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Diretor do In-Edit aponta destaques do festival e prepara lançamento de TV

28/04/14 às 16:31 Atualizado em 21/10/19 as 23:31
Diretor do In-Edit aponta destaques do festival e prepara lançamento de TV

Criado em Barcelona, na Espanha, em 2002, o festival de documentários musicais In-Edit se expandiu pelo mundo e ganhou edições em diversos países. O evento é organizado anualmente no Brasil desde 2009, e terá a sua sexta edição entre os dias 1º e 11 de maio em seis salas da cidade de São Paulo. Posteriormente, de 12 a 18 de maio, haverá uma edição em Salvador.

Diretor do festival desde o seu início, Marcelo Andrade conversou com o Cine Festivais a respeito da programação deste ano, destacou alguns filmes em meio às 60 obras que serão exibidas e comentou as dificuldades de planejamento que o evento enfrenta anualmente.

Andrade também explicou como estão os preparativos para o lançamento da In-Edit TV no Brasil, plataforma de VOD (video on demand) que deve chegar ao país até outubro, oferecendo ao público uma seleção de documentários que passaram pelo circuito de festivais.

Leia a seguir a entrevista completa. 

 

Cine Festivais: Quais são os destaques do festival deste ano e os filmes que você tem mais apreço?

Marcelo Andrade: Um grande destaque é a vinda do Frank Scheffer ao Brasil pela primeira vez. É um diretor que tem um trabalho muito autoral e que costuma retratar músicos de vanguarda, sejam eles dos séculos XIX, XX ou XXI. Ele fez filmes sobre Gustav Mahler, Edgar Varèse e Frank Zappa, entre outros, e traz para o In-Edit um trabalho interessante em relação à linguagem cinematográfica e à seleção de músicos diferenciados.

Alguns filmes foram difíceis para trazer, como o Twenty Feet From Stardom, que venceu o Oscar deste ano e já estava “querendo” chegar ao circuito comercial; o Muscle Shoals (foto acima), com o qual tivemos uma comunicação difícil com a distribuidora americana; e o Finding Fela, que chegou recentemente ao circuito dos festivais.

Eu destaco muito o Mistaken from Strangers, que tem uma linguagem cinematográfica muito peculiar e uma história surpreendente e engraçadíssima. Também chamaria a atenção para filmes pouco midiáticos em um primeiro olhar, como o Teenage, que conta como se deu o surgimento do conceito de adolescência a partir da revolução industrial e como isso resultou no nascimento de um mercado jovem fundamental para a cultura pop surgida no século XX.

 

CF: O festival vai exibir filmes sobre o Napster e o Pirate Bay, dois marcos na era da Internet. Por que foi feita essa escolha?  

MA: O filme sobre o Pirate Bay não é novo, já tem cerca de um ano e meio, e foi feito para denunciar as acusações que eles estavam sofrendo. Quando apareceu esse longa sobre o Napster, com uma história tão bem contada, eu achei que eles formariam um belo casal, por ter histórias muito parecidas. Tanto o Napster quanto o Pirate Bay mudaram a relação do consumidor de música e cinema, colocando em xeque tanto a indústria quanto o próprio usuário. Por isso decidimos que os filmes deveriam ser exibidos juntos.

 

CF: O que é e qual é a previsão de estreia da In-Edit TV no Brasil?

MA: A previsão é de que ela seja lançada até o começo do In-Edit Barcelona, antes da última semana de outubro. Para nós o VOD (video on demand) é fundamental. Primeiramente porque ele passa a ser uma janela a mais de exibição de documentários musicais. Além disso, queremos oferecer um serviço de boa qualidade, com um preço camarada, no qual o dinheiro vá direto para o distribuidor e o espectador possa aproveitar o olhar curatorial do In-Edit para escolher o documentário que vai ver.

É claro que os fãs de determinadas bandas vão escolher os filmes que tratem sobre elas, mas quem está procurando por histórias bem contadas poderá aproveitar a seleção do In-Edit. A gente já provou que não seleciona filme por nome do artista ou por gênero musical. Selecionamos aqueles que são legais ou que têm alguma relevância, seja ela cinematográfica, musical ou histórica.

 

CF: O serviço vai funcionar como o Netflix?

MA: Não exatamente. O pagamento não será mensal como no Netflix, no qual você tem uma diversidade muito grande de programação. Na Espanha a In-Edit TV funciona pela compra de determinada quantidade de filmes ou de maneira avulsa. Aqui no Brasil eu quero implantar uma nova fórmula, que não vou revelar ainda por não saber se ela é viável. Mas a ideia é que, se não sair de graça para o espectador, tenha um preço justo.

 

CF: Como funciona o processo de seleção e quantos filmes vocês analisaram? 

MA: Existe um departamento artístico em Barcelona que circula pelos festivais e compra determinados filmes. Eles separam o joio do trigo e cada país faz a sua curadoria a partir dessa “limpa” feita por eles. Aqui no Brasil nós vimos cerca de 300 filmes para chegar à nossa seleção final.

 

CF: Quando a gente pensa em documentários musicais, a visão mais antiga é de que são filmes em grande parte biográficos, com um formato mais tradicional de entrevistas. Você concorda que isso vem mudando nos últimos anos, com filmes que propõem outros tipos de linguagem cinematográfica?

MA: O que eu acho que acontece é que acaba virando uma coisa muito visível quando você usa o termo “documentários musicais” e coloca todos eles juntos em um festival. Antigamente havia um documentário musical aqui, outro ali, e agora eles estão sendo reunidos e analisados como um todo. Além do In-Edit, o próprio IDFA, festival de documentários mais importante do mundo, começou a fazer uma sessão só para filmes desse tipo. Tudo isso colabora para que esse tipo de linguagem seja aprimorada.

 

CF: Como você avalia a evolução do festival ao longo destas seis edições em relação à organização e ao público? 

MA: A gente começou (a organizar o festival) quase de susto. Tive um monte de problemas no primeiro ano, tinha outro sócio que depois acabou saindo. Acho que tudo é uma questão de organização e experiência. Se você olha para trás, o In-Edit deste ano é muito parecido com a primeira edição, em 2009. O que mudou é que antes a gente não tinha orçamento e agora tem (risos).

Hoje, em termos de produção, estamos mais atrasados do que nunca, porque o dinheiro chegou muito tarde. Vivemos em um país em que a área cultural vive de incentivos fiscais através de programas como o Proac. Para um festival que vai inaugurar no dia 1º de maio, você fica sabendo quanto dinheiro vai receber no dia 20 de março, então fica inviável fazer um planejamento. Eu acredito piamente que, no dia em que a gente conseguir uma grana antes para poder fazer planejamento, vamos fazer um festival surpreendente.

 

CF: Fizemos recentemente uma entrevista com a organizadora da Mostra de Tiradentes, que pediu uma legislação específica para festivais que ocorram regularmente. Como você enxerga essa questão de verbas para festivais e quais mudanças melhorariam essa situação? 

MA: Se a organizadora de Tiradentes está falando isso, eu fico muito preocupado. O In-Edit Brasil é um festival pequeno e novo. Eu entendo a existência dessa indústria cultural, de certa maneira, dependente do poder publico, mas o que aconteceria se algum iluminado chegar ao poder e disser que isso não existe mais? Imagino que provocaria algo semelhante ao ocorrido no governo Collor: ninguém vai queimar um fotograma no país. Tenho receio disso.

Por outro lado, eu considero o Brasil um país vanguardista nessa história. Quando conto como é o nosso sistema lá fora, as pessoas abrem uns olhos gigantes, dizem que isso viabilizaria muitos projetos em outros países.

No nosso caso (do In-Edit Brasil) eu considero um problema de planejamento. A gente não consegue um dinheiro mínimo inicial para poder se planejar, e isso acaba tendo um efeito dominó em termos de produção do festival. Tenho certeza que uma mudança nesse aspecto poderia beneficiar eventos parecidos com o nosso, com uma verba menor.

 

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