segunda parte, seu namorado (Guto) aparece para averiguar as circunstâncias da morte já anunciada pelo título.

Em conversa com o Cine Festivais, Guto Parente e Ticiana Augusto Lima falaram sobre o processo de criação de A Misteriosa Morte de Pérola e comentaram a respeito de outras questões levantadas pelo trabalho.

 

Cine Festivais: De onde veio a vontade de realizar um filme de terror psicológico?

Guto Parente: Há algum tempo eu venho tentando pensar em como trazer alguns códigos de cinema de gênero para os meus filmes, deslocando convenções de uma matriz mais comercial para um tipo de cinema mais independente/autoral. Eu via muitos filmes de terror/suspense na minha formação como cinéfilo, principalmente na adolescência, e sempre pensei em fazer algum dia um filme que fosse nesse caminho.

Quando Ticiana e eu nos mudamos para a França, onde fizemos mestrado em uma pequena cidade chamada Chalon-sur-Saône, nós alugamos este apartamento que veio a ser o cenário do filme. Foi nossa primeira experiência morando em um prédio antigo, já que em Fortaleza há uma renovação arquitetônica muito grande e não há um número expressivo de edifícios antigos. Nesta mudança, sentimos a história, os fantasmas daquele lugar, e a partir do nosso cotidiano eu comecei a escrever esse roteiro pensando numa história simples, que pudesse se passar quase toda no apartamento.

 

CF: Como foi o processo de produção e a divisão das tarefas?

GP: A própria ideia do filme já contemplava essa limitação de que, durante a produção do filme, a equipe seria formada apenas por nós dois. Foi um processo relativamente longo, misturamos muito nosso cotidiano e a vida pessoal com a realização do filme. Por isso entendemos que seria importante ter uma divisão mais tradicional das funções (diretor, fotógrafo, diretora de arte, etc.). Até pensamos em não colocar essas divisões nos créditos do filme, mas depois entendemos que isso foi importante para o processo todo.

Ticiana Augusto Lima: Isso também é um modo de questionar esse lugar da autoria. A primeira cartela que aparece na tela diz que se trata de “um filme de Guto Parente e Ticiana Augusto Lima”, e tem muita gente que fica confusa depois porque aparece o crédito do Guto como diretor. Isso não significa que o filme não seja de nós dois, já que a produção também pensa todo o processo criativo. Houve momentos em A Misteriosa Morte de Pérola em que o Guto foi produtor, outros em que eu fui diretora, então essa ideia de autoria é muito relativa…

 

CF: Por que vocês optaram por atribuir poucos diálogos aos personagens? Como enfrentaram o desafio de atuar no filme?

GP: Eu tinha vontade de construir atmosferas e climas a partir de um desenho de som que contemplasse silêncios e pequenos sons.  A voz nunca foi um elemento de importância nessa construção, a não ser em poucos momentos, como quando a Pérola assiste TV ou fala ao telefone.

Como o filme é sobre solidão e isolamento, com os personagens sozinhos nas duas partes, foi muito natural não pensar em construções de diálogo. Poderia existir uma voz off, mas isso não nos interessava esteticamente, pois tiraria força do mistério desse lugar e da personagem.

Sobre a atuação, os papéis se aproximavam de alguma forma da nossa vida lá na França. Mesmo estando juntos na França, sentíamos um pouco desse sentimento de solidão, então conseguimos puxar disso um pouco das características dos personagens.

TAL: Tem esse fator de identificação mesmo, mas a gente construiu os personagens também. Como diretora de arte, não queria que a nossa imagem pessoal fosse a mesma dos personagens. No meu caso, pesquisei como poderia ser a roupa da Pérola, vi referências de filmes de terror para escolher esse cabelo curto, mudei a cor do cabelo, tudo isso para conseguir abrir uma porta de entrada para a personagem.

 

CF: A imagem VHS vem sendo utilizada ultimamente em muitos filmes de terror, como o brasileiro Quando Eu Era Vivo ou mesmo a franquia norte-americana Atividade Paranormal. Por que o VHS se encaixa tão bem nesse gênero e tem papel importante em A Misteriosa Morte de Pérola?

GP: Não havia nenhuma referência muito direta de outros filmes. Eu acho que a imagem do VHS é muito datada e nostálgica e ocupa para nossa geração o mesmo lugar que o Super-8 representava para a geração anterior: do vídeo caseiro, de pais filmando filhos em casa, festas de aniversário.

Me parece que o VHS é utilizado em filmes de terror por ser ideal para filmar fantasmas. Tem alguma coisa na textura, nos ruídos, nas oscilações do VHS, que é muito fantasmagórica. Por isso, quando a gente pensou nesse personagem que vai em busca de reconstituir a existência da Pérola nesse apartamento, a ideia do VHS veio junta, não tinha outra opção. Outro motivo para isso é que o filme não tem localização temporal específica: a personagem não tem Facebook ou Whatsapp, e a própria arte do filme é meios anos 80/90.

 

CF: A Misteriosa Morte de Pérola vai ser exibido no circuito comercial brasileiro?

GP: Provavelmente vamos fazer uma distribuição independente através da Alumbramento, não sabemos se ainda neste ano ou no primeiro semestre do ano que vem. A ideia é tentar entrar em ao menos três cidades e depois ver o caminho que o filme vai seguir. Estamos pensando em fazer uma distribuição conjunta do filme com outros dois trabalhos: O Animal Sonhado, da Tardo Filmes, e Com os Punhos Cerrados, da Alumbramento.

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